Vacina para vírus que causa bronquiolite é aprovada: saiba quem deve tomar
Anvisa autoriza comercialização do imunizante contra o vírus VSR em idosos no Brasil. Mas por que crianças não foram incluídas? Conheça essa história
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil aprovou o registro da primeira vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), um grande causador da bronquiolite, principalmente em crianças menores de 2 anos e idosos. Mas a liberação para o imunizante da empresa GlaxoSmith Kline (GSK), chamado Arexvy, prevê o uso somente em pessoas com 60 anos de idade ou mais, público para o qual foi testada a eficácia e segurança.
A aplicação da injeção é intramuscular, assim como as vacinas da gripe ou de Covid-19, em dose única.
“Quando observamos o impacto do vírus sincicial respiratório ao longo da vida, temos o risco maior em prematuros”, afirma a médica Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Mas o VSR também traz um risco de complicações grande em menores de 5 anos, em imunodeprimidos e entre os idosos, independentemente do estado imunológico”, completa.
De acordo com a GSK, a vacina demonstrou eficácia de 82,6% na prevenção de infecções pulmonares e das vias aéreas inferiores por VSR em idosos. Em quadros respiratórios severos, a eficácia foi de 94%.
A aprovação da Anvisa é o primeiro passo para que a vacina efetivamente chegue no braço dos brasileiros. A partir de agora, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) precisa estabelecer o preço máximo do produto. Além disso, serão feitos os procedimentos para importação da vacina pela GSK.
A previsão é de que Arexvy esteja disponível no mercado brasileiro em 2024, segundo a farmacêutica.
+ Leia também: VSR: vírus respiratório perigoso para bebês está em alta
Tudo isso, no entanto, não significa que a vacina contra o VSR estará na rede pública – ou mesmo que será coberta por planos de saúde. Consultado sobre a incorporação da vacina no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde afirmou em nota que a decisão depende de uma avaliação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
“A comissão avalia aspectos como eficácia, segurança, efetividade e impacto econômico da nova tecnologia no SUS. Por fim, a vacina deve ser ainda analisada pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), que definirá o preço teto do produto no país”, disse o ministério.
Essa mesma vacina foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência dos Estados Unidos semelhante à Anvisa, em maio deste ano.
O órgão regulador norte-americano também liberou o uso de um segundo imunizante contra o vírus. Desenvolvido pela Pfizer, ele é voltado para aplicação em gestantes para a proteção de crianças pequenas. O produto foi submetido pela empresa para apreciação da Anvisa em agosto e o processo segue em análise, de acordo com a agência.
Riscos do vírus sincicial respiratório
O VSR é uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e dos pulmões, que podem levar a casos de bronquiolite e de pneumonia.
“Esse vírus é responsável por internações, exacerbações de doenças respiratórias crônicas e mortes”, detalha o médico pneumologista Frederico Leon Arrabal Fernandes, diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT).
Especificamente sobre a bronquiolite, Fernandes explica que o VSR gera uma descamação de tecidos que, junto com o muco, formam um agregado de catarro e restos celulares, chamado de sincício. “Essa formação bloqueia estruturas pulmonares chamadas bronquíolos, o que dificulta a respiração e a troca gasosa”, completa.
Esse vírus afeta pessoas de qualquer idade, mas os quadros mais severos acontecem nos extremos de idade, como crianças menores de 2 anos e idosos que com maior dificuldade de eliminar a secreção produzida.
“Apesar da maior parte das infecções ocorrer em crianças, a mortalidade em idosos infectados é maior, o que leva à necessidade de proteger essa população”, destaca Fernandes. “Além disso, como toda vacina, quanto maior a população imunizada, maior a proteção pois reduz a circulação do patógeno”, arremata.
+ Leia também: Vírus sincicial respiratório (VSR): o patógeno que tira o sono dos pais
O VSR tem maior incidência nos meses de outono e inverno, mas circula durante todo o ano. A transmissão acontece pelo ar, por meio de partículas de saliva.
A infecção apresenta sintomas como febre baixa, dor de garganta e de cabeça e secreção nasal. O agravamento do quadro pode levar a febre alta, tosse persistente, dificuldade para respirar, chiado no peito e lábios e unhas com coloração roxa.
O diagnóstico, por sua vez, é feito pelos sintomas e, às vezes, com um exame de laboratório que detecta a presença do VSR na região da garganta.
Em 2023, foram notificados no Brasil mais de 228 mil casos e mais de 20 mil mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), condição que leva à hospitalização na maior parte das vezes. Os dados são do informe mais recente do Ministério da Saúde, publicado no final de novembro.
Desse total, ao menos 41% foram causados por vírus respiratórios. E, dentro desse recorte, 27% são resultado do VSR, que ficou atrás apenas da Covid-19, com 41% dos episódios. O vírus influenza veio depois, com 13% .
O ministério também traz dados do contexto da síndrome gripal, que considera sintomas mais brandos e não requer internação hospitalar. Até o final de novembro, entre os indivíduos menores de 10 anos, houve maior identificação de VSR (28%) e rinovírus (26%).
Já nas pessoas acima dessa idade, predominou a detecção de influenza (39%), coronavírus (27%) e rinovírus (24%). Entre os idosos de 60 anos ou mais, o destaque foi a circulação do vírus causador da Covid-19 (43%), seguido pela gripe (21%) e rinovírus (20%).
+ Leia também: Covid-19: veja o esquema vacinal de acordo com idade e condição de saúde
Prevenção
A prevenção do vírus sincicial respiratório requer medidas semelhantes às adotadas contra doenças como a Covid-19 e a gripe.
As recomendações incluem evitar o contato com pessoas infectadas, reforçar cuidados básicos de higiene como lavagem frequente das mãos com água e sabão e limpeza de objetos que podem estar contaminados, como brinquedos.
Também é importante manter os ambientes ventilados e evitar locais fechados e com aglomeração de pessoas.