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Saúde, Negritude & Atitude

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A psicóloga Roberta Federico reflete sobre preconceito, racismo e os desafios para a saúde e o bem-estar da população negra em nosso país.
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Precisamos falar sobre a saúde mental da população negra

Psicóloga estreia coluna em VEJA SAÚDE discutindo os impactos do racismo no bem-estar mental da população negra brasileira

Por Roberta Federico
Atualizado em 3 nov 2020, 17h18 - Publicado em 27 out 2020, 10h10
racismo saúde mental
Pesquisas indicam que jovens negros estão mais expostos a quadros depressivos e suicídio no Brasil. (Ilustração: Edson Ikê/SAÚDE é Vital)
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O Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra, celebrado em 27 de outubro, estimula reflexões necessárias sobre questões como a equidade racial nos serviços de saúde e o bem-estar mental desses cidadãos. Devemos lembrar que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) foi instituída em 2009 e tem como marco o “reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde”.

Só faz sentido existir a PNSIPN porque, apesar de sermos um país com 54,9% da população negra (considerando pretos e pardos), se preserva um verdadeiro abismo racial no acesso à saúde, ao mesmo tempo em que se nega a existência do racismo por aqui. Nesse sentido, ela é uma estratégia para dar visibilidade aos efeitos do racismo institucional e trazer discussões para os profissionais e gestores de saúde aprimorarem e democratizarem as políticas públicas.

Um desafio particularmente urgente nesse contexto é o da saúde mental da população negra. Dados apontam que, no país, o suicídio é a terceira principal causa externa de mortes. Uma pesquisa do Ministério da Saúde publicada em 2018 revelou que jovens negros do sexo masculino e idades entre 10 e 29 anos são os que encaram o maior risco de morrer por suicídio. A probabilidade de suicídio nesse grupo é 45% maior do que entre jovens brancos na mesma faixa etária.

Sabemos que esse risco maior está relacionado ao sofrimento psíquico causado pelo racismo estrutural. Ele reforça a necessidade de discutirmos os efeitos do racismo na saúde mental da população negra. Inclusive porque o suicídio é a ponta do iceberg.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência de ansiedade no mundo e o número 2 nas Américas quando o tema é depressão. O racismo também influencia esses rankings. Situações de discriminação, sejam elas explícitas sejam sutis, produzem estresse e traumas. E esses traumas, acumulados ou vivenciados de maneira mais intensa, podem desencadear, no longo prazo, transtornos psicológicos.

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Em pleno século 21, ainda são comuns relatos de episódios de racismo e humilhação vivenciados por pessoas negras na infância, principalmente no ambiente escolar. Além do preconceito no emprego, também causa sofrimento psíquico receber um tratamento diferente nos estabelecimentos (inclusive de saúde), estar mais exposto à violência policial e vivenciar frustrações e constrangimentos em decorrência do pertencimento racial. Tudo isso pode desencadear sentimentos de menos valor e inadequação, com um custo emocional imediato ou posterior.

Pesquisas nesse campo relatam que os negros apresentam maiores índices de estresse crônico e que a experiência do racismo não só está associada ao desenvolvimento de uma identidade racial negativa como ao aparecimento de quadros depressivos. Abundam evidências conectando a vivência do racismo com o surgimento de problemas que vão da ansiedade ao estresse pós-traumático.

Com tudo isso em mente, precisamos estabelecer com urgência ações de fortalecimento da identidade étnico-racial e enfrentar os estigmas e repercussões do racismo na saúde mental. Aliadas a políticas de promoção da igualdade racial, essas medidas também são formas de produzir saúde, bem-estar e qualidade de vida para a população negra.

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