Apesar dos riscos que envolvem a ausência de tratamento para o hipotireoidismo — quadro caracterizado por uma deficiência na produção de hormônios da tireoide —, um levantamento encomendado pela farmacêutica Sanofi mostra que falta informação sobre a seriedade da doença.
Os dados apontam que ¼ da população brasileira com a doença não a trata ou o faz de forma inadequada. A pesquisa “Hipotireoidismo em foco” também revela que 34% dos diagnosticados que não realizam nenhuma terapia desconhecem as consequências do problema.
Para piorar, um monte de gente tem hipotireoidismo e não faz ideia disso. Para sermos mais precisos, 4,7 milhões de brasileiros acima dos 35 anos estão nessa situação. Desse pessoal, 80% pertencem às classes C, D e E.
“Infelizmente, as consultas são muito rápidas, especialmente em postos de saúde. Seria muito importante que o médico, ao atender o paciente, sobretudo o de baixa renda, gastasse 10 minutos para explicar o que é a doença e a importância de tratá-la. Isso não é perder tempo, é investir no paciente”, opina o endocrinologista José Sgarbi, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Afinal, não se pode encarar o hipotireoidismo como algo inofensivo e com poucos impactos na saúde. A falta de controle ou o tratamento inadequado oferecem riscos, sim. Entre os principais estão problemas cardíacos, obesidade, colesterol alto, diabetes e infertilidade.
O que é o hipotireoidismo
Para entender melhor essas consequências, é preciso conhecer a função da tireoide, uma glândula localizada na região do pescoço. De acordo com Sgarbi, ela libera hormônios que atuam basicamente em todas as células do organismo — eles são chamados de T3 e T4.
“Costumo comparar a tireoide com o maestro de uma orquestra. Há os músicos com seus instrumentos, mas eles precisam do maestro para dar o ritmo. Assim funciona a tireoide: você tem todos os órgãos, mas é ela que coordena suas funções para que trabalhem em harmonia”, ilustra o especialista.
Sgarbi acrescenta que a glândula é importante em todas as fases da vida. Por isso a redução da produção de T3 e T4, cuja principal causa é uma inflamação autoimune, faz tanta diferença no organismo.
Na infância, os sintomas mais marcantes da doença são déficit de atenção e baixo crescimento. Já na fase adulta e na velhice percebemos cansaço, depressão, ganho de peso inexplicável, ressecamento de pele e cabelo, unhas quebradiças e dores nas articulações.
Nas mulheres também é comum surgirem alterações na menstruação. Aliás, elas são os maiores alvos da chateação. “Em geral, o hipotireoidismo é sete vezes mais frequente nelas do que nos homens, especialmente na pós-menopausa”, aponta Sgarbi.
Segundo o diretor da Sbem, devido à inespecificidade dos sintomas, o diagnóstico não é tão simples assim. “Em um idoso, eles podem ser atribuídos à própria idade”, exemplifica o endocrinologista.
Um dado da pesquisa da Sanofi que corrobora essa afirmação é o fato de que os pacientes demoram, aproximadamente, oito meses para definir o diagnóstico e a terapia ideal.
“Em razão disso, é recomendado que a população de alto risco, como mulheres acima de 35 anos e na pós-menopausa, idosos, indivíduos com histórico pessoal ou familiar de outras doenças autoimunes, obesos e gestantes no início da gravidez, faça o exame de TSH [uma análise do sangue que detecta alterações na produção dos hormônios da tireoide]”, orienta o expert.
As dificuldades no tratamento
Na verdade, o controle do hipotireoidismo não é complicado: basta fazer a reposição de hormônios através de comprimidos de levotiroxina. Ele é de baixo custo nas farmácias e está disponível na rede pública. A dosagem varia de pessoa para pessoa.
O enrosco é que esse medicamento exige alguns cuidados para ser, de fato, absorvido pelo organismo: deve ser tomado em jejum, de 30 a 60 minutos antes da primeira refeição do dia, e apenas com água. Essas restrições dificultam a aderência à medicação.
“Tem gente que se esquece de tomar o remédio, não faz uso regular ou interrompe porque fica assintomático e acha que está bem”, relata Sgarbi.
O recado que fica é: não deixe de realizar o exame de TSH se fizer parte do grupo de risco e, caso seja diagnosticado, siga o tratamento à risca. Ele deve se estender por toda a vida para que seu corpo não saia do ritmo.