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Como a nostalgia pode aumentar a felicidade durante a pandemia

Ao lembrar de momentos com saudade, o sentimento de tristeza do isolamento passa a ser compartilhado com a felicidade

Por Priscila Carvalho, da Agência Einstein*
2 nov 2021, 11h56
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  • Sentir nostalgia — ou lembrar vivências que deixaram saudade — pode ter efeitos genuinamente positivos, inclusive para lidar com a pandemia da Covid-19, de acordo com estudo feito por pesquisadores das Universidades de Southampton, na Inglaterra, e de Zhejiang, na China.

    A partir de um questionário, 3,7 mil participantes dos Estados Unidos, Reino Unido e China descreveram os níveis de solidão, nostalgia e felicidade que sentiam em uma escala de 1 (“de jeito nenhum”) a 7 (“muito”). Os dados foram coletados durante os primeiros dias da pandemia, com o início do isolamento social.

    Na análise, os pesquisadores observaram que, nos três países, os voluntários com uma taxa relativamente alta de solidão apresentavam uma média mais baixa de felicidade.

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    O que chamou atenção, no entanto, foi que a solidão também conduzia às memórias nostálgicas que, por sua vez, aumentavam a sensação de felicidade e combatiam a influência negativa da solidão.

    Cultivar a nostalgia leva à felicidade

    Para complementar os resultados do questionário, os pesquisadores testaram a ideia em outros três experimentos, com cerca de 200 pessoas em cada. Os voluntários foram divididos em dois grupos:

    • Em um, os participantes tinham que escrever quatro palavras sobre um evento nostálgico do passado. Na sequência, eles descreviam livremente, por três minutos, como essas experiências os faziam se sentir.
    • O outro grupo, que serviu de controle e comparativo, recebeu a mesma tarefa, porém sem a indicação de que as memórias induzissem uma nostalgia.

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    Os resultados mostraram que, na comparação com o grupo controle, os participantes nostálgicos apresentaram níveis de felicidade maiores — igual aos dados obtidos na primeira etapa da pesquisa.

    Ainda, após o experimento original, os voluntários do grupo da nostalgia foram induzidos a pensarem novamente em suas memórias e esse “impulsionador” levou, mais uma vez, a pontuações mais altas do sentimento.

    “A nostalgia aumenta a felicidade imediatamente após a manipulação e, com um impulsionador, até dois dias depois. É um recurso psicológico que pode ser aproveitado para aumentar a felicidade e ajudar a combater a solidão”, destacam os autores no artigo publicado no periódico Social Psychological and Personality Science.

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    Benefícios para a saúde mental

    Mesmo não sendo o primeiro estudo sobre o assunto, as descobertas trazem impactos principalmente para o campo da saúde mental, segundo Milena Fernandes Mata, neuropsicóloga da Vibe Saúde, pós-graduada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

    “A nostalgia aparece como um neutralizador e elemento protetivo, uma vez que estimula o aumento da felicidade e a permanência desta por até 48 horas. Com isso, pontuam a importância do conhecimento e discussões de tais resultados”, explica.

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    Para Mata, nutrir momentos nostálgicos é uma forma de mantermos a própria história e existência vivas, especialmente no caso da pandemia, que impôs uma barreira social extensa. “Passamos a preencher as lacunas com experiências passadas de afeto, na tentativa de lidar ou suportar essa falta”, diz a neuropsicóloga.

    Nostalgia pode ser ruim?

    Embora não seja o mais comum, vivenciar sentimentos nostálgicos também pode ser nocivo em alguns casos. Isso ocorre principalmente diante de idealizações que se tornam insuperáveis.

    O sentimento pode limitar a sensação de prazer nas relações e experiências presentes, e as lembranças passam a ser vistas com dor e desconforto. Em longo prazo, pode causar prejuízos, inclusive para a saúde mental.

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    Quando isso ocorre, é fundamental buscar ajuda de profissional capacitado, que pode indicar sessões de psicoterapia, remédios ou outras atividades que auxiliam no processo.

    *Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein.

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