Gestação e puerpério: também é importante cuidar da saúde mental da mãe
Qual o real impacto da gravidez, do parto e do puerpério na mulher? Uma psicóloga aborda esse momento único – e repleto de desafios – na vida
Assim que se descobre grávida, a mulher já começa a passar pelas transformações que chegam com a maternidade. E não somente as físicas e hormonais, mas principalmente as mudanças emocionais.
Conforme a gestação se desenvolve, surgem medos e preocupações. Por ser tudo muito novo, é um período propenso ao surgimento ou agravamento de quadros de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros.
A saúde mental materna nunca esteve tanto em pauta. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada cinco mulheres tem pelo menos um episódio de transtorno mental ao longo da gravidez e até um ano após o parto.
Para ampliar o cuidado com a saúde integral da mulher, foi sancionada a Lei nº 14.721/2023, que prevê a ampliação da assistência psicológica às mulheres no período que vai desde a gravidez, passando pelo parto, até o puerpério fisiológico, ou seja, entre 40 e 60 dias após parto.
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A lei obriga hospitais e estabelecimentos de saúde de gestantes, públicos ou privados, a desenvolverem atividades de conscientização sobre a saúde mental das mulheres grávidas e puérperas. Publicada, publicada em 09 de novembro de 2023, ele passa a valer em 180 dias.
Tornar-se mãe é um período que traz também uma intensa fragilidade emocional, que se agrava diante de dificuldades como violência doméstica, complicações na gestação e parto, gravidez na adolescência e dificuldades socioeconômicas.
Sendo assim, ter assegurado o direito à assistência psicológica é dar visibilidade a tais dificuldades e oferecer apoio profissional e psicoeducação sobre as mudanças que chegam com a gestação e puerpério. Só assim para diagnosticar e conduzir bem o cuidado para promoção do bem-estar mental e integral da mulher.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os sintomas de depressão impactam 26,3% das mulheres brasileiras no período de 6 a 18 meses após o parto. Ainda de acordo com o estudo conduzido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), destacam-se entre os fatores associados à depressão:
- História prévia de depressão
- Gravidez não planejada
- Baixa condição socioeconômica
- Uso abusivo de bebida alcoólica e tabagismo
Para se beneficiar da assistência psicológica promovida pelo SUS, as gestantes, parturientes e puérperas devem, primeiro, passar por avaliação com profissional de saúde durante o pré-natal. Aí é possível fazer o encaminhamento para um psicólogo perinatal.
Ter assistência psicológica durante a gestação, parto e puerpério é efetivo tanto para o diagnóstico, manejo e tratamento de transtornos perinatais (depressão gestacional, depressão pós-parto, transtorno de ansiedade) como para evitar esses problemas.
Ainda que não haja a presença de um transtorno efetivamente, receber educação e informação acerca do puerpério fisiológico e emocional e da mudança de vida após a chegada do bebê certamente contribuem para atravessar esse período da forma mais segura e confiante.A assistência psicológica também é um grande aliado quando há gestação de risco, contribuindo para a compreensão maior da dinâmica que se estabelece, bem como para alívio da sobrecarga emocional. Essa é, certamente, uma área que precisa ser valorizada.
*Katherine Sorroche é psicóloga e especialista em saúde mental da mulher e parentalidade