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Um potencial remédio contra dependência de maconha feito com… maconha

O medicamento atua nos mesmos mecanismos cerebrais que a droga em si para reduzir a vontade de fumar e os sintomas de abstinência

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 6 dez 2019, 19h40 - Publicado em 23 jul 2019, 14h09
vicio em maconha
Componentes da maconha podem ajudar a atenuar a dependência por... maconha! (Ilustração: Marcelo Garcia/SAÚDE é Vital)
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A maconha é a terceira substância psicoativa mais utilizada do mundo, atrás apenas do álcool e do cigarro. Embora aparentemente seja menos tóxica que outras drogas ilícitas, fumá-la com frequência pode culminar em dependência química e outros problemas, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Estima-se que a dependência dê as caras em até 10% dos usuários. Atualmente, não há um remédio específico para frear a vontade incontrolável – mas uma opção desponta no mundo científico.

Trata-se do nabiximol, um spray aplicado embaixo da língua que contém 2,7mg de THC (tetrahidrocanabinol) e 2,5mg de CBD (canabinol). Sim, estamos falando dos dois principais componentes da maconha. Para ter noção, um baseado – o nome popular do cigarro feito com a dita cuja –, carrega entre 10 e 15mg de THC.

O nabiximol foi apresentado ao mundo pela primeira vez em 2005. Ele é o primeiro remédio à base de cannabis, empregado como uma opção para tratar dores e espasmos da esclerose múltipla.

Mas, no caso da dependência por maconha, o raciocínio no seu uso é o mesmo dos fármacos que combatem o tabagismo. Ou seja, ele oferece ao corpo uma versão mais segura e menos concentrada dos compostos da droga em si. A partir daí, a fissura seria aplacada paulatinamente.

O estudo em si

Pesquisadores australianos testaram o nabiximol em 128 homens e mulheres dependentes de maconha, com idade média de 35 anos, que buscavam ajuda para reduzir o consumo. Eles foram divididos entre o grupo placebo e o que tomava o medicamento de verdade, com até 32 borrifadas permitidas ao dia – na média, foram 18.

O tratamento durou 12 semanas e incluiu, para todos os voluntários, sessões de psicoterapia e avaliações clínicas semanais. No fim do trabalho, o grupo que usou o spray com nabiximol teve menos recaídas e relatou fumar recreativamente em 41% dos dias. Já o pessoal que recebeu o placebo acendeu um baseado em 63% dos dias.

Como as outras intervenções foram iguais nas duas turmas, essa diferença pode se justificar pelo medicamento, que não demonstrou efeitos adversos relevantes. Já problemas relacionados ao uso constante da droga, como sintomas de abstinência, irritabilidade e desejo intenso, melhoraram nos dois grupos, talvez por conta da psicoterapia e de outras abordagens.

Os achados foram publicados recentemente no respeitado periódico JAMA Internal Medicine. No texto, os autores também apresentaram limitações para o trabalho, como uma taxa de retenção relativamente baixa, de 50%.

Em outras palavras, metade dos voluntários dos dois grupos abandonaram a investigação antes que ela acabasse. Portanto, mais pesquisas são necessárias para entender o comportamento do usuário, as melhores abordagens para o tratamento e até mesmo o mecanismo que explica o potencial do nabiximol.

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Os riscos da erva

A dependência, o principal deles e que leva aos outros problemas de saúde, ocorre quando o cérebro se acostuma com doses elevadas da droga e fica menos sensível aos endocanabinoides – moléculas produzidas pelo próprio organismo que ativam os mesmos receptores da maconha no cérebro.

Pois é: o corpo produz partículas relativamente parecidas com as da Cannabis sativa para instigar sensações como a do prazer e do bem-estar. De alguma forma, o consumo contínuo da maconha interfere nesses mecanismos naturais.

Com a dependência, aumenta o risco de infarto, derrame e infertilidade, por exemplo. É possível ainda que fumar a droga desencadeie crises de esquizofrenia em pessoas com predisposição para o quadro, assim como eventuais alucinações.

O ato de fumar a erva em si também é problemático. A longo prazo, a fumaça quente e repleta de substâncias danificaria as vias aéreas. Ou seja, ela pode aumentar a probabilidade de câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pigarro e infecções pulmonares.

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