Já ouviu falar em autocuidado? Pois bem: David Webber é presidente da Fundação Internacional de Autocuidado, instituição registrada no Reino Unido que desenvolve pesquisas sobre estilo de vida saudável ao redor do mundo. SAÚDE entrevistou o médico para que ele explique como funciona essa onda – e como os profissionais da área lidarão com o conceito no futuro.
O que é o conceito do autocuidado?
Eu tenho uma dificuldade de definir em palavras, mas diria que ele está ancorado em sete pilares: conhecimento e informação, bem-estar mental, atividade física, dieta equilibrada, evitar comportamentos arriscados, boa higiene e uso racional de produtos e serviços médicos. Atuar sobre todos esses itens é cuidar da própria saúde.
Você acredita que nós delegamos muito essas questões para os médicos?
Há uma grande tentação de se confiar somente no sistema de saúde. E esse é um problema que o mundo inteiro enfrenta. Em questões como parar de fumar, emagrecer e começar a fazer um exercício, os médicos pouco podem fazer por nós. Essas mudanças dependem mais da ação do próprio indivíduo. Por isso, acredito que temos que mudar o pensamento e entender que há um grande ganho em termos de qualidade de vida se tomarmos algumas atitudes por nós mesmos.
Há algum lugar do mundo em que o autocuidado já funciona?
Na China, por exemplo, esse tópico é encarado de uma maneira diferente. Isso ocorre porque eles têm uma visão mais holística sobre a vida. Outro ponto a se considerar é o fato de, no passado, não existir naquele país um sistema de saúde adequado. Ou seja, se os cidadãos não se cuidassem, não havia quem fizesse isso por eles. É óbvio que ter um sistema de saúde estruturado é bom, mas não podemos criar total dependência dele.
E quais os benefícios que uma abordagem de autocuidado pode trazer?
É um jogo de ganha-ganha para vários setores de nossa sociedade. As pessoas vivem melhor e mais sadias. As empresas aproveitam, porque terão funcionários produtivos. O governo, por sua vez, arrecada impostos e consegue reverter isso em vantagens para todos. Profissionais como os farmacêuticos deixam de ser vendedores de medicamentos para se tornarem verdadeiros agentes de saúde.
E qual será o papel dos médicos num futuro baseado no autocuidado?
A natureza do trabalho deles vai mudar bastante. Não podemos seguir com o modelo atual, em que os orçamentos destinados a esse setor só crescem. É insustentável! Estamos carentes de promotores de saúde: em vez de ser expert numa doença específica, o médico vai virar o facilitador do autocuidado. E, mesmo se prevenirmos 80% das condições crônicas, ainda restarão 20% dos casos que necessitarão de uma atenção especial. Será possível então trabalhar melhor nessas situações e dar ao paciente todo o suporte do qual ele carece.