O genoma do vírus Zika, coletado no organismo de mosquitos do gênero Culex, foi examinado por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco. Com o sequenciamento, foi descoberto que o vírus consegue alcançar a glândula salivar do animal, o que indicaria, segundo a instituição, que o pernilongo pode ser um dos transmissores da doença.
Os mosquitos do gênero Culex foram colhidos na Região Metropolitana do Recife, já infectados. A equipe do Departamento de Entomologia da instituição conseguiu, então, comprovar em laboratório que o vírus se replica dentro do mosquito e chega até a glândula salivar.
Acima disso, também foi notada a presença de partículas do vírus na saliva expelida do Culex. Ou seja, o inimigo é capaz de invadir o pernilongo, multiplicar-se, viajar até a glândula salivar dele e ser expelido para infectar outros seres vivos – inclusive a gente.
O impacto da descoberta
A ideia agora é analisar, entre outras coisas, a importância dessa transmissão. Em outras palavras, quão comum e fácil é para o zika se espalhar através do Culex. “Precisamos entender se ele é um vetor secundário, primário ou se não tem importância nenhuma na prática”, disse a pesquisadora Constância Ayres. “Isso vai depender de outros aspectos biológicos que são característicos dessa espécie, como a longevidade, a abundância em campo, a preferência de se alimentar com o ser humano”, completa.
Segundo ela, será necessário investigar tudo isso dentro do contexto urbano onde está a epidemia. E, claro, comparar essas características com a espécie que é hoje considerada o principal vetor – o Aedes aegypti.
Caso o pernilongo seja estabelecido como vetor importante, esse fato pode explicar a ocorrência de mais casos na região Nordeste, por exemplo, ou a relação de áreas sem esgoto com a quantidade de infecções. “O mosquito representa nossa falta de estrutura de saneamento básico. Isso é evidente em toda a cidade e favorece a sua distribuição”, comentou.
De população mais numerosa que o Aedes aegypti, o Culex poderia ser mais difícil de se controlar à primeira vista. Mas, para a pesquisadora, ocorre justamente o contrário. “A quantidade de criadouros do Aedes é infinita. Pode ser uma tampinha, um pneu, uma calha, piscina, caixa d’agua. E ele prefere água limpa. Mas o Culex gosta de água extremamente poluída, que são os canais, esgotos, fossa. Você consegue mapear e tratar”, afirma.
Este texto compila duas reportagens da Agência Brasil.