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Sociedades médicas voltam a destacar riscos do chip da beleza

Em documento à Anvisa, instituições cobram medidas para coibir o uso de implantes hormonais para fins estéticos. Entenda o caso e o que é o chip da beleza

Por Lucas Rocha
Atualizado em 5 jan 2024, 12h56 - Publicado em 4 jan 2024, 18h00
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  • O chamado chip da beleza, um implante hormonal usado para fins estéticos, voltou ao centro das atenções. Dessa vez, por causa de um conjunto de instituições médicas que elaborou, no fim do ano passado, um documento enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cobrando um reforço no controle de produtos hormonais e nas medidas de regulamentação da manipulação desses produtos.

    O parecer é assinado por especialistas da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), além das sociedades de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), de Diabetes (SBD), de Urologia (SBU) e de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

    VEJA SAÚDE consultou a Anvisa sobre o posicionamento diante do documento. Em nota, a agência respondeu que adota medidas constantes para mitigar os riscos relativos ao uso de medicamentos e, em especial, situações de abuso que possam representar risco à saúde.

    Sobre a manipulação de medicamentos, a Anvisa afirmou que trata-se de uma alternativa para eventuais casos de falta de medicamentos industrializados no mercado e uma solução para situações em que são necessárias doses individualizadas para os pacientes.

    “Entretanto, existe uma grande preocupação com o uso indiscriminado de substâncias em concentrações e formas farmacêuticas que não foram devidamente estudas e sem as devidas comprovações de eficácia, qualidade e, acima de tudo, segurança. Por isso, a Anvisa iniciou processo de regulação que trata do tema de farmácias de manipulação e das regras para importação e uso de substâncias que por ventura não têm mais registro, ou que estiverem sendo utilizadas para fins diversos daqueles aprovados em registro”, diz a nota da agência.

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    A Anvisa destacou, ainda que monitora os importadores e farmácias de manipulação em programas de inspeção.

    As sociedades médicas enfatizam que não existe dose segura de hormônios para procedimentos estéticos ou de melhoria de performance física.

    Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia vetado a prescrição médica de terapia hormonal e anabolizantes com esses objetivos, em pacientes sem deficiência comprovada de hormônios.

    Sobre a carta enviada pelas sociedades médicas, a Anvisa ressaltou que o documento ainda está em avaliação técnica e deverá ser respondido às entidades em breve.

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    O que é o chip da beleza

    Em geral, trata-se de um implante inserido na pele que traz uma combinação de hormônios manipulados – a composição exata varia. As promessas são variadas, incluindo o aumento da massa muscular, emagrecimento e redução da gordura corporal, além de melhora da libido, alívio dos sintomas da menopausa e ação contra o envelhecimento.

    Vale destacar que esse tipo de produto não é aprovado pela Anvisa. E, como são materiais manipulados, não contam com bulas, como os medicamentos comuns registrados no país.

    Sobre a prescrição dos produtos, a Anvisa afirmou que “a fiscalização de exercício profissional não é de competência da vigilância sanitária, mas sim de conselhos de classe, como o Conselho Federal de Medicina (CFM)”.

    + Leia também: Entre a beleza e o perigo: os riscos dos procedimentos estéticos

    Efeitos adversos do chip da beleza

    A princípio, pode parecer tudo muito bom, mas não se engane. “O uso prolongado de hormônios androgênicos acarreta riscos, como queda de cabelo, acne e, no caso das mulheres, aumento do tamanho do clitóris”, explica a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

    Esses hormônios também podem causar alterações adversas irreversíveis no sistema cardíaco e hepático.

    O uso desse tipo de produto entre praticantes de esporte e musculação tem o objetivo de melhorar o desempenho físico e aumentar a massa muscular. Contudo, especialistas alertam que a prática pode trazer problemas como:

    + Leia também: Estética a qualquer custo: os riscos de procedimentos orais malsucedidos

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    Médicos alertam que não existe dose segura para o uso de hormônios para fins estéticos ou de performance (Foto: Drazen Zigic/Freepik/Divulgação)

    Falsa sensação de segurança dos manipulados

    “As pessoas costumam achar que medicamentos manipulados são fitoterápicos e, portanto, seguros. Mas pode-se manipular qualquer medicamento, como é o caso dos hormônios em questão”, diz Tarissa. Aliás, mesmo os produtos manipulados com derivados de plantas podem apresentar efeitos colaterais.

    “Um dos motivos pelos quais os chips da beleza representam riscos é justamente a manipulação desses implantes. Cada médico tem liberdade para ajustar as quantidades de hormônios, como estradiol, testosterona, gestrinona, e DHEA, de acordo com sua preferência”, afirma Tarissa.

    Para o presidente da SBEM Regional São Paulo, Felipe Henning Gaia Duarte, a variação na composição é tanta e as evidências científicas, tão escassas, que chega a ser difícil antecipar o tipo de problema.

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    Pior: segundo o especialista, os chamados chips da beleza passaram a incluir outros compostos além dos hormônios. “O que antes era basicamente um implante de gestrinona hoje engloba uma série de outras substâncias que teriam uma ação estética”, pontua.

    E não se sabe se esse combo traria ainda mais problemas. Aliás, Duarte destaca a ausência de evidências científicas documentadas até para o benefícios associados ao uso dos implantes.

    “Até o presente momento, não existe nenhum trabalho publicado em uma revista séria demonstrando realmente o quanto de hormônio é liberado, o tempo de duração no organismo, os efeitos adversos que pode trazer a longo prazo”, diz. Isso impede qualquer médico de prescrever esse tipo de estratégia com segurança.

    A norma do CFM também destaca a inexistência de estudos clínicos que demonstrem a segurança e a magnitude dos riscos associados à aplicação de hormônios em níveis acima do comum, tanto em homens quanto em mulheres.

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    No caso de mulheres, Tarissa pontua que a indicação de derivados androgênicos, como a testosterona, é bastante restrita. “Casos de transtorno do desejo sexual hipoativo na pós-menopausa, nos quais a testosterona pode ser utilizada, são raros. Não há nenhuma indicação de testosterona ou outros androgênicos na pré-menopausa”, afirma.

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