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PrEP: o que é, como funciona e quem pode usar o método de prevenção ao HIV

A profilaxia pré-exposição consiste no uso de medicamentos para a prevenção do contágio pelo vírus. Confira um guia completo sobre a estratégia

Por Lucas Rocha
12 jun 2024, 17h45
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Medicamentos utilizados na prevenção ao HIV (Foto: Matheus Oliveira/Agência Saúde DF/Divulgação)
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A profilaxia pré-exposição ao HIV, popularmente conhecida pela sigla PrEP é uma estratégia que usa medicamentos para impedir a infecção pelo vírus que, sem tratamento e em último estágio, provoca a aids.

Trata-se de um complemento ao preservativo, que faz parte de um amplo arsenal de novas armas contra o HIV.

As buscas no Google sobre o assunto bateram recorde no Brasil em maio, com destaque para a cidade e o estado de São Paulo. Se a tendência se mantiver, junho pode ultrapassar essa marca.

A seguir, respondemos às principais perguntas sobre o assunto feitas pelos internautas na plataforma de buscas.

+ Leia também: Virada de jogo: evolução da medicina revoluciona o tratamento do HIV

O que é a PrEP?

A profilaxia pré-exposição é um recurso medicamentoso para prevenir a infecção pelo HIV.

Consiste basicamente em uma combinação de remédios que bloqueiam o vírus diante de um episódio de exposição, como uma relação sexual sem preservativo, impedindo assim o contágio.

São utilizadas pílulas ingeridas por via oral ou um medicamento injetável, chamado cabotegravir. Essa última opção, embora já tenha sido aprovada pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda não é ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Como a PrEP funciona?

Em resumo, os compostos utilizados bloqueiam algumas vias que o vírus HIV usa para infectar o organismo.

Para entender o mecanismo de ação da PrEP, é preciso contextualizar como o vírus infecta o corpo humano. Para se replicar, ele utiliza a estrutura das nossas células e um conjunto de enzimas dele próprio. Nesse caso, são escolhidas principalmente as células do sistema imunológico, os linfócitos T CD4+.

Aqui, há uma particularidade: para se multiplicar, o HIV precisa converter seu material genético de RNA para DNA. Para isso, ele depende de uma enzima viral importante chamada transcriptase reversa.

E onde entra a PrEP nesse cenário?

A forma oral, por exemplo, conta com dois medicamentos antirretrovirais, chamados tenofovir e entricitabina, em um único comprimido. Esses compostos são inibidores daquela enzima de nome complicado que acabamos de mencionar, a transcriptase reversa.

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O cabotegravir, a versão injetável, por sua vez, impede a inserção do DNA viral do HIV no DNA humano, o que também evita a replicação e sua capacidade de infectar novas células.

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A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF)

Quais são os tipos de PrEP?

Aqui, vamos focar nas duas modalidades da profilaxia oral: diária e sob demanda.

Na PrEP diária, o remédio é tomado de forma contínua, uma vez ao dia. Essa forma é indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao HIV, que tenha 15 anos ou mais e peso acima de 35 kg.

“A medicação é para qualquer indivíduo, independentemente de gênero ou orientação sexual. É para quem se sente em risco e busca fazer essa forma adicional de prevenção”, afirma o médico infectologista Gustavo Magalhães, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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No caso da PrEP sob demanda, o uso é feito somente quando a pessoa tiver risco eventual de exposição ao HIV. O esquema funciona assim:

  • 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual
  • + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos
  • + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose

Esta modalidade é indicada para quem tem relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana e que consiga planejar quando os encontros vão acontecer.

O Ministério da Saúde destaca que as evidências científicas garantem a segurança e eficácia da PrEP sob demanda somente para algumas populações. São elas:

  • Homens cisgênero heterossexuais, bissexuais, gays e outros homens cisgênero que fazem sexo com homens (HSH)
  • Pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer
  • Travestis e mulheres transexuais que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol
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+ Leia também: HIV: a importância do conceito “Indetectável = Intransmissível”

Em quanto tempo a PrEP começa a fazer efeito?

O prazo de efeito da PrEP no organismo varia de pessoa para pessoa e é medido por estudos científicos.

Levam ao menos sete dias para atingir níveis de proteção ideais:

  • Mulheres cisgênero
  • Pessoas trans ou não binárias designadas como sexo feminino ao nascer
  • Qualquer pessoa em uso de hormônio a base de estradiol

Proteção a partir de 2 a 24 horas (com o uso inicial de dois comprimidos):

  • Homens cisgêneros
  • Pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer
  • Travestis e mulheres transexuais que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol
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As informações constam em nota técnica do Ministério da Saúde, disponível online.

+ Leia também: Sorofobia: entenda como a discriminação impacta pessoas que vivem com HIV

Quem pode usar a PrEP?

A PrEP é indicada para qualquer pessoa em situação de risco de exposição ao HIV. Para aderir à medicação, é preciso ter pelo menos 15 anos e pesar acima de 35 kg, como destacamos anteriormente.

Entre os contextos em que é possível recorrer ao recurso, estão:

  • Deixar de usar camisinha em suas relações sexuais com frequência
  • Usar repetidamente a profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP)
  • Apresentar histórico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)
  • Relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.
  • Prática sexual sob a influência de drogas (chemsex)

+ Leia também: A lista de vacinas recomendadas para pessoas que vivem com HIV

Como posso começar a usar a PrEP?

O primeiro passo para iniciar a PrEP é buscar um serviço de saúde, público ou privado, e passar por uma avaliação clínica.

No âmbito do SUS, a PrEP pode ser prescrita por médicos, enfermeiros e farmacêuticos. No contexto particular, somente por médicos.

Onde encontrar a PrEP?

Os medicamentos podem ser retirados gratuitamente em unidades de saúde do SUS, independentemente da prescrição ter sido feita por profissionais de unidades privadas.

Veja a lista dos serviços que ofertam PrEP aqui.

Quais são os efeitos colaterais da PrEP?

Os efeitos adversos mais comuns são náusea, dor de cabeça, gases, amolecimento das fezes ou diarreia e sensação de inchaço.

Porém, as manifestações são temporárias, tendem a se resolver em poucos dias e o uso de medicamentos pode ajudar a reduzir os sintomas.

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Uso de preservativo previne a transmissão de HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (Foto: Deon Black/Unsplash)

Mitos e verdades sobre a PrEP

De tempos em tempos, circula nas redes sociais uma série de boatos sobre o tema. A desinformação, que envolve principalmente efeitos colaterais e riscos para a saúde, pode afastar os indivíduos e prejudicar o acesso à estratégia.

Por vezes, as discussões envolvem preconceito e refletem falta de conhecimento, como detalha o médico infectologista Rico Vasconcelos, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

“Isso é um fenômeno que acontece nas redes, mas está diminuindo. Há dez anos, as pessoas xingavam quem usava PrEP. Aos poucos, vemos uma queda nessas objeções vazias ao uso da ferramenta, que já foram inclusive derrubadas pela ciência”, diz Vasconcelos.

A seguir, estão algumas respostas para mais dúvidas feitas ao Google.

A PrEP aumenta a frequência de infecções sexualmente transmissíveis?

Não há consenso. Para começar, a hipótese de que usuários de PrEP abandonam o preservativo não é totalmente comprovada.

A relação entre a prevenção medicamentosa do HIV e o crescimento da incidência de doenças como sífilis, clamídia e gonorreia também encontra resultados conflitantes em estudos científicos.

Um argumento importante contra esta associação é o de que as tendências de aumento das ISTs, assim como os comportamentos de risco associados, são anteriores ao uso da PrEP — como indica uma pesquisa realizada na Dinamarca.

“Segundo estudos, a incidência dessas infecções tem aumentado não apenas entre quem utiliza a PrEP. É do hábito da pessoa em usar ou não o preservativo. Quem já tem o costume e recorre à profilaxia está buscando uma proteção adicional e vai continuar com a camisinha. Alguns acabam reduzindo, mas isso não está necessariamente relacionado ao aumento das ISTs”, pontua Magalhães.

Uma vez que a PrEP é iniciada, os usuários são condicionados à realização de exames periódicos para HIV e outras ISTs a cada três meses. O professor da Uerj enfatiza que o procedimento viabiliza o diagnóstico precoce e tratamento oportuno de eventuais infecções.

“O que observamos como aumento das ISTs entre aqueles que fazem o uso da PrEP é porque eles fazem atendimento médico regularmente, várias vezes ao ano. Por isso, os casos também são detectados com maior frequência do que na população que não faz esse uso, que também registra esse aumento, mas não é diagnosticada”, frisa o médico.

Além da oferta de testes, os pacientes recebem orientações de profissionais de saúde sobre a estratégia de prevenção combinada. Além das profilaxias contra o HIV e os preservativos masculino e feminino, o conjunto inclui recursos como a testagem regular, diagnóstico e tratamento de infecções, imunização contra o HPV e a hepatite B, entre outras intervenções.

Quem toma PrEP pode doar sangue?

Depende. Vale destacar que o uso de diversos tipos de medicamentos é considerado como impeditivo temporário para a doação, como antibióticos e anticoagulantes.

No caso da PrEP ou da PEP, os hemocentros estabelecem prazos que variam de três, seis e até doze meses data da administração da última dose para que o indivíduo possa ser um doador.

A explicação está no fato de que a medicação pode interferir no teste de HIV. Em casos bastante raros, pode haver infecção e atraso na soroconversão, ou seja, na produção de anticorpos específicos para o vírus, interferindo também nos resultados dos testes.

Pode beber tomando PrEP?

Depende. O álcool não corta o efeito destes fármacos. Contudo, o consumo de bebidas alcoólicas deve ser evitado diante do uso de qualquer medicamento.

“Beba com moderação. Isso não importa se a pessoa está em uso de PrEP ou não, tanto faz. O álcool em exagero não faz bem para ninguém”, pontua Magalhães.

Posso tomar PEP e PrEP juntos?

Não. A profilaxia pós-exposição (PEP) é um recurso de emergência para quem pode ter sido exposto ao vírus. Podemos fazer um paralelo com a pílula do dia seguinte, neste caso, para o enfrentamento do HIV.

Além de relações desprotegidas, fazem parte do contexto de indicação desse recurso situações de rompimento da camisinha, violência sexual e acidentes de trabalho por profissionais de saúde.

A terapia deve ser iniciada o mais rápido possível, com prazo máximo de até 72 horas. São usados remédios disponibilizados pelo SUS para o tratamento do HIV, uma combinação dos antirretrovirais tenofovir + lamivudina e dolutegravir. A duração da terapia é de 28 dias, com acompanhamento médico.

Usuários com boa adesão ao esquema de PrEP diária, após alcançados os níveis protetores do medicamento, não necessitam de PEP após uma exposição sexual de risco ao HIV.

Já para aqueles que relatam o uso esporádico ou irregular, que apresentam adesão abaixo do ideal (menos de quatro comprimidos por semana), a prescrição de PEP pode ser indicada diante de risco de contágio por relações nas últimas 72 horas.

A recomendação é que, depois dos 28 dias de PEP, e após a exclusão de infecção pelo HIV, a PrEP seja reiniciada.

A PrEP pode fazer mal aos rins?

Depende. Os medicamentos da PrEP são processados nos rins. Por isso, os usuários devem passar por avaliação da função renal, por meio da dosagem de creatinina no início da terapia.

Recomenda-se novas análises a cada 12 meses. Para indivíduos com idade acima de 50 anos ou com história de comorbidades, hipertensão e diabetes, o prazo deve ser de seis meses.

O Ministério da Saúde destaca que embora o uso do tenofovir possa levar a uma perda progressiva da função renal, não foi observado um comprometimento clinicamente significativo nos ensaios clínicos. Pode ocorrer uma discreta alteração nos níveis de creatinina, que são revertidos com a interrupção do medicamento.

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