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À caça de dopamina: quando a busca pelo prazer gera sofrimento

Psiquiatra analisa em livro por que o ser humano está cada vez mais preso a compulsões e dependente de válvulas de escape — e numa eterna frustração

Por Diogo Sponchiato
20 Maio 2022, 09h42
foto de representação de um arco-íris saindo da cabeça de uma mulher chorando
Pandemia resultou na piora ou no desenvolvimento de compulsões. (Foto: Paula Daniëlse/Getty Images)
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Dopamina. Esse é o nome do principal neurotransmissor do prazer, um mensageiro químico que perambula nas conexões entre os neurônios, ativando a sensação de realização plena. Ocorre que os mesmos circuitos nervosos responsáveis pela sensação de deleite se ocupam do sofrimento.

No fundo, é como uma gangorra. Só que, se ficarmos a todo momento pesando para o lado prazeroso, o brinquedo pode quebrar e a gente cair no lado sofredor. É com comparações assim que a psiquiatra americana Anna Lembke nos explica como o cérebro humano, ávido por recompensas, não raro entra num círculo vicioso de compulsão.

É um drama individual mas também coletivo, como deixa claro o título de seu livro publicado pela Vestígio: Nação Dopamina (clique aqui para ver e comprar).

Aprendemos a caçar prazer e desaprendemos a lidar com as dores do corpo e da mente, em um contexto de fácil acesso a um extenso cardápio de drogas, incluindo as digitais. O reflexo disso é o astronômico número de pessoas dependentes de substâncias lícitas e ilícitas, pornografia e redes sociais.

Na obra, Anna, que é professora da Universidade Stanford (EUA), utiliza seu próprio vício por “romances baratos” e histórias de seus pacientes para esmiuçar o desajuste entre nossa “fome” por dopamina e o ambiente ao redor. E, com base nos aprendizados que vieram com anos tratando casos de dependência, esboça um roteiro para enfrentarmos nossas compulsões.

 

capa do livro
(Capa: Vestígio/Divulgação)
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Nação Dopamina
Autora: Anna Lembke
Editora: Vestígio
Páginas: 256

+ LEIA TAMBÉM: A nova anatomia dos vícios: por que eles surgem e como domá-los? 

Entrevista com a autora

VEJA SAÚDE: Em que medida a pandemia mexeu com o conceito de “nação dopamina”? Ela reconfigurou nossa busca por felicidade e prazer?

Anna Lembke: A pandemia abriu tanto um caminho de melhora quanto de piora para nossa crise atual com a dopamina, dependendo de quem você é. Para muitos, aumentou o consumo de substâncias e comportamentos viciantes, especialmente as drogas digitais. A quantidade de tempo que as pessoas estão passando online jogando games, surfando nas redes sociais e assistindo pornografia decolou pelo mundo.

O consumo de álcool e maconha e as mortes por overdose de drogas também têm crescido em vários países. Ao mesmo tempo, a pandemia também tem sido um momento para se cuidar. Algumas pessoas começaram a reavaliar seu consumo e a pensar mais profundamente em como querem gastar seu tempo.

Nossa dependência pelo digital disparou. Tem solução para isso?

Está claro para mim que as mídias sociais e outros tipos de conteúdo digital funcionam como drogas. Quanto mais se consome, mais você quer. Nosso desejo por elas é infinito e a satisfação nunca é atingida. É um problema individual e coletivo, e assim requer soluções individuais e coletivas.

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No livro, falo bastante sobre o que nós como indivíduos podemos fazer, assumindo que os governos, as corporações e as escolas se mobilizarão um pouco no curto prazo. Mas isso não deve eximir o papel das organizações.

Ao contrário, precisamos de leis, regulamentações e incentivos financeiros para ajudar a conter nosso consumo coletivo excessivo. Isso inclui inovações tecnológicas que ajudem a visualizar a natureza viciante dos produtos online, ferramentas para monitorar o consumo, desincentivo financeiro quando o consumo viola os limites saudáveis, proibição de anúncios de drogas digitais para menores e espaços livres de telas nas escolas.

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A humanidade desaprendeu a lidar com o sofrimento? O aumento nas taxas de suicídio entre jovens seria um sintoma disso?

Nós redefinimos nossos níveis individuais e coletivos de dopamina nos isolando da dor e nos inundando de fontes de prazer. Eu acredito que estamos mais infelizes porque estamos mudando o ponto de ajuste hedônico do nosso cérebro.

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Precisamos de pouca dor para experimentar o sofrimento e prazeres cada vez mais potentes para experimentar uma quantia módica de felicidade. Nossa antiga rede de fiação neurológica é lamentavelmente incompatível com o moderno ecossistema de superabundância.

Estamos nos medicando mais para tentar minimizar esse desajuste?

Estamos prescrevendo antidepressivos demais. Eles são ferramentas úteis em casos extremos, mas têm suas compensações e podem deixar de ser efetivos no longo prazo.

Há alguma compulsão que mais a preocupa atualmente?

Ando muito preocupada com o crescimento da compulsão por sexo e pornografia. Pessoas com essas condições se escondem por causa dos estigmas e mal-entendidos ligados a esses comportamentos. São compulsões que podem ser devastadoras e ameaçar a vida de indivíduos vulneráveis, sobretudo homens. A internet explodiu esse problema no mundo inteiro.

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