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Perca o medo do medo

Reação serve para nos proteger dos perigos. Mas, quando passa dos limites e se converte em fobia, causa uma pane no sistema

Por André Bernardo (texto), Laura Luduvig (design), Mediaproduction/Getty Images e Midjourney (ilustração)
19 abr 2024, 14h29
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Medo pode se transformar em fobia (Ilustração: MediaProduction/Getty Images e Midjourney/Veja Saúde)
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Na adolescência, a escritora inglesa Kate Summerscale tinha dois pavores: o de ficar ruborizada e o de viajar de avião. Ela se lembrou fortemente disso em 2019, quando começou a realizar a pesquisa para O Livro das Fobias e Manias – 99 Obsessões para Entender a Mente Humana (Intrínseca).

Logo descobriu que o primeiro medo tem o estranho nome de eritrofobia (erythros, em grego, significa “vermelho”) e o segundo, aerofobia (aér, no mesmo idioma, quer dizer “ar”). “Dar nome à sua fobia pode ser um alívio e tanto para quem sofre dela”, afirma a autora de 58 anos. “Além de descobrir que não está sozinho no mundo, você ganha uma esperança de cura.”

O horror a ficar corada e o receio de andar de avião, porém, nunca impediram Kate de fazer o que ela bem entendesse. Nem falar em público, nem tirar férias. Mas não é todo mundo que escapa das garras do medo assim.

Em fevereiro passado, durante uma viagem a Londres, onde nasceu, o avião em que a escritora estava passou por uma turbulência, aquelas trepidações que, na pior das hipóteses, podem abrir o bagageiro e fazer uma mala despencar pela cabine. Mesmo sabendo que elas não derrubam avião, Kate entrou em pânico. Só se acalmou depois que começou a bater papo, como se nada estivesse acontecendo, com a passageira ao lado.

“Sempre tive receio de voar. Às vezes, até evitava pegar avião. Mas ia sempre que necessário. Não chegava a ser uma fobia”, relata. Ocorre que, diferentemente da escritora britânica, milhões de pessoas pelo planeta são imobilizadas e perseguidas por uma sensação incontrolável. “Mas, em geral, as fobias não são difíceis de tratar. Infelizmente, o que acontece é que a maioria das vítimas prefere se esquivar do problema a enfrentar aquilo que lhe dá calafrios”, pondera.

+ Leia também: Fobia de academia: como superar a resistência e não deixar de malhar

Em seu novo livro, Kate catalogou 66 fobias. Algumas são até bem conhecidas, como o medo de cães (cinofobia), dentistas (odontofobia) e escuridão (nictofobia). Muitas delas inspiraram clássicos do cinema, como Um Corpo Que Cai (1958), de Alfred Hitchcock (medo de altura), Dublê de Corpo (1984), de Brian De Palma (claustrofobia, ou lugares confinados), e Aracnofobia (1990), de Frank Marshall (aranhas). Outras, porém, são bastante inusitadas, como o pavor de algodão (bambacofobia), balões (globofobia) e penas (pteronofobia).

“Steve Jobs só usava suéter de gola alta porque sofria de fobia de botões”, desvenda a autora. “Acredite: um botão pendurado ou solto pode ser motivo de repulsa e aversão.”

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O cofundador da Apple não é o único famoso a ter um pavor fora do comum. O escritor Stephen King tem verdadeiro horror ao número 13 (triscaidecafobia) e o ator Johnny Depp, a palhaços (coulrofobia). “Você nunca sabe se eles estão felizes ou prestes a arrancar seu rosto com uma mordida”, explicou o intérprete do capitão Jack Sparrow da franquia Piratas do Caribe.

O fato, um tanto curioso, é que muitas das fobias descritas no livro são tratadas no consultório de psiquiatras e psicólogos.

Um dos mais requisitados é o médico Tito Paes de Barros Neto. Aos 67 anos, ele é considerado um dos maiores especialistas no assunto no Brasil. E, agora, lança uma nova edição, revista e atualizada, do livro Sem Medo de Ter Medo – Um Guia Prático para Ajudar Pessoas com Pânico, Fobias, Obsessões, Compulsões e Estresse (Objetiva).

No Hospital das Clínicas de São Paulo, onde atende há mais de 30 anos, já passaram pacientes com todo tipo de medo patológico: sair de casa, pegar chuva, ver sangue, cair doente, ficar cego, se engasgar com a comida… São sensações e situações que não deveriam suscitar piadas, pois limitam a qualidade de vida. A boa notícia é que, com algumas estratégias, é possível domá-las.

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Clique para ampliar (Editoria de Arte/Veja Saúde)
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Os especialistas explicam que há dois tipos de medo: o racional, quando o indivíduo sabe o que teme e por quê, e o irracional, quando não faz a menor ideia. Se essa segunda vertente compromete o dia a dia de uma pessoa, escancara-se a fobia. “O medo é um sentimento que todo ser humano tem. E é importante que tenha porque ele nos protege de ameaças”, diz Paes de Barros.

Um exemplo clássico para explicar quão fundamental ele é à nossa sobrevivência é o de atravessar a rua. Em última instância, é o receio de ser atropelado que nos leva a olhar para os lados e verificar se nenhum carro vai ultrapassar o sinal vermelho ou se nenhum ciclista está pedalando em sentido contrário. Se, na pior das hipóteses, um motorista imprudente não respeita e avança em nossa direção, o cérebro nos alerta para o perigo real e iminente.

Nessa hora, só temos duas coisas a fazer: lutar ou fugir. Como enfrentar um carro em alta velocidade não é uma opção das mais sensatas, só resta ao desafortunado pedestre correr o mais depressa possível rumo à calçada.

“Se não houvesse medo, não haveria vida. Já teríamos desaparecido da face da Terra há muito tempo”, afirma o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “O homem não sobreviveu porque tem garra afiada ou carapaça indestrutível. Sobreviveu porque consegue se antecipar aos riscos.”

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Clique para ampliar (Ilustração: MediaProduction/Getty Images e Midjourney/Veja Saúde)
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O que será que passa pelo nosso cérebro quando sentimos medo? A psicóloga Nataly Martinelli, autora de Fobia – Enfrentando com Coragem (Alta Life), destrincha tim-tim por tim-tim. Ela pinta a seguinte cena: quando ouvimos um barulho forte, como o latido de um cão ou a buzina de um carro, nossa audição pergunta a uma estrutura da massa cinzenta, o tálamo, se aquilo é normal. Na dúvida, ele aciona as amígdalas cerebrais, localizadas no cerebelo, que disparam o alarme: “Perigo! Perigo!”

Nessa hora, o hipotálamo, na base do cérebro, ativa o sistema nervoso simpático, que, por sua vez, avisa as glândulas suprarrenais para intensificar a produção de hormônios do estresse, como a adrenalina e o cortisol. Mais que depressa, tem início, então, uma série de reações químicas que preparam o indivíduo para encarar a ameaça ou escapar dela.

Que reações são essas? O coração dispara, as pupilas dilatam, a musculatura tonifica, as mãos transpiram… Dali a pouco, entram em cena o hipocampo e o córtex pré-frontal, de novo no cérebro. Enquanto o primeiro tenta se lembrar de situações parecidas que, no passado, não ofereceram riscos, o segundo procura assumir o controle da situação e tranquilizar a vítima de que o pior já passou.

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Ou seja: o cachorro estava preso à coleira ou o carro deu uma freada brusca. Por último, os dois avisam o hipotálamo que tudo voltou ao normal. “Quando você sente medo, ‘toma um banho’ de adrenalina e cortisol. Para quê? Para sobreviver ao perigo. Passado o susto, o cérebro ‘desliga’ o chuveiro”, compara Bernik. “Se não desligasse, essa descarga de adrenalina e cortisol, no longo prazo, poderia ser prejudicial à saúde.”

O medo é objeto de estudo não só de médicos e psicólogos, mas também de sociólogos. O irlandês Gareth Higgins publicou Como Não Ter Medo – Sete Estratégias para Enfrentar as Angústias e Viver Melhor (Latitude) e o italiano Eudes Séméria, Os Quatro Medos Que Nos Impedem de Viver (Principium), recém-chegados às livrarias brasileiras.

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No primeiro, Higgins trata o medo como se fosse um “professor” em sala de aula. É ele que nos adverte para afivelar o cinto de segurança toda vez que damos partida no carro ou para manter uma distância segura da beira do abismo quando nos arriscamos a tirar uma selfie.

“Não podemos evitar o medo. Nem devemos. Ele existe para nos manter sãos e salvos”, reforça. “Toda vez que sinto medo, me questiono: por que estou sentindo isso? Devo tomar cuidado, pedir ajuda ou, simplesmente, respirar mais devagar?” Boa pergunta!

No segundo livro, Séméria classifica o medo como um “sexto sentido”. “Ele não é sinal de fraqueza ou covardia. Muito pelo contrário. Fraco e covarde, no caso dos adultos, é quem se recusa a enfrentá-lo.” Às vezes, prossegue o italiano, é aconselhável fugir — de um cachorro raivoso, por exemplo. Mas, na maioria dos casos, os medos existem para ser afrontados. Como os quatro medos descritos no livro: de crescer, se afirmar, agir e se separar. “Muitos adultos insistem em se comportar como crianças. São imaturos emocionalmente”, argumenta.

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Clique para ampliar (Editoria de Arte/Veja Saúde)

Ok, o medo tem caráter produtivo e protetivo. Se não fosse ele, não estaríamos mais aqui para contar história. Mesmo assim, ninguém, em sã consciência, gosta de sentir o coração saindo pela boca, não é verdade? Alguns dos sintomas mais comuns do medo são bastante desagradáveis: falta de ar, boca seca, pernas trêmulas… Isso sem falar no baita susto que você leva ao ouvir a buzina do carro que furou o sinal ou da aparição do monstro na série de TV.

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Mas por que, então, algumas pessoas gostam de sentir um frio na espinha? Por que pagam para assistir a filmes de terror ou andar em montanhas-russas? Quem responde é Mathias Clasen, professor da Universidade Aarhus, na Dinamarca, e autor do livro Why Horror Seduces (“Por que o terror seduz”, em livre tradução), inédito no Brasil. “Somos atraídos pelo ‘medo recreativo’ porque, de certa forma, ele nos prepara para os perigos da vida e nos ensina muito sobre nós mesmos”, afirma.

“As pessoas que gostavam de assistir a filmes de desastres naturais, invasões alienígenas ou apocalipses zumbis souberam lidar melhor com o estresse provocado pelo isolamento social durante a pandemia de Covid-19”, defende o pesquisador. Não por acaso, os longas Epidemia (1995), de Wolfgang Petersen, e Contágio (2011), de Steven Soderbergh, figuraram entre os mais assistidos de 2020 nas principais plataformas de streaming.

Ambos falam, um tanto profeticamente, sobre vírus capazes de dizimar a humanidade.

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Então, recapitulando: se o medo é um sentimento que defende o ser humano de toda e qualquer ameaça, de onde vem e como se pode delimitar a fobia, sua versão sem pé na realidade? “O medo é nosso aliado. A fobia é nossa inimiga”, resume a psicóloga Neuza Corassa, fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM), em Curitiba. “Enquanto o medo nos motiva a lutar ou a fugir, a fobia nos paralisa. Somos incapazes de esboçar qualquer reação.”

A fobia também pode ser dividida em duas categorias: social, conhecida como timidez patológica, e específica. A específica leva o sujeito a temer, sem nenhum motivo aparente, um animal (cobra, barata ou pombo, entre outros), um ambiente (altura, floresta e trem) ou uma situação (voar, dirigir e andar de elevador).

Enquanto a fobia social se restringe, na maioria das vezes, ao pânico de falar em público e suas variações, como ir a uma festa ou comer em restaurantes, a específica se desdobra em várias outras: a eritrofobia e a aerofobia, de Kate Summerscale, são apenas duas delas. Há uma infinidade, diga-se.

“Você sabe por que sente medo, mas não desconfia por que sofre de fobia. Para piorar, a fobia é tão intensa que, às vezes, o aerofóbico nem precisa entrar em um avião para passar mal. Basta passar na frente de um aeroporto, ouvir o barulho de uma turbina ou ler sobre desastre aéreo para sentir um nó na garganta”, elucida a psiquiatra Ângela Scippa, coordenadora do Centro de Estudos de Transtornos de Humor e Ansiedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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Clique para ampliar (Ilustração: MediaProduction/Getty Images e Midjourney/Veja Saúde)

Em alguns casos, identificar a origem do mal (ou, pelo menos, tentar) ajuda bastante no tratamento. Há, pelo menos, três classes de fatores por trás de um quadro do gênero: traumáticos, genéticos e ambientais. O primeiro vem à tona depois que a própria pessoa passa por uma experiência ruim. Tem pavor de cachorro porque, no passado, levou uma mordida. A causa, nesse caso, é direta. Mas há também influências no DNA.

Um estudo inglês revelou que, no caso da fobia de sangue e ferimentos, 67% dos parentes próximos do fóbico apresentavam a mesma aversão. O terceiro e último elemento que conspira a favor do problema se dá quando você aprende a ter pânico ou repulsa de algo de tanto que viu ou ouviu os outros fazerem ou falarem mal daquilo — em geral, os pais.

Por exemplo: um homem tem fobia social porque, quando criança, o pai debochava dele toda vez que ele começava a falar. Outro caso: a mulher desenvolve pânico de barata porque, na infância, assistia à mãe espernear sempre que avistava o inseto na cozinha.

“Enquanto o medo é uma resposta temporária e proporcional a um perigo real, a fobia se caracteriza como reação persistente e desproporcional a uma ameaça imaginária”, diferencia Nataly, que, além de recorrer à psicoterapia, já atende pacientes com a técnica da exposição à realidade virtual — um simulador controlado de gatilhos. “O pior de tudo é que um temor pode trazer prejuízos para a vida do indivíduo.” Ou seja, mais estresse para a cabeça.

No ranking das fobias, o medo de avião ocupa o segundo lugar — está atrás somente do pavor de falar em público. “Em um funeral, muita gente prefere estar no caixão a fazer um discurso”, gracejou o humorista Jerry Seinfeld em um dos episódios da série que leva seu sobrenome. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, a aerofobia atinge cerca de 6,5% da população mundial — 13,9 milhões só no Brasil.

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Considerando ao menos um tipo de fobia, qualquer que seja, o percentual sobe para 15,5% — 33,2 milhões de cidadãos. Para quem sofre só de se imaginar voando, Nataly recomenda o uso da realidade virtual. Com óculos especiais, o paciente é imerso em um ambiente recriado que imita todas as etapas de um voo de verdade — da chegada à sala de embarque à decolagem e à aterrissagem na pista.

A psicóloga vê vantagens na tecnologia. O terapeuta tem mais controle daquela situação específica, o paciente mergulha num cenário digital, é possível aumentar e dosar o nível de intensidade das reações… Tudo feito em consultório de forma segura e não invasiva — inclusive para outros tipos de fobia.

Desvantagens? Há pelo menos duas: pode causar efeitos colaterais, como enjoo e náuseas, e não substitui o tratamento convencional, a terapia cognitivo-comportamental. A famosa TCC foi desenvolvida na década de 1960 pelo psiquiatra sul-africano Joseph Wolpe (1915-1997). É cognitiva porque encoraja o paciente a perder seus medos por meio de argumentos lógicos, e é comportamental porque expõe o indivíduo, gradual e sistematicamente, ao objeto de seu medo ou ansiedade.

“Recursos como a realidade virtual são ferramentas que não só complementam a terapia cognitivo-comportamental como potencializam seus resultados”, afirma a especialista em transtornos de ansiedade.

A TCC, o padrão ouro no tratamento de fobias, é composta, como o próprio nome diz, de duas partes. A abordagem cognitiva visa corrigir distorções de pensamento. No caso, são discutidos, nas sessões, argumentos para estimular os pacientes a rever e a encarar o medo de voar, entre outros perrengues.

Vai um exemplo: segundo cálculos do Conselho Nacional de Segurança do governo americano, a probabilidade de morte em um acidente de avião é de uma entre 11 milhões. Já as chances de passar dessa para melhor em um desastre de carro são de uma em 5 mil. Mesmo assim, há quem prefira se deslocar por longas distâncias de carro (ou de ônibus) a pegar uma ponte aérea. Contra fatos…

Já o segundo aspecto enfatizado pela psicoterapia é buscar mudar comportamentos. Para tal, a técnica usada é a da exposição gradual e assistida. O grau ou a hierarquia dessa exposição, esclarece Paes de Barros, varia de acordo com a fobia.

No caso do pavor de baratas, pode começar com a tarefa de segurar um desenho de um inseto em preto e branco e terminar com a missão hercúlea de presenciar uma barata solta — quem sabe num ambiente de realidade virtual. Entre uma e outra, dá para ler o clássico A Metamorfose, de Franz Kafka — a obra-prima em que o protagonista acorda transformado num inseto gigante —, manusear uma barata de plástico ou borracha e, ainda, segurar um recipiente de vidro com um espécime vivo lá dentro.

“Já fui chamado para atender uma paciente com ataque de pânico porque uma barata subiu em sua perna”, recorda o psiquiatra. “Nojo não é fobia. Se você é capaz de pegar um chinelo ou um inseticida para matar uma barata, você não tem o problema. Se tivesse, nem teria conseguido”, avisa.

Quem já sofreu um ataque de pânico, como aquele vivido pela paciente de Paes de Barros, não se esquece: coração acelerado, respiração ofegante, suor excessivo, entre outros sintomas. A única certeza que se tem é: “Vou morrer!”

Na hora do ataque, concordam os especialistas, não há muito o que fazer. Mas dois truques ajudam até o pesadelo acabar: a respiração abdominal e o relaxamento muscular. Com a primeira técnica, inspira-se o ar pelo nariz e expira-se pela boca lentamente. Na inspiração, a barriga é contraída; na expiração, relaxada. O tórax quase não se movimenta.

No relaxamento muscular, a estratégia se repete. O objetivo é tensionar a musculatura dos braços, das pernas, dos ombros e do rosto e, logo em seguida, soltá-la. Na respiração abdominal, cada movimento (inspiração e expiração) dura cerca de três segundos; no relaxamento muscular, são dez segundos.

“Em geral, o ataque de pânico dura apenas alguns minutos. Mas, segundo o relato de quem já passou por ele, são minutos que parecem horas”, conta Neuza. Por essas e outras, não dá para deixar o medo ditar as regras. Pelo contrário, não tenha medo de encará-lo.

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