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Poliomielite, uma companheira da vida toda

Sequelas da paralisia infantil são irreversíveis, e reforçam a necessidade de vacinação

Por Mário Sérgio Rodrigues Ananias, administrador e paciente que tem sequelas da pólio*
Atualizado em 7 dez 2023, 08h53 - Publicado em 7 dez 2023, 08h51
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Sequelas de poliomielite podem durar a vida toda (Infográfico: Estúdio Coral / Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)
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Eu nasci no meio do ano de 1957, quando as construções de Brasília e da Usina Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, estavam começando.

Ainda nesse ano, fui infectado pelo vírus da poliomielite – curiosamente, o mesmo ano em que, nos Estados Unidos, uma extensa campanha de vacinação contra essa infecção foi promovida, com a vacina Salk.

Desde então, tenho uma relação contínua com a pólio, ou a paralisia infantil. Sequelas de poliomielite são irreversíveis. Ainda que não se trate de um casamento, tive que aprender a viver e conviver com as sequelas dessa infecção “até que a morte nos separe”.

Foi aí que vi como as Pessoas com Deficiência (PcDs) são enxergadas por muitas pessoas, inclusive hoje em dia. Somos as pessoas com defeito, ou os inválidos, ou os aleijados. Lidamos com diferentes adjetivos negativos durante nossa jornada.

+ Leia também: Ministério da Saúde substituirá vacina oral da pólio pela injetável a partir de 2024

Essa visão relega um contingente enorme de pessoas – quase um quinto da população – a ser percebido apenas como dignas de piedade e de compaixão, mas nunca como indivíduos úteis e capazes de contribuir para a família e o estado. Além de enfrentarmos as adversidades da própria deficiência, precisamos ter paciência frente a esse tipo de discriminação, que contribui para a nossa exclusão social.

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Ainda que as vacinas tenham extirpado a poliomielite do Brasil, restaram focos da doença em países da Ásia e da África. E a enorme facilidade de tráfego rápido entre continentes nos lembra de que, a qualquer momento, podemos ser alvo de novos focos ou surtos, caso não haja empenho pela imunização.

Ao vacinar as crianças, os núcleos sociais mais próximos a elas ficam também protegidos – é o efeito da imunidade coletiva, ou imunidade de rebanho. Então, quais as razões para não vacinar as crianças?

Acredito, pela larga experiência de luta como PcD, que as justificativas para isso são todas injustificáveis. Preguiça, ignorância quanto aos riscos e custos envolvidos; irresponsabilidade; más influência; e, ao meu ver, a mais desumana delas: obscurantismo religioso, eivado de medos e crendices.

Trafegar pela vida com sequelas, enfrentando barreiras arquitetônicas ou naturais, sendo alvo de incompreensões, preconceitos e aversões, não é uma tarefa banal. Assim é que muitos de nós, PcDs, sucumbimos ao analfabetismo, ao subemprego, à indigência, à dependência de programas assistenciais.

+ Leia também: O que pensam os brasileiros sobre a vacinação de crianças e adolescentes?

Reconhecer e entender esses gatilhos nos permitirá, a partir do tratamento dos agentes causadores do problema, reduzir ou eliminar suas consequências. Foi assim com a poliomielite.

Inicialmente, em 1840, Jakob Heine, em parceria com Karl Oskar Medin, estabeleceu a poliomielite como entidade clínica. Em 1908, Karl Landsteiner isolou o poliovírus, agente causador da poliomielite. Em 1953, Jonas Edward Salk apresenta a primeira vacina eficaz contra a doença. Sete anos depois surge um imunizante mais completo e seguro, desenvolvido por Albert Bruce Sabin.

Da mesma forma que o processo avançou a partir do conhecimento dos primeiros cientistas, também a cultura de se tirar as PcD do ostracismo e trazê-las ao convívio vem sendo um contínuo aprendizado. Os resultados, em pleno início do novo século, são ainda incipientes. Mas pelo menos o bom caminho parece estar definido.

*Mário Sérgio Rodrigues Ananias é administrador, gestor público e autor do livro “Sobre Viver com Pólio”. Teve paralisia infantil aos 6 meses de idade.

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