A acromegalia é uma doença esporádica, resultante da superprodução do hormônio do crescimento (GH), normalmente ocasionada por um tumor na glândula hipófise, que fica no cérebro. Calculamos que aproximadamente 30 mil brasileiros convivem com ela, sendo que há cerca de 2 500 novos casos diagnosticados anualmente.
O principal desafio diante do problema hoje é a detecção precoce, já que a extensão das complicações e do risco de mortalidade está diretamente relacionada ao tempo de exposição ao excesso do GH no organismo. Mesmo assim, estudos mostram uma duração média dos primeiros sintomas até o diagnóstico de cinco anos, e cerca de um quarto dos pacientes espera mais de uma década para receber o laudo correto.
O principal sintoma é o crescimento acelerado e desproporcional das extremidades do corpo, como mãos, pés, nariz, lábios, língua, queixo, testa e orelhas. Sinais que, muitas vezes, passam desapercebidos pelo paciente e seus familiares ou são atribuídos a outros fatores como ganho de peso e envelhecimento, até que surja uma complicação mais preocupante.
Em crianças e adolescentes, a acromegalia causa crescimento exagerado, provocando um quadro conhecido como gigantismo. Por isso, é imprescindível falar sobre a doença tanto para o público leigo como para os profissionais da saúde, motivo pelo qual a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) elaborou uma campanha a respeito.
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Hoje, o tratamento da condição é multidisciplinar: envolve cirurgia, medicamentos e, em alguns casos, radioterapia. O objetivo é o controle da produção excessiva de GH pelo tumor na hipófise e, consequentemente, a melhora do quadro clínico, da qualidade e da expectativa de vida.
Quando o paciente é tratado desde os primeiros sintomas, conseguimos reverter boa parte das deformidades decorrentes da doença, especialmente aquelas relacionadas ao aumento dos tecidos moles, e normalizar a expectativa de vida.
A acromegalia pode se manifestar em indivíduos de ambos os sexos, em qualquer fase da vida, tendo um pico de incidência ao redor dos 40 anos. Apesar de vivermos em um país com contribuições científicas expressivas sobre o tema, no Brasil ainda é difícil identificar o problema em suas fases iniciais, principalmente porque o endocrinologista, especialista que trata a doença, raramente é o primeiro médico procurado.
Embora não seja uma enfermidade comum, é muito provável que médicos e outros profissionais de saúde deparem com um paciente com a doença pelo menos uma vez ao longo de suas carreiras. Daí a importância de conhecê-la. Com olhar atento, ela pode ser identificada até no aperto de mão, quando o paciente chega ao consultório. Se a pessoa apresenta as extremidades muito grandes, já temos um sinal de alerta.
Encurtar o período de latência, entre o início da doença, o diagnóstico e o tratamento, é fundamental para melhorar a saúde, a produtividade e a qualidade de vida desses indivíduos, assim como reduzir os custos associados ao tratamento da acromegalia e suas complicações.
* Cesar Luiz Boguszewski é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem)