Antes de tudo, confesso minha total dependência dessa maçã. Quando pus as mãos na minha primeira maçã do tipo, olhava com ares desconfiados. Mas, como fazemos com os alimentos, arriscamos um pouco, percebemos suas características e finalmente ficamos adictos.
Vou dar algumas dicas: essa maçã pertence ao século 21, mudou completamente a vida de milhões de pessoas… e não é um alimento, embora já seja usada para abastecer a geladeira e garantir o almoço ou o jantar. Calma que, se ainda não está me entendendo, já vai descobrir ao que me refiro.
Atualmente, muito se discute sobre quais alimentos responderiam pela obesidade no planeta. Os eleitos são os mais variados possíveis, como chocolates, refrigerantes, biscoitos, massas, hambúrguer. O pintor colombiano Fernando Botero, famoso por seus quadros de mulheres rechonchudas no século 20, estaria com uma visão futurista da obesidade em um período onde os alimentos acima não eram consumidos como hoje? Certamente não.
Além disso, a moda das dietas não para de se renovar. A cada estação surge uma – mas nenhuma oferece resultados prolongados ou sustentáveis a enorme maioria da população. Do contrário, o mundo estaria mais magro, certo?
Se a responsabilidade pela obesidade não é de um ou outro alimento (e nem mesmo só da alimentação como um todo), quem paga essa conta então? Resposta: aquela maçã!
Agora saque seu celular do bolso. Ele pode até não ter a tal maçã desenhada na parte da trás, mas muito provavelmente é um smartphone. Era a isso o que me referia.
O mundo moderno se encontrou nos dispositivos eletrônicos móveis que pagam contas sem irmos ao banco, chamam o taxi sem caminharmos até o ponto, fazem compras sem visitarmos o supermercado. Ah, e quase esqueci: também fazem ligações de qualquer canto do planeta e a qualquer hora sem a necessidade de um orelhão (para a geração mais nova, estou falando de um aparelho fixado em locais públicos e que você põe MOEDAS para conversar com seus amigos. Acredite, isso existe!).
Nosso gasto de energia diário caiu aproximadamente 600 calorias nas últimas duas décadas. Sabe quando você vai até a academia, sobe na esteira, sua aos montes e, ao final, aparece que gastou 600 calorias? Parabéns! Você atingiu o gasto calórico de um sedentário de 20 anos atrás, quando os smartphones não existiam. É evidente que esse exercício programado, com intensidade controlada, traz outros benefícios, porém a conta do gasto energético é essa aí mesma.
Eu não descarto a necessidade de educação alimentar. Na França, a batata frita se chama frite. E uma matéria recente de lá demonstrou que as crianças desconheciam qual alimento era utilizado para fazer a tal frite. Educação é combater a desinformação com fatos comprovados e dar autonomia para escolhas alimentares bem embasadas e responsáveis, sejam elas quais forem.
Me lembro até hoje de uma amiga que fez uma horta em casa para que os filhos conhecessem os alimentos que comeriam já no jardim. Tinha rabanete, cenoura etc. Até que um dia uma praga destruiu as plantas.
Apesar da má notícia, julgo que isso foi uma educação completa! Ora, a horta precisa de cuidado diário, água e, assim como uma criança, de atenção às pragas e doenças que naturalmente ocorrem.
A tecnologia nos alimentos
Todos nós adoramos tecnologia, exceto na comida. Quando falamos de alimentos, queremos ver a árvore. Eu, particularmente, adoro consumir meu iogurte com mel, mas o mel não é recomendado para crianças, porque ainda não ensinaram a abelha a pousar em lugares livres de coliformes fecais antes de depositar esse líquido viscoso no favo. Conclusão: o fato de ser natural não representa segurança alimentar.
A tecnologia que tanto gostamos em nossa vida moderna nem sempre é saudável, assim como o alimento in natura, sem tecnologia, não representa garantia de saúde.
Antes de cortar ou eleger algum alimento como responsável pela obesidade ou por qualquer outra coisa, pense na maçã que está em seu bolso e lembre de gastar a energia que ela economiza em sua vida. Emagrecer é mindset (ou uma mudança de pensamento), não uma cruzada contra um único responsável.
Observação: esse texto foi inspirado em uma conversa com amigos as vésperas do Natal de 2017. Obrigado Luciana, Fernanda e Zé.