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Por que uma vacina contra Covid-19 com eficácia superior a 50% já é útil

Mesmo se não conseguir prevenir todas as infecções, uma vacina contra a Covid-19 com eficácia "média" já beneficiaria muita gente em um contexto de pandemia

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 10 fev 2021, 09h18 - Publicado em 5 jan 2021, 14h40
Imagem de várias vacinas para coronavírus com tamanhos diferentes, que simbolizam eficácias diferentes.
Cada vacina para o coronavírus terá uma eficácia diferente. (Foto: Westend61/Getty Images)
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A Coronavac, vacina do Instituto Butantan e da Sinovac contra a Covid-19, demonstrou uma eficácia de 50% em seus estudos pré-aprovação no Brasil, segundo o Butantan. A da AstraZeneca e da Universidade de Oxford teve, em média, uma eficácia de 70%. Já as da Pfizer e da Moderna alcançaram mais de 90%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) pede que esse número atinja pelo menos 50% frente ao coronavírus.

Com números tão diferentes entre si, fica a dúvida: imunizantes menos eficazes são inúteis? Nada disso! “No cenário em que vivemos, quanto mais vacinas tivermos, melhor”, aponta o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Ora, estamos em uma situação de descontrole da pandemia em diversos países (entre eles o Brasil). A vacinação é a principal esperança para conter a Covid-19. “Reduzir em 50% o número de doentes já seria uma ótima notícia”, explica o médico.

Não à toa, o Reino Unido decidiu adiar a entrega da segunda dose da vacina da Pfizer. Isso para que mais britânicos tenham acesso rápido a pelo menos uma aplicação do imunizante. Mesmo que a eficácia desse esquema seja ligeiramente menor, ele teria mais impacto na taxa de mortes e hospitalizações por Covid-19 por garantir, no curto prazo, uma distribuição mais ampla. A proposta também vem sendo debatida em outras nações. 

Como a eficácia da vacina é determinada (e o que ela significa na prática)

O índice é calculado na fase 3 dos estudos com humanos. Essa é a última etapa antes dos pedidos de aprovação, que conta com dezenas de milhares de voluntários. Metade recebe a vacina em si, enquanto a outra (o chamado grupo controle) fica com um placebo. Ninguém sabe o que está tomando. 

A partir daí, os pesquisadores acompanham quantos participantes desenvolveram a Covid-19. “Ao chegar em uma quantidade pré-determinada de infecções, abrimos os dados para saber quantos voluntários receberam a vacina e quantos o placebo”, explica Kfouri. 

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A eficácia de prevenir a doença sai justamente da diferença entre essas duas turmas, considerando um período pré-determinado pelo estudo. Portanto, uma vacina com 50% de eficácia evitaria 50% dos casos de Covid-19 que seriam esperados se ela não tivesse sido aplicada

Eficácia para prevenir a Covid-19 não é a única métrica de sucesso

Claro que, quanto mais potencial para evitar casos da doença, melhor. E, de fato, pesquisadores, fabricantes e as autoridades têm focado mais nesse ponto, dada a urgência de conter os quadros sintomáticos e, assim, reduzir a quantidade de pessoas nos hospitais. Mas há outros parâmetros que entram em jogo ao avaliar os prós e os contras de uma vacina. 

“Ainda não temos dados sobre eficácia por subgrupo de idade, a duração da imunidade ou a redução na capacidade de transmissão do vírus”, exemplifica Kfouri. “Poderia ser melhor ter uma vacina com 60% de eficácia e com ação mais duradoura do que uma com 90%, mas que protege por apenas seis meses”, pondera.

Fora que é normal que elas não previnam 100% das infecções pelo coronavírus. A dose contra a gripe, por exemplo, tem cerca de 60% de eficácia. Até por isso é importante que muita gente esteja vacinada para não permitir a circulação livre do vírus e, com isso, resguardar esses azarados.

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Eficácia é diferente de efetividade

A eficácia é calculada a partir de estudos muitos controlados, com uma quantidade razoavelmente limitada de pessoas. Já a efetividade de um imunizante é medida a partir da sua capacidade de controlar a pandemia de Covid-19 na vida real. 

Kfouri aponta que a efetividade depende de quantas pessoas tiveram acesso à vacina e quantas tomaram as doses adequadamente. Ela também é afetada pelo transporte e pelo armazenamento adequados, pela capacidade de frear a transmissão do Sars-CoV-2, entre outros fatores. 

Esse potencial será medido na chamada fase 4 dos estudos, que é a análise da vacinação na população em geral. Além do número de casos, a segurança dos imunizantes continua sendo avaliada nesse monitoramento contínuo. 

Vacinas parecem eficazes contra casos graves 

Tanto a da AstraZeneca quanto a da Pfizer já deram indícios de que são 100% capazes de prevenir os episódios mais severos de Covid-19. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, anunciou em coletiva de imprensa que a Coronavac também demonstra eficácia total contra o surgimento de doenças graves. 

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Isso, se comprovado, é outro baita ganho. Ora, a pessoa vacinada até correria um pequeno risco de contrair o coronavírus e manifestar sintomas leves, mas a probabilidade de evoluir parar na UTI ou mesmo de morrer são mínimas. 

E um recado final: a única maneira segura de atingir a chamada imunidade de rebanho — número tão grande de imunizados que o vírus deixa de circular — é com a vacina. Mas especialistas alertam que, no momento, a principal preocupação é proteger o grupo de risco. “Não estamos em um ponto de pensar em um pacto coletivo pela saúde de todos, que é o mundo ideal da vacinação. Sequer temos doses para proteger os mais vulneráveis”, pondera Kfouri. 

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