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Salve o esqueleto: como prevenir a osteoporose e as fraturas

Essa doença dificilmente traz sintomas claros - mas está por trás de uma "tsunami de ossos quebrados". Saiba o que é a osteoporose e como tratar ou evitar

Por André Bernardo
Atualizado em 19 abr 2020, 19h23 - Publicado em 16 Maio 2018, 09h57
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  • A Fundação Internacional de Osteoporose (IOF) recorreu à expressão “tsunami de fraturas” para alertar a população do perigo da osteoporose, que, após os 50, atinge uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens. Exagero? Longe disso. “O quadro é extremamente preocupante”, concorda a médica Marise Lazaretti Castro, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso). “Só no Brasil o número de fraturas deve aumentar seis vezes mais em 2050. Talvez não tenhamos profissionais suficientes para dar conta de tanta fratura”, prevê.

    Em 2015, o Brasil registrou 80,6 mil fraturas de quadril, considerada a mais grave – 57,2 mil em mulheres e 23,4 mil em homens. Para 2040, são esperados 197,7 mil novos episódios, sempre com a ala feminina na dianteira. É um aumento estimado de 245%. Mais: 10 milhões de brasileiros têm osteoporose. No mundo, esse número chega a 200 milhões.

    Na esperança de conter essa avalanche de ossos quebrados, John A. Kanis, professor da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, aperfeiçoou uma espécie de “alerta de tsunami”: a Ferramenta de Avaliação do Risco de Fratura (Frax, em inglês). Criado em 2008, o teste on line, normalmente feito em consultório, ganhou uma nova versão, voltada para países da América Latina, como Brasil, Argentina e Chile.

    “A partir de dados clínicos do indivíduo, como peso, idade e altura, ou do resultado de sua densitometria óssea, a ferramenta calcula a probabilidade de ele sofrer uma fratura em dez anos”, explica o endocrinologista Sérgio Maeda, diretor do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). “Isso ajuda o médico a identificar os pacientes com maior risco de evoluir para a osteoporose.”

    Para evitar uma quebradeira geral nas vértebras, no fêmur e no quadril, três regiões muito afetadas pela osteoporose, o presidente da IOF, Cyrus Cooper, organizou um relatório com os pontos que demandam atenção, tanto dos profissionais de saúde como do governo e da sociedade. O reumatologista britânico sugere cautela com o uso de remédios que fragilizam os ossos, lista doenças associadas ao quadro e salienta a importância de as pessoas não abandonarem o tratamento.

    Entre as ações de emergência, destaca o Serviço de Atendimento a Fraturas, que segue o modelo britânico das Fracture Liaison Services (FLS) e, no Brasil, já foi implementado em 16 unidades – do Hospital Federal de Ipanema, na capital fluminense, à Policlínica Osvaldo Cruz, em Porto Velho (RO). “Oito em cada dez pacientes que sofrem fratura voltam para casa sem avaliação ou diagnóstico”, lamenta Cooper. “É importante que, em vez disso, eles recebam o tratamento adequado para não correr o risco de novas lesões“, adverte.

    O que é osteoporose

    Os cientistas explicam que as ondas gigantes nascem nas profundezas do mar. Na maioria das vezes, são desencadeadas por erupções vulcânicas ou abalos sísmicos. Mas e o “tsunami de fraturas”? O que leva o esqueleto humano, à medida que envelhece, a ficar mais vulnerável ao arrastão de quedas e quebras? Os fatores se dividem em genéticos e ambientais.

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    No primeiro grupo, que está por trás de 60% dos casos, estão pessoas de pele branca, baixas e magras, com histórico de osteoporose na família e déficit na produção de alguns hormônios. No segundo entram sujeitos sedentários, fumantes, com alimentação pobre em cálcio, baixa exposição à luz solar e/ou abuso de bebida alcoólica.

    “A boa notícia é que podemos modificar aquilo que é relacionado ao estilo de vida”, tranquiliza Luiz Jordan Macedo do Amaral, presidente do Comitê de Osteoporose e de Doenças Osteometabólicas da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. “Não há limite de idade para mudar de vida e adotar hábitos mais saudáveis. Mas, quanto mais cedo, melhor.”

    Como saber se eu tenho mesmo osteoporose

    Em sua fase inicial, a doença não tem sintomas – ela é indolor e silenciosa. Por esse motivo, não é pequeno o número de gente que não sente nada até sofrer a primeira fratura. Suspeitas de ossos frágeis e porosos são confirmadas no exame de densitometria óssea, indicado às mulheres acima dos 65 anos e aos homens a partir dos 70. “O exame mede a densidade mineral dos ossos, aferida com base na concentração de cálcio, e a compara com valores de referência, considerando a idade e o sexo do paciente”, explica o médico Marco Rocha Loures, coordenador da Comissão de Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

    O resultado pode ser dividido em três categorias: normal, osteopenia e osteoporose. Quando a perda compromete 25% da massa óssea, o diagnóstico é osteoporose. Entre 10 e 25%, osteopenia.

    “Uma das finalidades da densitometria óssea é detectar a redução de massa óssea. Outra é diagnosticar a sarcopenia, nome dado à perda de massa muscular”, esclarece Loures. A propósito, com a idade tanto os ossos quanto os músculos tendem a minguar.

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    Aliás, já deu para notar que a osteoporose não é uma doença que atinge só mulheres durante e após a menopausa. Sim, elas estão mais suscetíveis por causa da queda no estrogênio, hormônio que atua como protetor natural dos ossos. Mas os homens não estão livres do problema.

    “A doença é mais comum em mulheres, mas, quando ocorre em homens, é mais grave e a mortalidade, maior”, compara Maeda. Outro mito: osteoporose é doença típica da terceira idade. Que nada! O problema pode atacar, inclusive, adolescentes.

    Há até uma máxima na reumatologia que diz: “A osteoporose é uma doença pediátrica, com consequências geriátricas”. Faz sentido. A prevenção deve começar o mais cedo possível… “De preferência, na infância e na adolescência, quando os ossos ainda estão em formação”, aconselha Maeda.

    Marco Loures vai além. Para o reumatologista, os cuidados com a saúde dos ossos devem ter início ainda na barriga da mãe. “Quando a gestante se alimenta bem, fortalece, desde a vida intraútero, a estrutura óssea do filho”, justifica.

    Por essas e outras, há quem diga que, quando a gente nasce, abre um tipo de caderneta de poupança para o esqueleto. Até os 20 anos, só faz economizar cálcio. Dos 20 aos 25, atinge o patamar máximo. Até os 45, ainda consegue repor o que esbanjou. Mas, dali em diante, o organismo passa a gastar mais do que economiza, gerando em torno de 0,5% de perda óssea ao ano. Em outras palavras: quanto mais o indivíduo poupar na juventude – ingerindo fontes de cálcio, tomando sol, fazendo atividade física… -, menor será o risco de fraturas lá adiante.

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    Detectada a osteoporose, o primeiro passo é apurar a quantas anda a alimentação, principalmente em relação à ingestão de cálcio, o elemento mais importante para a formação dos ossos. Dos muitos achados do estudo O Impacto da Osteoporose no Brasil: Dados Regionais das Fraturas em Homens e Mulheres Adultos – The Brazilian Osteoporosis Study (Brazos), realizado com 2 420 cidadãos e publicado em 2010, o que mais surpreendeu Marcelo Pinheiro, professor da Universidade Federal de São Paulo, foi a baixa ingestão de cálcio e vitamina D pela maior parte da população avaliada. “Para um adulto, o consumo ideal de cálcio varia de 1 000 a 1 200 miligramas ao dia. Na época, consumíamos algo em torno de 400 miligramas”, conta. É um número que não parece ter mudado desde então.

    Leite e derivados, como queijo e iogurte, são a principal fonte do nutriente. A título de curiosidade: um copo de 300 ml de leite, integral ou desnatado, oferece 250 mg do mineral. Se o indivíduo tem intolerância à lactose, não tem problema: o médico pode receitar suplementos de cálcio.

    De nada, porém, adianta consumir a quantidade necessária se o corpo não tiver vitamina D suficiente para fixar o nutriente nos ossos. “E a maior fonte de vitamina D é a exposição ao sol, 15 minutos ao dia, das 10 às 16h, sem protetor solar”, detalha Amaral.

    Mas não é só de leite e de sol que o osso precisa. Praticar exercícios físicos, de uma simples caminhada a uma pelada de futebol, é extremamente bem-vindo para driblar a degradação óssea. A explicação é simples: músculos fortes tendem a proteger o esqueleto contra quedas e fraturas.

    O tratamento da osteoporose

    Nem o cálcio nem a vitamina D, por mais importantes que sejam, revertem o processo de desmineralização dos ossos. Diante do diagnóstico de osteoporose, é provável que o médico parta para os remédios – eles costumam ser divididos entre os antirreabsortivos e os anabólicos. “Depois dos 30, o processo de desgaste ósseo é natural. Quem perde osso com uma velocidade maior que o habitual, no entanto, desenvolve osteoporose. Para esses pacientes, existem medicamentos que bloqueiam a perda óssea”, contextualiza Marise Castro, referindo-se, entre outras, à classe dos bisfosfonatos. No caso das mulheres, o tratamento pode englobar, ainda, reposição hormonal.

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    Se a osteoporose foi detectada em estágio avançado ou se o indivíduo apresenta múltiplas fraturas, inibir a perda óssea não basta. Para esse perfil, são indicados fármacos como a teriparatida ou o denosumabe, um anticorpo monoclonal que, em estudos recentes, mostrou remineralizar o esqueleto no longo prazo. E duas novas moléculas, ambas da classe dos anabólicos e de nomes cabeludos, estão a caminho. São a abaloparatida, já autorizada pela FDA, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, e o romosozumabe, ainda em fase de aprovação.

    Bem, se existem drogas que inibem o desgaste do esqueleto e outras que estimulam a formação de novos ossos, atenção: há remédios que, como efeito colateral, levam à degeneração da estrutura óssea. São os famosos “ladrões de ossos”. Um dos principais, segundo Loures, é o corticoide, usado para tratar uma porção de condições devido à sua atividade anti-inflamatória. Mas a lista é extensa e inclui, entre outros, anticoagulantes, imunossupressores, anticonvulsivos, opiáceos e diuréticos. Na dúvida, consulte o médico.

    “Quando houver a necessidade de prescrever um desses medicamentos, sugiro receitá-los na menor dose possível e por um curto espaço de tempo”, diz o reumatologista. “Caso contrário, é preciso compensar rigorosamente com dieta adequada, atividade física e suplementação”, completa. Para a história não acabar em fratura, todo cuidado é pouco – e o estilo de vida conta muito. O uso consciente dos remédios, somado a boas doses de cálcio, vitamina D e exercícios, compõe a receita para transformar o tsunami previsto em uma marola inofensiva.

    As medidas para evitar a osteoporose

    Banho solar: tome sol por pelo menos 15 minutos ao dia, sem protetor, entre 10 e 16h. Fora dos horários de pico do calor, aumente o tempo de exposição para 20 minutos. Esse hábito é decisivo para obter a vitamina D.

    Dá-lhe lácteos: o ser humano precisa, em média, de 1 000 miligramas de cálcio diariamente. E não há melhor fonte do que o leite e seus derivados – prefira as versões com menos gordura para não prejudicar o peso e o coração.

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    Suor na camisa: o sedentarismo favorece a perda óssea. Entre os exercícios mais recomendados estão caminhada, corrida, pilates, bike e ginástica. Se não houver contraindicação, dá para jogar vôlei, futebol, basquete…

    Xô, cigarro: nicotina prejudica os ossos. Tanto é que uma em cada oito fraturas de quadril em mulheres está relacionada ao tabagismo. Álcool demais também está ligado a uma ossatura frágil.

    O checkup: mulheres a partir dos 65 e homens depois dos 70 devem fazer densitometria óssea uma vez ao ano. Esse é o principal exame para detectar se os ossos estão porosos – e de quebra acusar se há perda expressiva de massa muscular.

    Casa segura: esse recado vale sobretudo na presença da osteoporose: para evitar quedas, retire os tapetes; à noite, deixe sempre uma luz acesa por perto; e, no banheiro, bote piso antiderrapante e barras no box.

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