Tratamento de primeira linha contra o diabetes tipo 2, a metformina é um medicamento amplamente utilizado para o controle da glicemia.
“É uma droga muito segura, utilizada para esse propósito há mais de 60 anos”, afirma o endocrinologista Rodrigo Nunes Lamounier, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Suas propriedades são conhecidas desde a Idade Média, quando a arruda-caprária (Galega officinalis) era utilizada para tratar o excesso de micção característico do diabetes. A planta é rica em guanidinas, que, como descobriu-se em 1918, são substâncias capazes de baixar o açúcar no sangue.
+ Leia também: 100 anos da metformina: um remédio antigo, bom e barato para o diabetes
A metformina é um derivado da guanidina e, ao longo do século 20, passou a receber cada vez mais atenção dos cientistas por ter um perfil seguro ao consumo humano. Em 1957, depois de ser pesquisada para o tratamento da malária e da gripe, foi usada pela primeira vez no controle do diabetes pelo médico francês Jean Sterne.
Desde então, o medicamento mostrou ser a melhor opção para boa parte dos casos de diabetes tipo 2 e é até capaz de complementar os cuidados com a diabetes tipo 1, prevenindo complicações da resistência à insulina.
“Além disso, é um medicamento barato [que custa, em média, R$ 5] e está disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e na Farmácia Popular“, informa Lamounier, também professor de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A seguir, entenda como a metformina age, quais são suas indicações e quando deve ser evitada.
O que é a metformina e como ela age
A metformina é um medicamento antidiabético, amplamente utilizado no tratamento e na prevenção do diabetes tipo 2 e no manejo do diabetes tipo.
“A metformina é um medicamento que age melhorando a ação da insulina, hormônio central no controle da glicose”, explica o endocrinologista. “Ela diminui a resistência a esse hormônio em tecidos musculares, adiposos [de gordura] e no fígado, otimizando o uso da glicose pelo nosso corpo e reduzindo seu acúmulo na corrente sanguínea.”
+ Leia também: Calor intenso e hipoglicemia: pessoas com diabetes devem ficar de olho!
Um artigo publicado em janeiro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou, ainda, que a ação do medicamento pode começar no intestino.
Segundo o estudo, a metformina é capaz de ativar e regular proteínas que retiram a glicose da corrente sanguínea e transportam para células dos intestinos delgado e grosso. Lá o açúcar é metabolizado e transformado em moléculas menores que, então, são enviadas para o fígado. Esse órgão tem um importante papel na regulação da glicose no organismo.
“A metformina é o medicamento mais prescrito para diabetes mellitus 2, mas seu local e mecanismo de ação ainda não estão bem estabelecidos”, escreveram os cientistas. Em outras palavras, ainda há muito a se descobrir sobre como a droga age em nosso benefício.
Para que serve
A principal função da metformina é atuar como um antidiabético. Ela pode fazer parte do tratamento do diabetes tipo 2, sendo associado ou não a outros medicamentos orais para a condição (como as sulfonilureias), e também pode complementar o tratamento do diabetes tipo 1, que é à base de insulinoterapia.
Além de tratar casos já diagnosticados, o medicamento também pode ajudar a prevenir o descontrole da glicose. A indicação preventiva pode ser feita a pacientes pré-diabéticos com sobrepeso e ao menos um fator de risco adicional (como hipertensão arterial, colesterol alto, idade acima dos 40 anos, ter histórico de diabetes na família ou na gestação).
A primeira tática de prevenção, no entanto, é sempre a mudança de hábitos: é preciso alimentar-se adequadamente e fazer atividade física. Quando esses hábitos já estão em prática e, mesmo assim, o controle do índice glicêmico ainda é um desafio, seu médico pode cogitar a indicação de metformina.
O medicamento também é indicado para o tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), que é uma alteração metabólica que pode estar relacionada à resistência à insulina.
A droga pode ser receitada para pacientes acima dos 10 anos.
+ Leia também: Ozempic falsificado: o fim da picada
Formas de administração
Vendido na forma de cloridrato de metformina, são comprimidos que devem ser consumidos de forma oral, obedecendo a dose estabelecida pelo médico.
Segundo orientação da bula, caso o indivíduo esqueça de tomar alguma dose, não se deve ingerir em dobro para compensar. “Tome a dose seguinte na hora habitual”, orienta o documento.
Efeitos adversos
A metformina costuma ser bem tolerada, mas, como todo medicamento, pode causar efeitos colaterais em alguns indivíduos. Os mais comuns são sintomas digestivos, como náusea, vômito, diarreia, dor na barriga, perda de apetite. “Ao tomá-lo após as refeições, é possível minimizar esses efeitos”, recomenda Lamounier.
Também é possível, mas menos comum, sofrer alterações no paladar ou desenvolver deficiência de vitamina B12.
Reações muito raras, que atingem menos de 0,01% dos pacientes, incluem alterações na pele (como vermelhidão, coceira e urticária), alterações hepáticas e acidose láctica (acúmulo de ácido lático no sangue).
+ Leia também: Tirzepatida: petardo para controlar a glicemia e o peso
Contraindicações
A metformina é um medicamento seguro e bem conhecido clinicamente, porém, seu uso deve ser evitado em alguns casos. Os principais são em caso de alergia ao composto e mediante diagnóstico de doença renal crônica ou insuficiência hepática.
Em algumas situações, como na preparação para uma cirurgia eletiva ou realização de exame de imagem com contraste, a suspensão do medicamento pode ser necessária por alguns dias. As orientações devem ser dadas pelo médico que acompanha o caso.
O medicamento também não combina com o consumo excessivo de álcool. Demais restrições podem ser consultadas na bula.
Uso na gravidez e amamentação
Apesar de não ser formalmente indicado (vide a bula), o uso de metformina durante a gestação e o aleitamento têm sido considerado seguro, de acordo com diversos estudos.
“Há discussões, mas, eventualmente, pode ser usado no controle do diabetes gestacional e entre grávidas diabéticas”, afirma o endocrinologista. “Pesquisas também apontam que a quantidade do medicamento excretada na amamentação é desprezível, portanto, não afeta os níveis de glicose do bebê.”
Seu uso deve ser orientado por um médico.
Utilização inadequada
Uma dúvida comum sobre este medicamento é se ele ajuda a emagrecer. Quando utilizado para o tratamento do diabetes, a metformina melhora a ação da insulina, diminuindo os níveis de glicose no sangue e também o acúmulo de gordura. Portanto, a formulação pode ser uma aliada na perda de peso entre pessoas diabéticas.
No entanto, não há comprovação de que o mesmo ocorra em quem não tenha a condição nem resistência à insulina. Não utilize este ou qualquer outro medicamento sem indicação ou recomendação médica.
+Leia também: Metformina emagrece?
Bula da metformina
Antes de utilizar qualquer medicação, é recomendável a leitura da bula.
O documento reúne informações sobre modo de usar, posologia, armazenamento, possíveis efeitos colaterais e contraindicações.
Acesse a bula da metformina disponibilizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aqui.