Nos últimos anos, o Brasil presenciou mudanças consideráveis no que diz respeito à saúde bucal da população. Em 2015, o governo federal estimava que 90% dos municípios brasileiros contavam com equipes de atendimento na área. No entanto, os avanços não conseguiram acabar com um problema que tem na prevenção a melhor forma de combate. Falamos da doença periodontal, também conhecida como gengivite ou periodontite. Uma das principais causas de perda dentária, ela atinge cerca de 90% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e no Brasil também representa um desafio.
A doença periodontal é caracterizada pela inflamação e destruição dos tecidos de proteção (gengiva) e suporte (osso, cemento e ligamento periodontal) dos dentes. A principal causa é a higiene bucal insuficiente associada à suscetibilidade do sistema imunológico. Sem a limpeza adequada da boca, bactérias, restos de alimentos e células mortas produzem o chamado biofilme bacteriano – popularmente conhecido como placa bacteriana. O biofilme pode provocar a inflamação da gengiva (a gengivite em si), que, se não tratada, evolui para periodontite.
Os riscos da periodontite são grandes. Sem os devidos cuidados, ela pode levar à perda das estruturas que sustentam o dente na boca (osso, ligamento e cemento) e, em estágios mais avançados, causar a perda dos dentes.
Mesmo sendo um mal silencioso, que normalmente não gera dor, a periodontite apresenta certos sinais que muitas vezes são ignorados, mas precisam servir de alerta. Sangramento gengival, mau hálito, inchaço gengival, amolecimento dos dentes e até mesmo sensibilidade são detalhes que acendem o sinal vermelho. Nenhum desses sintomas deve ser encarado como normal e o indivíduo precisa relatar a ocorrência de qualquer um deles ao cirurgião-dentista.
Vale ressaltar que mesmo quem tem boas condições de higiene oral não está livre dos riscos da doença periodontal. Fatores genéticos podem influenciar na predisposição da formação do biofilme bacteriano. Além disso, tabagismo e estresse contribuem para o aumento dos riscos. Somente um cirurgião-dentista poderá fazer o diagnóstico correto e promover um tratamento adequado.
Elo com o diabete
Nem todo diabético sabe, mas a doença marcada pelo excesso de glicose na circulação também pode causar danos à boca. Diabéticos têm maior probabilidade de desenvolver a periodontite. Diversos fatores influenciam na progressão e na agressividade da condição, como tipo de diabete, idade, hiperglicemia e anormalidades da resposta do sistema imune.
A relação entre diabete e doença periodontal é uma via de mão dupla. A patologia aumenta as chances de que o paciente sofra de periodontite, mas o tratamento odontológico pode auxiliar o controle metabólico dos diabéticos, influenciando inclusive a sensibilidade à insulina.
Na gravidez
Quem também tem razões extras para se preocupar com a doença periodontal são as grávidas. Durante a gestação é comum ocorrerem sangramentos na gengiva, devido às alterações hormonais. O acompanhamento dessa manifestação é fundamental, assim como o tratamento caso a doença se desenvolva.
A diminuição da proteção natural, causada pelos hormônios, reduz a efetividade da barreira, além de promover vasodilatação — com consequente aumento na circulação sanguínea —, o que pode causar efeitos indesejados. A chamada gengivite gravídica deve ser tratada preferencialmente no segundo trimestre da gravidez, pois pode trazer riscos para a mãe e para o bebê. As gestantes precisam ficar atentas à necessidade de manutenção da higiene oral, visitas ao cirurgião-dentista, alimentação adequada e, de novo, nenhum sinal deve ser ignorado.
No tratamento do câncer
Procedimentos como quimioterapia e radioterapia, empregados em pacientes oncológicos, fragilizam a imunidade e podem aumentar o risco de gengivite. Dessa forma, os cuidados periodontais têm importância crucial em pessoas com câncer e podem representar um diferencial considerável na qualidade de vida. O ideal é que o acompanhamento da saúde da boca ocorra antes, durante e após o tratamento, para minimizar a probabilidade de doenças bucais e perdas dentárias, além de complicações que podem envolver, inclusive, a saúde geral do paciente.
O controle da periodontite
O tratamento da doença periodontal não recupera o que foi perdido, mas interrompe o avanço da doença. Ou seja, a periodontite não tem cura, mas é uma doença crônica controlável. A manutenção correta da higiene bucal é o primeiro passo e, nesse sentido, deve ser garantida grande atenção à escovação. O cirurgião-dentista que acompanha o paciente é a pessoa mais indicada para orientá-lo sobre as técnicas de higienização.
Para complementar os cuidados, não pense duas vezes e mantenha sua rotina de visitas ao cirurgião-dentista, profissional capacitado para avaliar, diagnosticar e planejar as necessidades e tipos de tratamento. Em casos mais complexos, indica-se a consulta e a avaliação de um periodontista.
* Dra. Luciana Scaff Vianna é cirurgiã-dentista e secretária da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)