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Vacina da dengue 2024: quem pode tomar e outras respostas sobre a Qdenga

Qual o público pode receber a Qdenga na campanha do SUS? E na rede particular? Quantas doses são aplicada? Um guia sobre a vacina da dengue

Por Lucas Rocha
Atualizado em 22 fev 2024, 12h40 - Publicado em 1 fev 2024, 10h40
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Vacinação contra a dengue previne o desenvolvimento de quadros graves e mortes (Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF/Divulgação)
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A vacinação contra a dengue no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS) começa em fevereiro de 2024, com a vacina Qdenga, do laboratório Takeda. Ela conta com um esquema de duas doses, que devem ser tomadas em um intervalo de três meses.

Os primeiros imunizantes chegaram em janeiro, com uma remessa de cerca de 750 mil unidades. Até o final do ano, está previsto o recebimento de um total de 6,5 milhões de doses, entre 1,3 milhão que serão doadas pelo laboratório e 5,2 adquiridas pelo Ministério da Saúde. Para 2025, estão contratadas mais 9 milhões de doses.

Com uma quantidade ainda limitada, a vacina não estará amplamente disponível para a população na primeira fase da campanha. Por isso, o Ministério da Saúde estabeleceu critérios para a aplicação em 2024 na rede pública.

Aqui, vamos responder as principais questões sobre o assunto: quem pode ou não pode tomar a vacina da dengue na rede pública e na particulara (e, nesse caso, quanto custa aproximadamente), como funciona o produto, o que fazer se já tiver apresentado dengue e por aí vai.

+ Leia também: Dengue em 2024: podemos estar perto de uma nova epidemia

Quem pode ser vacinado contra a dengue no SUS?

A estimativa do Ministério da Saúde é de que cerca de 3,2 milhões de pessoas sejam vacinadas nesse ano (são duas doses por pessoa, lembre-se), devido à capacidade limitada de fabricação pelo laboratório Takeda.

O planejamento inicial da campanha no SUS contempla indivíduos na faixa etária de 10 a 14 anos, 11 meses e 29 dias. Esse grupo foi escolhido por concentrar o maior número de hospitalizações por dengue depois da população idosa, para a qual a vacina não foi autorizada pela Anvisa.

Mas não basta estar dentro dessa faixa etária: é também necessário viver em localidades prioritárias (veja mais abaixo).

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Onde vai acontecer a vacinação contra a dengue?

Com o objetivo de integrar planejamentos, ações e serviços, o Brasil é dividido em áreas chamadas tecnicamente de “Regiões de Saúde”. Esses espaços são compostos por cidades próximas que compartilham características e redes de comunicação e infraestrutura semelhantes.

As áreas prioritárias para a vacinação contra a dengue foram selecionadas de acordo com critérios definidos a partir da avaliação do cenário epidemiológico da doença no país.

Conforme o ministério, o acerto foi pactuado com representantes de estados e municípios, levando em consideração recomendações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (Ctai) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao todo, foram selecionadas 37 regiões para a primeira fase da imunização contra a dengue, reunindo 521 municípios. Os critérios para a inclusão são:

  • Ter pelo menos um município de grande porte (mais de 100 mil habitantes)
  • Alta transmissão de dengue registrada em 2023 e 2024
  • Maior predominância do sorotipo 2 do vírus (contra o qual a Qdenga é especialmente eficaz)
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Os municípios que atingiram os requisitos estão distribuídos em 16 estados e no Distrito Federal. A lista de cidades selecionadas está disponível aqui, e contempla cidades como Guarulhos (SP), Belo Horizonte (MG), Duque de Caxias (RJ), Manaus (AM), Boa Vista (RR) e muitas outras.

+ Leia também: O que é a febre amarela e quem deve se vacinar contra ela?

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Vacinação contra a dengue começou em fevereiro no Brasil para público prioritário (Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF/Divulgação)

Quem não pode receber a vacina da dengue?

  • Crianças menores de 4 anos e idosos com 60 anos ou mais
  • Gestantes e mulheres que estão amamentando (lactantes)
  • Pessoas com hipersensibilidade aos componentes da vacina ou a uma dose anterior
  • Indivíduos com imunodeficiência congênita ou adquirida
  • Pessoas com infecção pelo HIV sintomática ou assintomática, desde que tenham um quadro de imunossupressão

+Leia também: Quem está com dengue não pode tomar quais remédios?

Por que idosos não podem ser vacinados contra a dengue?

A vacina Qdenga, aprovada para uso no Brasil desde 2023, tem indicação em bula apenas para pessoas de 4 a 60 anos de idade. Isso significa que não há grandes estudos confirmando a ação desse produto em crianças menores, ou nas populações mais velhas.

No entanto, é possível que novas pesquisas com a Qdenga tragam mais dados confiáveis de segurança e eficácia, o que pode abrir as portas a esses grupos no futuro.

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Como funciona a vacina?

A Qdenga se baseia principalmente no sorotipo 2 do vírus vivo atenuado da dengue, que fornece o arcabouço genético para os quatro tipos do vírus da dengue. Mas o imunizante é considerado tetravalente.

“Ele contém na formulação os quatro vírus atenuados e incapazes de causar a doença, mas com potencial de desencadear uma resposta imune. É o mesmo princípio de outras vacinas atenuadas que já utilizamos, como a tríplice viral, a febre amarela e para catapora”, detalha a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo.

A vacina protege contra todos os sorotipos da dengue?

O vírus da dengue conta com quatro sorotipos diferentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Por isso, uma pessoa pode ser infectada e desenvolver a doença pelo menos quatro vezes ao longo da vida – e as infecções subsequentes tendem a ser mais graves.

De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina teve eficácia comprovada em crianças e adolescentes contra os sorotipos 1, 2 e 3. A avaliação contra o tipo 4 foi inconclusiva devido à quantidade limitada de casos durante o estudo.

Ainda de acordo com a pasta, no que diz respeito ao público adulto, foram analisados apenas a capacidade de induzir a resposta imunológica (imunogenicidade) e a segurança do produto.

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+ Leia também: Calor, chuva e outro sorotipo criam cenário ideal para a dengue

Qual é a eficácia da vacina contra a dengue?

A vacina Qdenga apresentou eficácia de 84,1% de proteção geral contra a doença em resultados de estudos clínicos.

Um detalhe: o número variou para cada sorotipo do vírus:

  • DENV-1: 69,8% de eficácia
  • DENV-2: 95,1%
  • DENV-3: 48,9%

Para o sorotipo DENV-4, o reduzido número de casos observados nos testes não permitiu estabelecer um resultado de eficácia revelante do ponto de vista estatístico.

+ Leia também: Com mudanças climáticas, doenças causadas por mosquitos avançam pelo mundo

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Qdenga conta com um esquema de duas doses, que devem ser tomadas em um intervalo de três meses (Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde DF/Divulgação)
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A vacina da dengue dura quanto tempo?

O desenvolvimento da Qdenga contou com pelo menos 19 estudos clíncos, com a participação de mais de 28 mil crianças e adultos.

Os voluntários foram acompanhados por quatro anos e meio em uma pesquisa de fase 3. Esse estudo revelou uma prevenção de 80,2% dos casos sintomáticos 12 meses após a vacinação. O imunizante também atingiu o objetivo secundário de prevenir 90,4% das hospitalizações 18 meses após a aplicação.

De acordo com a Takeda, análises exploratórias mostraram que, ao longo do seguimento prolongado de mais de quatro anos, o produto evitou 84% dos casos de hospitalização e 61% dos casos de dengue sintomática na população total do estudo. Mas esses dados em particular precisam ser confirmados com outros experimentos.

Quem já teve dengue pode receber a vacina Qdenga?

Sim. A vacina é indicada independentemente de infecção prévia. No entanto, após o contágio pelo vírus da dengue, é recomendado um intervalo de seis meses para tomar o imunizante.

Cabe destacar que já existe outra vacina contra a dengue aprovada no Brasil, da farmacêutica Sanofi. No entanto, essa, sim, só é indicada para quem já se infectou ao menos uma vez. Essa e outras restrições fizeram com que o governo não a incorporasse no SUS anos atrás.

A vacina contra a dengue é segura e quais as reações adversas?

Sim. A vacina Qdenga foi aprovada para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023.

A decisão foi tomada com base nos resultados dos testes clínicos que confirmaram o perfil de segurança, qualidade e a capacidade de indução da resposta imunológica contra a doença.

O imunizante também foi avaliado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês). A comercialização na União Europeia foi aprovada em 2022.

Ainda assim, como toda vacina, ela pode gerar reações adversas, em sua grande maioria leves. Entre elas, estão:

  • Dor no local da injeção
  • Dor de cabeça
  • Fraqueza e sonolência
  • Febre
  • Diminuição do apetite

Posso tomar a vacina da dengue junto com outras?

A vacina contra a dengue pode ser aplicada simultaneamente com os imunizantes inativados do Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente,  segundo o Ministério da Saúde.

Quem não faz parte dos critérios do ministério deve se vacinar na rede privada?

A vacina Qdenga está disponível em clínicas particulares e farmácias com valores a partir de R$ 350 por dose. E, de novo, são duas doses por pessoa.

“É uma vacina que está licenciada para pessoas de 4 a 60 anos, então quem não tem a idade determinada no programa do ministério pode recorrer aos serviços privados de vacinação. É um imunizante recomendado nos calendários da SBIm”, diz Flávia.

Quais os sintomas da dengue e como se proteger

O Brasil enfrenta um aumento significativo de dengue em 2024. Dados do Ministério da Saúde apontam que, neste ano, foram registrados mais de 217 mil casos prováveis no país.

Os sintomas mais comuns da doença são:

  • febre alta (acima de 38°C)
  • dor no corpo e articulações
  • dor atrás dos olhos e de cabeça
  • mal-estar
  • falta de apetite
  • manchas vermelhas no corpo

No entanto, a infecção também pode ser assintomática ou apresentar quadros leves. Diante de sinais suspeitos, é recomendado buscar atendimento médico para o tratamento adequado dos sintomas.

Embora a chegada da vacina ao sistema público seja considerada um avanço, a limitação de doses e as restrições de uso do produto reforçam a necessidade de não abandonarmos outras medidas de prevenção.

“As pessoas devem seguir com medidas individuais de proteção, como o uso de repelentes de longa duração, de roupas claras e que protejam áreas expostas e de mosquiteiros e telas”, afirma o médico infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, assistente-doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Ele destaca ainda a possibilidade de recorrer a inseticidas ambientais (como os de parede) e, evidentemente, eliminar quaisquer criadouros do mosquito em casa. No mais, Stanislau de Araújo aponta que manter a temperatura dentro de casa mais baixa (com ar condicionado, se possível) reduz a atividade do mosquito, o que pode minimizar o risco de uma picada.

Ou seja, evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e de vírus como Zika e chikungunya, permanece a estratégia mais eficaz.

“Vacinando um percentual tão pequeno da população, é difícil termos um impacto grande no que diz respeito ao controle de doença.  A vacina é mais uma ferramenta, não a única”, arremata Flávia.

O ciclo de reprodução do inseto dura de sete a dez dias, podendo ser encurtado em dias de calor intenso. Quanto mais quente, maior a proliferação.

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) recomenda a verificação semanal do ambiente doméstico em busca de quaisquer recipientes que possam acumular água.

A lista inclui caixa d’água, calhas, galões e tonéis, pneus, garrafas, baldes, bandeja de ar condicionado e da geladeira, vasos de plantas, vasos sanitários fora de uso, lonas e piscinas.

Para facilitar a vistoria, que não leva mais do que dez minutos, a Fiocruz disponibiliza uma cartilha que pode ser impressa e utilizada para marcar a inspeção – baixe aqui.

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