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Abril Azul: a alimentação pode ajudar no tratamento do autismo?

No mês da conscientização do transtorno do espectro autista (TEA), entenda por que a alimentação pode ser um desafio para essas crianças

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 12 abr 2022, 16h16 - Publicado em 12 abr 2022, 16h07
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  • Pessoas que fazem parte do transtorno do espectro autista (TEA) têm, entre suas características, repetir padrões e ter interesses bastante específicos. Esse comportamento pode ser levado à mesa por algumas crianças, o que é chamado de seletividade alimentar.

    Essa escolha limitada pode levar a deficiências nutricionais. “Como há crianças autistas que vão se interessar muito por um único assunto, sabendo tudo sobre navios de guerra ou sobre metrô, há quem prefira apenas um único alimento. Já tive um paciente que só comia brócolis”, relata Erasmo Barbante Casella, neurologista da infância e adolescência do Hospital Israelita Albert Einstein.

    Algumas só gostam de purês, outras não aceitam a densidade da carne ou decidem que só comem o que for de uma cor específica.

    Tudo isso pode ser resposta a uma hipersensibilidade, tanto para paladar, quando para sons, cheiros e texturas, deixando a alimentação monótona, relata Patrícia Consorte, pediatra especialista em nutrição materno-infantil, de São Paulo.

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    “Com o passar dos anos, se não houver uma intervenção correta, isso irá contribuir para o déficit proteico, de vitaminas e minerais que podemos encontrar nesses pacientes, além de ser um dos motivos de maior angústia dos pais”, completa a pediatra.

    Como há uma diversidade grande de manifestações clínicas dentro do espectro, há outros fatores que podem interferir na boa alimentação. Entre eles, o atraso no desenvolvimento motor oral, que impactam na fala e no processo de mastigação.

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    Claro, não é toda criança autista que terá problemas desse tipo, mas eles são mais esperados nesse cenário. Um estudo realizado pela University of Massachusetts Medical School, de 2010, já estimava que 41% dos pequenos com TEA apresentam mais recusa alimentar do que os com desenvolvimento típico, 18%.

    Já uma revisão publicada no Journal of Autism and Developmental Disorders no ano passado aponta que a seletividade na alimentação é algo comum na infância, mas essa prevalência aumenta entre 51% a 89% na população que convive com o TEA.

    Como melhorar a seletividade alimentar no autismo

    Os médicos explicam que é possível superar as dificuldades com um passo de cada vez. Neste contexto, faz diferença contar com uma equipe multidisciplinar, que vai agir na questão comportamental como um todo e, com isso, conseguir resultados na alimentação.

    Podem fazer parte dela o pediatra, um nutricionista, um terapeuta ocupacional e psicólogos experientes. Durante o processo de reabilitação, são oferecidos estímulos táteis e contato com diversas texturas e apresentação de novos alimentos.

    “Não é simples encontrar profissionais especializados em TEA, que têm experiência para lidar com essas questões, mas, com paciência, os pais podem estimular o filho a ir melhorando o seu cardápio”, afirma Casella.

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    + Leia também: O que é autismo, das causas aos sinais e o tratamento

    Como crianças autistas lidam bem com regras, faz sentido, por exemplo, ter horários corretos de alimentação. “Não precisa ser rígido, e nem é recomendado que seja assim, mas é importante que todos da casa sentem à mesa, que a hora da refeição seja algo tranquilo e prazeroso para todos da família”, aconselha o neurologista.

    Nessa hora, vale deixar outros alimentos à disposição para caso a criança decida experimentar, e elogiá-la se conseguir vencer um desafio.

    A seletividade pode ocorrer em qualquer idade. Portanto, outra dica é estimular o portador, desde cedo, a tocar alimentos, deixando que ela os leve à boca, para que, da brincadeira, ele entre, mais tarde, nas refeições.

    Patricia avisa que a melhora é gradual. “Primeiro, ele tolera o alimento no mesmo ambiente, para depois interagir com ele, sentindo interesse ainda em uma espécie de brincadeira, mesmo que seja com garfo ou colher. Ele passa, então, a cheirar o item, depois a tocar, para enfim provar e comer de fato”, conta a pediatra.

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    É possível, ainda, para apostar na mudança de apresentação do alimento. “Se ele não come carne, desfie e ofereça para que ele chupe e se acostumar com o sabor, por exemplo”, aconselha Casella.

    O que as crianças autistas preferem comer?

    Cada criança autista com seletividade alimentar terá a sua história. Alguns estudos, no entanto, tentam mapear as preferências delas.

    Carboidratos são a preferência desse grupo, segundo análise de estudos do Journal of Autism and Developmental Disorders. Pão branco, pizza, bolos, biscoitos, sorvetes são fortes do cardápio. É mais fácil para elas, ainda, consumir doces do que itens amargos e azedos.

    Mas atenção: essas preferências, em específico, aumentam as chances de sobrepeso, obesidade, diabetes e cáries dentárias.

    Glúten, caseína e probióticos ajudam no tratamento do autismo?

    conexão cérebro-intestino
    Influência da conexão cérebro-intestino é estudada no autismo (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
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    Não é simples lidar com restrições alimentares infantis. Além disso, existem promessas de melhora de sintomas com ajustes na dieta. Assim, muitas famílias acabam recorrendo a tratamentos alternativos, como dietas sem glúten e também sem caseína (proteína do leite e derivados).

    “Há muitos estudos sobre isso, mas nenhum deles é relevante a ponto de certificar de que essa é uma boa prática”, alerta o neurologista do Einstein. “Além de não ter efeito, proibir a criança de alguns poucos alimentos que ela gosta é muito sofrido para todos”, completa o médico.

    + LEIA TAMBÉM: Tratamentos alternativos: fique atento aos riscos

    Essas investigações têm sido feitas porque parte das crianças com TEA apresentam sintomas gastrointestinais. “Isso parece acontecer pela redução da produção de enzimas digestivas e uma alteração na microbiota intestinal, com uma proliferação maior de fungos e bactérias, inflamação da parede intestinal”, explica Patricia.

    Ou seja, portadores do transtorno do espectro autista podem ter as paredes do intestino mais porosas, e apresentar problemas como refluxo, constipação e diarreia.

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    Estudos relevantes conseguem explicar diversas doenças ao fazer a relação entre o intestino e o cérebro. Tratar um poderia melhorar o outro, e vice-versa. Mas ainda é cedo para aplicar tais fatores ao TEA.

    “É preciso investigar se há uma intolerância a esses alimentos, o que pode, de fato, irritar o sistema digestivo. Fora disso, não vale a pena entrar nessas dietas”, avalia o neurologista.

    Nessa linha de pensamento de tratar o intestino para facilitar o trabalho do cérebro, médicos e cientistas tentaram avaliar a inclusão de probióticos na alimentação dessas crianças.

    O objetivo é reduzir inflamação, mal-estar gastrointestinal e ainda aliviar os sinais do TEA – mas ainda não há nada relevante sobre o tema.

    Uma revisão de estudos sobre o tema publicada no International Journal of Molecular Sciences descreve diversos benefícios dessa dieta para o trato gastrointestinal. Os pesquisadores entendem, no entanto, que ainda é necessário ir mais a fundo no tema para afirmar que esse é um meio de tratar as manifestações neuropsicológicas do autismo.

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