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O chip da beleza

O que dizem os experts sobre esse fenômeno que começou entre celebridades e tem seduzido mulheres com a promessa de melhorar a aparência e o ânimo

Por Thais Szegö
Atualizado em 2 dez 2019, 17h15 - Publicado em 20 abr 2018, 14h15
implante hormonal
Médicos pedem maior controle em relação ao uso do tal chip beleza, um implante hormonal capaz de trazer vários prejuízos. (Foto: Jeff Bergen - iStock | Ilustração: Ana Matsusaki/SAÚDE é Vital)
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O pacote de benefícios é pra lá de tentador: acabar com a menstruação e os incômodos que vêm junto com ela, como cólicas, inchaço e TPM, e ainda aumentar a libido, tonificar os músculos e apagar as celulites. A propaganda ganha força com as celebridades já chipadas, como se diz por aí: entre elas, a atriz Letícia Birkheuer e as modelos Babi Rossi e Mirella Santos. Não é à toa que o chip da beleza, seu nome de batismo na mídia, está fazendo fama. Para início de papo, porém, esqueça o termo “chip”.

O dispositivo é um implante hormonal desenvolvido originalmente para evitar a gravidez e os desconfortos do ciclo menstrual. Mas todo burburinho começou quando as adeptas de algumas formulações notaram um bem-vindo efeito colateral: melhoras na silhueta.

Essa foi a experiência da psicóloga Juliana Orrico, de 35 anos, da capital paulista. Seu médico optou pelo implante porque ela sofria muito com a TPM. “No início, fiquei um pouco inchada e apareceram algumas espinhas, problema para o qual já tenho tendência”, conta. “Mas depois tive um bom aumento da massa magra e ganhos na definição muscular”, completa Juliana, que pratica exercícios físicos com regularidade e cuida bastante da alimentação.

Mas a forma como o chip vem sendo difundido faz a comunidade médica torcer o nariz. “A minha opinião é a mesma da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem): hormônios não devem ser prescritos para fins estéticos”, afirma o endocrinologista Alexandre Hohl, vice-presidente da entidade. O que preocupa os especialistas é justamente a busca e a eventual prescrição do produto visando contornos bacanas – muitas vezes sem pesar os riscos.

“O apelido que o implante recebeu, uma maneira de deixá-lo mais atraente, leva as pessoas a uma conclusão errada”, opina o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). A depender da fórmula, o chip pode carregar um esteroide chamado gestrinona ou progestagênio (molécula que imita a progesterona), bem como doses de testosterona. Em uma palavra, hormônios.

De olho na nova moda, o Conselho Federal de Medicina declara, em nota, que tratamentos do tipo só devem ser feitos por razões médicas e quando o procedimento dispõe de comprovação científica. É aí que a polêmica se aprofunda.

Além de ser propagandeado de uma maneira equivocada (uma vez que não se trata de uma intervenção meramente estética), faltam evidências robustas a favor do chip. “Não o indico de forma alguma, entre outras coisas porque não tenho conhecimento de nenhuma publicação científica que traga pesquisas sobre a sua ação”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo, membro da Sbem e da Sociedade Europeia de Endocrinologia. Fernandes concorda: “Não existe estudo sério que tenha verificado se esses implantes são efetivos e seguros”.

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Não bastasse, os hormônios que servem de matéria-prima ao chip podem desencadear uma lista de efeitos adversos: aumento da oleosidade da pele e surgimento de acne, queda de cabelo, aparecimento de pelos em locais indesejáveis, engrossamento da voz, crescimento do clitóris, irritabilidade e até infertilidade.

“Isso sem falar que pessoas com histórico familiar de câncer de mama ou endométrio, problemas no fígado, nos rins ou no coração, diabetes ou trombose não podem se submeter a esse tratamento”, alerta Maria Fernanda. Claro que isso depende dos hormônios e da dosagem selecionada, mas é ou não é para ser pesado junto ao médico?

E tem mais um complicômetro. Com exceção do implante de progestagênio, mais conhecido no mercado como anticoncepcional, os chips da beleza não são vendidos prontos no balcão da drogaria. Normalmente é o profissional de saúde que, no consultório, desenha uma fórmula individualizada, mais tarde preparada e inserida no implante por uma farmácia de manipulação.

“Se a paciente quiser comprar o produto em outro estabelecimento ou trocar de médico, provavelmente não vai saber exatamente o que está usando”, avisa Hohl. Sem uma padronização, dizem os especialistas, fica difícil não só estudar o implante mas também garantir que ele trará os resultados esperados não colocando a saúde em risco.

Outra visão sobre o implante

Apesar das sérias críticas ao dispositivo, alguns profissionais defendem que o problema não está no produto, mas em seu mau uso. O que faz a diferença, portanto, seria uma indicação médica criteriosa. O endocrinologista Filippo Pedrinola, membro da Sbem e da Sociedade Americana de Endocrinologia, ressalta que os implantes não devem ser receitados para fins estéticos e só dá para pensar na prescrição após uma avaliação clínica e a realização de exames. “Mas eles podem ser úteis no alívio de sintomas da TPM, em alguns casos de endometriose ou àquelas mulheres que buscam diminuir ou interromper o ciclo menstrual”, exemplifica.

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A ginecologista Cristina Carneiro, que também atua em São Paulo, vê algumas vantagens nessa opção, que, não se esqueça, nunca deixou de ser um método contraceptivo. “Destaco os quesitos praticidade, pois ele normalmente só precisa ser trocado depois de seis meses a três anos, dependendo dos hormônios utilizados; controle, já que a dosagem das substâncias é liberada de forma gradual e constante; e segurança, porque não há risco de esquecer de tomar comprimidos”, avalia. Mas e os efeitos colaterais? O que fazer se eles surgirem? “O implante pode ser retirado a qualquer momento”, tranquiliza Pedrinola.

Se, diante dos prós e contras, bater a curiosidade de experimentá-lo, não caia no conto de fadas e corpos esbeltos das redes sociais. Procure um médico de sua confiança e converse com ele. Na maioria dos casos, é provável que o especialista vá recomendar saídas mais convencionais, além de dieta e exercício. Só fique com um pé atrás se ele lhe indicar o implante exclusivamente por motivos estéticos. Lembre-se: no fundo, o chip não passa de um tratamento hormonal.

Quem é quem

TUBINHO

O que é
O implante é um cilindro bem fininho de silicone com 3 a 5 cm de comprimento e 3 mm de espessura. Ele é recheado com hormônios liberados lentamente. Custa entre 3 e 4 mil reais.

Onde fica
É colocado na parte interna do braço, próximo à axila, ou acima das nádegas.

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Como é instalado
Em um procedimento com anestesia local que dura dez minutos.

Quanto dura
Depende dos hormônios inseridos no implante, mas chega a ficar ativo por três anos, podendo ser retirado a qualquer momento.

ALPISTE

O que é
Esse implante tem o tamanho da semente de alpiste e é feito de cristais de hormônio que se dissolvem gradualmente até desaparecer. Tem um custo parecido com a versão tubinho. Não é tão comum por aqui.

Onde fica
Ao contrário do implante maior, que fica sob a pele e pode ser sentido com os dedos, esse é inserido na camada de gordura.

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Como é instalado
Em um procedimento rápido que não requer anestesia.

Quanto dura
Tem uma validade mais curta, agindo ao longo de seis meses.

 

As promessas do chip

Os benefícios segundo os defensores dos implantes:

Menos TPM
A explicação está ligada à paralisação do fluxo menstrual. Usuárias relatam melhoras físicas e no humor.

Menos cólicas
Como o dispositivo interrompe a menstruação, a mulher não tende a sofrer com a dor que aparece nos primeiros dias do fluxo.

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Menos celulite
O efeito sobre a pele vem do uso da testosterona, o hormônio masculino, bem como da redução na gordura corporal.

Mais disposição
Por contornar os altos e baixos dos hormônios no ciclo menstrual, o implante parece elevar a energia e a libido.

Mais músculos
Implantes formulados com testosterona ajudam a aumentar e a definir a massa muscular.

Os efeitos indesejáveis

O uso do chip da beleza envolve riscos e reações adversas. Daí a necessidade de ponderar bem com um médico. Veja:

Masculinização
A mexida com os hormônios, associada à utilização da testosterona, pode levar a queda de cabelo, aparecimento de pelos, engrossamento da voz…

Impacto na glicemia
Algumas usuárias chegam a ter problemas com a ação da insulina, ficando expostas à sobrecarga de açúcar no sangue e ao ganho de peso.

Perigo nos vasos
Os hormônios podem repercutir na circulação sanguínea, o que eleva a probabilidade de coágulos se formarem, o ponto de partida de uma trombose.

Ameaça a órgãos
Se houver propensão, coração, rins e fígado podem ficar sobrecarregados com o aporte de hormônios. Exames ajudam a flagrar e prevenir os chabus.

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