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Taxa de suicídio entre indígenas é mais do que o dobro da média nacional

Estudo inédito avaliou dados dos últimos 20 anos em todas as regiões brasileiras; Mato Grosso do Sul tem mais casos

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein*
24 out 2023, 18h00
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Taxa de suicídio entre os indígenas brasileiros é duas vezes e meia maior do que a da população geral (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Divulgação)
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A taxa de suicídio entre os indígenas brasileiros é duas vezes e meia maior do que a da população geral. O dado é de um estudo inédito, que mapeou pela primeira vez todas as regiões e os estados do país nos últimos 20 anos, conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado no The Lancet.

Pesquisas anteriores feitas na Austrália, Canadá e mesmo no Brasil já tinham apontado que grupos minoritários têm maiores taxas de suicídio.

“Mas no Brasil só existiam estudos localizados, restritos a regiões ou povos específicos”, diz Jacyra Azevedo Paiva de Araújo, pesquisadora da Fiocruz Bahia, uma das líderes do trabalho.

Agora, os autores fizeram um levantamento das estimativas de suicídio a partir dos dados do sistema de informação de mortalidade em todo o país entre 2000 e 2020, disponibilizados no DataSus (Sistema de Informática do Sistema Único de Saúde).

+ Leia também: O que dizer e o não dizer para alguém em risco de suicídio

Os números revelaram uma taxa de 17,57 mortes a cada cem mil habitantes entre povos originários, contra 6,35 na população geral. Os maiores índices foram registrados na região Centro-Oeste, particularmente no estado do Mato Grosso do Sul. Lá, só no ano de 2008, a taxa foi dez vezes maior do que a média nacional. O Amazonas ficou em segundo lugar. O grupo mais afetado é de homens jovens, na faixa dos 10 aos 24 anos.

“Há diversas possíveis explicações, mas baseado em estudos anteriores, sabemos que exclusão socioeconômica, falta de perspectiva de trabalho, desemprego, pouco acesso a tratamento em saúde mental e uso de etílicos são fatores importantes”, diz Araújo.

O Mato Grosso do Sul concentra os maiores índices em todos os anos avaliados.

“Esse estado tem uma história de deslocamento de povos originários desde a chegada dos jesuítas e dos colonizadores portugueses. Depois, se tornou um grande produtor agrícola e de gado, com grande concentração de terras em poucas propriedades, gerando conflito entre indígenas e não indígenas. Isso, associado à baixa renda e pouco acesso à educação, provavelmente aumentou o risco de suicídio”, avalia a pesquisadora.

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Estudos anteriores com jovens Guarani-Kaiowá, por exemplo, mostram que a taxa de suicídio na mesma etnia é diferente em cidades com diferentes taxas de desemprego e oportunidades.

+ Leia também: Depois do suicídio: o que fazer por aqueles que ficam

Os dados também revelaram uma tendência de aumento ao longo do tempo, inclusive entre não indígenas. Hoje, o suicídio mata mais do que os acidentes de motocicleta no Brasil.

“Enquanto as taxas globais de suicídio vêm caindo, o Brasil está na contramão dessa tendência”, diz o psiquiatra Luiz Zoldan, coordenador de Saúde Mental do Hospital Israelita Albert Einstein.

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O que leva ao suicídio?

“Trata-se de um fenômeno multifatorial, que envolve desde fatores precipitantes, como lutos, desilusões amorosas, desemprego, vergonha, até outros elementos como a desigualdade econômica que gera uma iniquidade no acesso a cuidados de saúde mental, o estigma em torno das doenças mentais e a violência”, diz o especialista.

No caso dos adolescentes, especula-se que também possa estar associado às mídias sociais. “Elas trazem a pressão por uma vida perfeita, por desempenho e produtividade constante, além da questão do bullying tanto virtual quanto real, os ‘haters’ e os cancelamentos.” Já entre os idosos, a solidão é um dos principais fatores de risco para o adoecimento mental.

Quem comete suicídio nem sempre está em depressão. Há também os atos impulsivos, relacionados a algum evento traumático ou que envolve muita culpa ou vergonha.

Leia também: Os estados de violência a que a nossa juventude está exposta

“É preciso reparar no comportamento da pessoa e abrir um espaço de escuta e conversa, livre de julgamentos”, orienta Zoldan. “Deve-se sempre acolher, validando seus sentimentos, e dar suporte para procurar ajuda especializada, se for o caso.”

Grupos como indígenas e negros normalmente são muito expostos à vulnerabilidade e trazem outros desafios. “Precisamos primeiramente saber quais são os fatores de risco que essa população enfrenta, além de oferecer mais acesso à saúde mental e melhores condições socioeconômicas”, diz Araújo.

Os especialistas explicam que as pessoas mudam de comportamento antes de tentar o suicídio. Entre os sinais de mudança, a pessoa passa a agir de forma muito diferente, como, por exemplo, se era extrovertida e começa a se isolar, ou se era gentil e acaba ficando mais irritadiça.

A pessoa começa a usar falas em tom de despedida, a organizar a vida financeira, herança, seguros, e normalmente comenta que a vida não vale a pena, que tem vontade de desaparecer, entre outros sinais. Se notar alguma mudança em alguém próximo, ajude-a a procurar um terapeuta o quanto antes.

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*Conteúdo publicado originalmente na Agência Einstein

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