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Retrospectiva 2019: as notícias mais importantes para a saúde do Brasil

Boas novas, boatos infundados e fatos realmente preocupantes. Veja um resumão do ano no mundo da saúde

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 22 dez 2020, 12h12 - Publicado em 23 dez 2019, 17h52
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  • Mesmo em um ano tão polarizado, numa coisa todo mundo concorda: 2019 foi tão intenso que ficou até difícil de acompanhar tudo que estava acontecendo. Pois na área da saúde não foi diferente.

    Aproveite o clima de fim de ano para ler nossa retrospectiva de acontecimentos marcantes dos últimos doze meses:

    1) O sarampo voltou de vez

    Depois de muitos alertas sobre a queda histórica na cobertura vacinal, o sarampo ressurgiu com força no Brasil. Foram mais de 11 mil casos confirmados da doença — em 2018, tivemos outros 10 mil — e o país perdeu o certificado que atestava a eliminação do problema em território nacional.

    Outras nações também apresentaram aumentos expressivos no número de casos, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a informar que vivemos o maior surto desde 2006.

    A atenção dada à enfermidade também levou a novas descobertas, como a de que, em adultos jovens, os sintomas podem ser um pouco diferentes e o fato de que esse vírus é capaz de gerar um apagão no nosso sistema imunológico.

    Além da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola), outras vacinas enfrentam crises de popularidade no mundo inteiro. Em relatório recente, a OMS estima que uma em cada dez crianças deixou de tomar imunizantes essenciais em 2018.

    2) Um novo subtipo do HIV foi descoberto

    No fim do ano, cientistas anunciaram um novo subtipo do HIV, o L. É a primeira vez que isso acontece desde 2000, ano da criação de diretrizes para classificar as cepas do vírus. Essa versão pertence ao grupo M, que está por trás de 90% dos episódios de aids.

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    Identificada originalmente na República Democrática do Congo, ela pode ter se espalhado para outros países. O achado impacta o diagnóstico, tratamento e prevenção da doença.

    3) A discussão sobre a rotulagem de alimentos segue empacada

    Em 2018, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que iria mudar o rótulo dos alimentos para transmitir informações mais claras sobre os teores de sódio, açúcar e gordura dos alimentos. Em 2019, organizações ligadas ao direito do consumidor, associações da indústria e conselhos de profissionais de saúde apresentaram suas propostas.

    No fim das contas, a entidade encaminhou para consulta pública um modelo próprio, inspirado nas sugestões dos envolvidos no debate. O prazo para avaliação popular da proposta da Anvisa terminou no início de dezembro, mas os resultados ainda não foram divulgados.

    A demora nas decisões e os longos prazos estipulados para a adequação da indústria são motivo de crítica por parte de organizações, a exemplo de Aliança Pela Alimentação Adequada e Saudável.

    4) Estamos mais perto de eliminar a poliomielite…

    … e, paradoxalmente, sob a ameaça de ela voltar a fazer estragos. Explicamos. Em outubro, especialistas da Iniciativa para a Erradicação Global da Pólio, grupo vinculado à OMS, anunciaram que o subtipo 3 do vírus da poliomielite foi erradicado do planeta.

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    Agora só falta uma cepa selvagem para acabar de vez com a paralisia infantil: é a 1, que ainda circula no Paquistão e Afeganistão. Só que, aqui no Brasil, os índices de vacinação contra a doença estão abaixo do recomendado desde 2016. Apesar de distante, basta um viajante infectado e uma população não imunizada adequadamente para que a pólio volte a dar as caras por aqui.

    5) A hora e a vez das “carnes” vegetais

    O crescimento de pessoas vegetarianas, veganas e flexitarianas (que limitam bastante o consumo de carne) impulsionou a indústria alimentícia a criar alternativas aos produtos de origem animal. De acordo com o Google, em informação enviada à Exame, houve um aumento de 4 100% nas buscas pelo termo “plant based” no Brasil entre 2015 e 2019.

    Em 2019, surgiu o Futuro Burguer, que agora já conta com “carne” moída e almôndegas. Na mesma onda, a Seara anunciou a própria linha de alimentos que tenta imitar aparência, textura e aroma da carne. Entre os produtos, hambúrguer, quibe e nuggets.

    Para chegar a esse resultado, as empresas empregam tecnologia de ponta, mas é preciso ficar atento aos teores de sódio e gordura presentes nessas misturas. Afinal de contas, são mais alimentos ultraprocessados nas prateleiras.

    6) Uma doença misteriosa reforçou o perigo do tabagismo

    Sob a promessa de ser menos perigoso do que o tradicional, o cigarro eletrônico virou febre entre os jovens. E acabou mostrando que não é, nem de perto, inofensivo.

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    Nos Estados Unidos, uma doença misteriosa e fatal, batizada de EVALI, lesionou seriamente os pulmões de mais de 2 mil usuários desses dispositivos em 2019. Os dados são do Centro de Controle de Doenças do americano.

    A causa do problema ainda é investigada, mas se suspeita de uma toxina presente no líquido que, ao ser aquecido pelo cigarro eletrônico, gera o vapor aspirado pelo usuário. Ou mesmo de substâncias do óleo da maconha, que pode ser fumado por meio do dispositivo.

    Em setembro, um publicitário de São Paulo foi internado com um quadro de pneumonia agravado pelo uso do vaporizador. A comercialização de dispositivos do tipo é proibida no Brasil, porém ele é encontrado na internet e em viagens ao exterior.

    No mais, um estudo da Universidade da Califórnia indica que a combinação entre o uso de cigarro normal com o eletrônico é especialmente danoso no médio prazo, causando casos adicionais de asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

    7) Remédio à base de maconha liberado no Brasil

    No último mês de 2019, a Anvisa liberou a venda de produtos derivados de maconha para fins medicinais. Eles poderão ser comercializados em farmácias e drogarias mediante prescrição médica.

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    Hoje, alguns indivíduos até conseguem importar o CBD, remédio à base do canadibiol, um dos princípios ativos da planta. No entanto, o processo é burocrático lento.

    O plantio, contudo, segue proibido. Mesmo que ele seja destinado a fins puramente medicinais ou para pesquisas.

    8) A epidemia de dengue explodiu

    A incidência aumentou sete vezes nesse ano no país. Entre 30 de dezembro de 2018 e 24 de agosto de 2019, foram registrados mais de 1,4 milhão de casos, uma média de 6 mil por dia. No ano passado, foram 205 791 notificações.

    Minas Gerais e São Paulo foram os estados mais atingidos pela epidemia de dengue, mas a região Sul se destacou pelo aumento — por lá, houve uma alta de 3 224%.

    Em dezembro, o Ministério da Saúde alertou ainda para a reintrodução do sorotipo 2 do vírus no Rio de Janeiro. Como não circula no estado há algum tempo, muitas pessoas não têm imunidade contra ele. Outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti também cresceram em território nacional, caso de chikungunya e zika.

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    9) A reação psicogênica à vacina do HPV deu o que falar

    Desde 2015, casos de jovens que sofreram dores de cabeça, convulsões e outros sintomas após tomarem a vacina do HPV pipocaram no Acre. Foram mais de 80 — sendo que os últimos oito apareceram no fim de 2019.

    Sofrendo com a falta de apoio dos profissionais de saúde, familiares começaram a fazer campanha contra a vacina. Em paralelo, o Ministério da Saúde encomendou uma investigação minuciosa do assunto para pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). A conclusão do trabalho, divulgada recentemente: reação psicogênica à vacina.

    Trocando em miúdos, o medo da vacina — desencadeado por notícias falsas e vídeos nas redes sociais — gerou reações em massa nos jovens que nada tinham a ver com os componentes da injeção em si. A história foi contada direitinho em uma reportagem que você pode ler clicando aqui.

    Mas uma coisa é certa: a vacina contra o HPV é segura e pode eliminar o câncer de colo de útero, se administrada em larga escala na população. Como se fosse pouco, ela também reduz o risco de tumores de pênis, ânus e até de cabeça e pescoço.

    10) O combate do Ministério da Saúde às fake news fez aniversário

    Em agosto, o projeto Saúde Sem Fake News, a força-tarefa do órgão dedicada a esclarecer boatos, completou um ano. O Ministério anunciou que quase 12 mil notícias foram desmentidas pelo serviço.

    Quem está em dúvida sobre um conteúdo divulgado pelas redes sociais pode encaminhá-lo pelo Whatsapp ao número (61) 99289-4640. Cada tópico é esclarecido com técnicos do Ministério da Saúde.

    Você também consegue mandar essas perguntas para a gente aqui da SAÚDE e conferir as respostas no blog É Verdade ou Fake News?

    11) A obesidade no Brasil cresceu, assim como o estilo de vida saudável

    Divulgada em julho, a edição mais recente do Vigitel, pesquisa feita por telefone pelo governo, atualizou o perfil da saúde do brasileiro. Descobriu-se, por exemplo, que o índice de obesidade no país saltou quase 70% entre 2006 e 2018.

    A boa notícia é que parece haver maior adesão aos hábitos saudáveis. O consumo regular de vegetais, por exemplo, subiu 15%. Ainda assim, ele segue baixo no geral: só 23% dos entrevistados adotaram essa prática. Já a taxa de adeptos da atividade física cresceu 25%.

    12) Epidemia de sedentarismo na adolescência

    Adultos entre 35 e 44 anos se declararam mais ativos no Vigitel, porém a história é outra entre os mais novos. Em novembro, a OMS mostrou que 83% dos adolescentes brasileiros são sedentários.

    Falta de espaços ao ar livre, novas tecnologias e mitos afastam o jovem do exercício. A entidade recomenda ao menos uma hora diária de atividade física moderada ou intensa por dia.

    13) Crises ambientais ameaçaram a saúde do brasileiro

    As queimadas na Amazônia aumentaram 110% entre janeiro e agosto desse ano. Segundo a Fiocruz, os incêndios causaram 2,5 mil internações a mais de crianças da região por problemas respiratórios. Fora isso, os poluentes podem viajar longas distâncias e provocar estragos em boa parte do território nacional.

    E teve também o óleo que chegou ao litoral brasileiro com potencial para causar danos entre quem foi exposto a ele.
    Dados alarmantes sobre desmatamento, agrotóxicos, contaminação das águas e poluição atmosférica agravam ainda mais o contexto atual. Fizemos um podcast sobre o assunto.

    14) Psicodélicos como remédio

    O uso de substâncias psicodélicas para tratar doenças psiquiátricas, principalmente a depressão, ganhou popularidade em 2019. Impulsionada por resultados positivos em estudos, compostos como LSD e MMA podem se transformar em medicamento no futuro — desde que com muito critério, claro.

    A representante da classe mais próxima de ser liberada para fins terapêuticos é a escetamina. Trata-se de uma versão da cetamina, ou “Special K”, droga utilizada desde os anos 1970.

    A Anvisa atualmente estuda autorizar a prescrição do composto, adaptado em forma de spray nasal e administrado apenas dentro de ambientes hospitalares, para casos de depressão resistente. A resposta talvez saia em 2020.

    15) Parto em discussão

    Em agosto, virou lei no estado de São Paulo o PL 435/2019, que garante à gestante o direito de optar pela cesariana a partir de 39 semanas de gravidez. O projeto foi alvo de polêmica, devido ao alto número de cesáreas realizadas no Brasil e aos benefícios cientificamente comprovados do parto normal.

    Ainda nesse campo, outro debate que ganhou as manchetes foi o banimento do termo violência obstétrica — que indica intervenções desnecessárias e negação de direitos básicos ao binômio mãe-bebê — das diretrizes do Ministério da Saúde. Em junho, o órgão voltou atrás e reconheceu a legitimidade da expressão.

    16) Tratamentos revolucionários contra o câncer chegaram ao Brasil

    Foi aprovado no país o primeiro remédio que não foca no local, mas sim no perfil genético do câncer. Trata-se do larotrectinibe, da farmacêutica Bayer, indicado para todo tipo de tumor sólido, desde que possua uma mutação específica. A liberação segue a tendência batizada de “agnóstica”, que olha para a composição molecular da doença, ao invés do órgão em que se instala.

    Outra novidade bacana da oncologia nacional é que pesquisadores da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, testaram pela primeira vez as chamadas CAR-T Cells, estratégia que reprograma as próprias células imunes do paciente para combater o câncer. Os resultados foram animadores.

    Infelizmente, o voluntário que participou do experimento — e viu a própria enfermidade regredir após o fracasso de outros tratamentos — morreu em um acidente.

    17) A iniciativa que vai mapear o genoma da população

    O lançamento do projeto DNA do Brasil, que pretende sequenciar o código genético de aproximadamente 15 mil pessoas, deu seu pontapé inicial nos primeiros dias de dezembro. A proposta é incluir o perfil tupiniquim nas pesquisas genômicas conduzidas no mundo.

    De todos os DNAs avaliados pela ciência até agora, quase 80% têm ancestralidade predominantemente europeia. Considerar outras etnias é importante, porque esses dados são usados no mundo todo, incluindo o Brasil, para criar exames que calculam riscos de doenças e tratamentos que silenciam mutações por trás de inúmeras doenças.

    18) A SAÚDE lançou um podcast

    E, modéstia à parte, o Detetives da SAÚDE é bem bacana. Nós reunimos profissionais de peso para discutir temas relevantes à qualidade de vida dos brasileiros, junto com o time de jornalistas da redação. Que tal aproveitar os dias de recesso para ouvir os episódios, que estão disponíveis em diversas plataformas?

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