Dados oficiais permitem estimar que aproximadamente 10% da população adulta brasileira tenha diabete — segundo o Ministério da Saúde, o problema atinge 5,2% dos homens e 6% das mulheres. Dentre as pessoas acima de 65 anos, a incidência salta para 21%, ou seja, um a cada cinco brasileiros nessa faixa etária tem o diagnóstico confirmado. Tudo isso é motivo de extrema preocupação.
Muito mais do que ser uma condição por trás de níveis elevados de glicose no sangue, o diabete pode gerar com os anos complicações graves, que incluem cegueira, impotência sexual, dificuldade de cicatrização de feridas e problemas circulatórios capazes de resultar em amputação de membros. Tem mais: a condição aumenta muito o risco de infarto e de acidente vascular cerebral (AVC).
Estudos demonstram que o risco de se ter infarto aumenta 40% nos diabéticos homens e 50% nas mulheres. Esses dados deixam claro que há justificados motivos para combater e tentar prevenir a doença. A grande maioria dos diabéticos possui o tipo 2 do problema, que tem origem no envelhecimento e na falta de alguns cuidados com a saúde — ganho de peso, sedentarismo e dieta desequilibrada influem muito em seu surgimento. O tipo 1 é aquele que costuma aparecer na infância ou juventude, e se deve a uma deficiência na produção de insulina pelo pâncreas. Ambos aumentam o risco de problemas cardiovasculares.
Prevenir e enfrentar o diabete exige mudança de comportamento, que pode ser mais facilmente atingida se órgãos públicos, sociedades médicas e a população unirem forças. A atividade física deve ser estimulada e ensinada desde os primeiros anos da vida escolar. Praças e ruas devem ser mais bem iluminadas e apresentarem melhores condições de segurança para que as pessoas possam praticar corridas e caminhadas com tranquilidade.
Alimentos processados, em especial aqueles ricos em carboidratos ou que contenham teores exagerados de gordura, deveriam ser taxados. O consumo de frutas, legumes, verduras e proteínas de alta qualidade, por sua vez, precisa ser estimulado e (por que não?) até subsidiado. Estamos falando de questões relevantes à saúde pública.
Campanhas educacionais devem ser feitas para que todos conheçam o risco que o diabete representa e, mais ainda, que é possível evitá-lo ou manejá-lo. Temos testemunhado, em alguns hospitais públicos, resultados excelentes com controle e até reversão dos níveis de açúcar no sangue de pessoas que se conscientizam da importância da atividade física e da perda de peso e conseguem, graças a esse esforço pessoal, domar a doença. Elas passam a ter qualidade e expectativa de vida muito positivas.
Também é importante que se criem e desenvolvam núcleos de convivência de indivíduos com diabete, nos quais a troca de experiências e a ajuda mútua e solidária possam contribuir para aspectos psicológicos e sociais com impacto direto na resposta ao tratamento. Esses grupos podem ser encontrados nos órgãos públicos de saúde, ONGs ou serviços de voluntariado.
Quando o diabete já foi diagnosticado, o tratamento correto, o acompanhamento médico e as mudanças de estilo de vida são decisivos. Respeitando esses pilares, é possível conviver bem com a doença, mantendo um ritmo normal no trabalho, na família e no meio social. Embora tenha carga genética e hereditária, o diabete é, tantas vezes, uma consequência do descuido com a saúde — descuido esse que pode tornar a vida bem amarga. Pois então que unamos força para ganhar essa batalha… Quem a vence vai lucrar com uma vida mais longa e saudável.
*Dr. Ibraim Masciarelli Pinto é cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)