Um em cada dez bebês nasce prematuro no mundo, diz OMS
Apesar dos avanços na medicina, taxa de prematuridade não diminuiu nas últimas décadas. Problema está diretamente associado à saúde das mães
Estima-se que um em cada dez bebês no mundo nasçam de forma prematura, ou seja, antes de 37 semanas completas de gravidez.
Os dados são de um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Publicada na revista científica Lancet nesta quinta-feira, 5, a pesquisa destaca que 13,4 milhões de bebês nasceram prematuramente em 2020.
O grupo de especialistas destaca que o problema está diretamente associado a fatores de risco das mães, como gravidez na adolescência, infecções, alimentação inadequada e hipertensão arterial durante a gestação, chamada de pré-eclâmpsia.
No Brasil, há um aumento da incidência de prematuridade, variando entre 6% e 9% do total de nascimentos.
“Mais de 110 mil casos foram registrados no país em 2021, a maioria na região Sudeste, a mais populosa”, afirma o médico fetal Adson José Martins Vale, membro da Comissão Especializada em Perinatologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
+ Leia também: O que pode fazer um bebê nascer prematuro?
Estagnação
A pesquisa aponta que nenhuma região do mundo diminuiu significativamente os índices do problema na última década. A taxa global anual de redução de prematuridade entre 2010 e 2020 foi de apenas 0,14%.
E mais: os especialistas estimam que as reduções vistas podem estar mais relacionadas à queda no número de nascimentos na maioria das regiões do planeta.
“Os números mostram uma necessidade urgente de investir no apoio às mulheres e suas famílias, bem como uma maior ênfase na prevenção — em particular, garantindo o acesso a cuidados de saúde de qualidade antes e durante a gravidez”, afirmou o pesquisador Anshu Banerjee, diretor de Saúdes Materna, Neonatal, Infantil, Adolescente e do Envelhecimento da OMS, em comunicado.
+ Leia também: OMS recomenda método canguru para prematuros em boas condições de saúde
Atenção à saúde materna
O estudo enfatiza que ampliar a atenção à saúde e nutrição materna pode contribuir para reduzir a prematuridade.
Nesse contexto, entram os cuidados pré-natais de qualidade, que permitem detectar e evitar complicações, como explica a pediatra neonatologista Renata Castro, coordenadora assistencial da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Sepaco.
“Começar o pré-natal o quanto antes é essencial. Isso permite que os profissionais de saúde monitorem o progresso da gestação, identifiquem fatores de risco e tomem medidas preventivas, como controle de doenças maternas preexistentes e mudanças de estilo de vida”, diz Renata.
A especialista acrescenta que a prevenção é um desafio complexo, já que cada gravidez é única e, muitas vezes, não é possível identificar ou controlar todas as causas relacionadas à prematuridade.
No entanto, atitudes podem reduzir o perigo, como evitar tabagismo, consumo de álcool e drogas, e tratar pressão alta e diabetes materna. Outras orientações são a adoção de uma dieta saudável, a realização de exercícios físicos regulares adaptados à gestação e o gerenciamento do estresse.
“Infecções urinárias e vaginais também são importantes fatores de risco para parto prematuro, mas são tratáveis e rastreáveis durante o pré natal”, afirma a médica ginecologista Helga Marquezini, do Hospital Sírio-Libanês.
Riscos à saúde
A prematuridade é a principal causa de morte nos primeiros anos de vida.
Quando um bebê nasce antes de 37 semanas de gestação, alguns órgãos e sistemas ainda não estão completamente desenvolvidos, o que pode ainda trazer complicações como doenças graves, incapacidades e atrasos no desenvolvimento.
Alguns efeitos duram a vida toda e também resultam em problemas sociais, além de ter grande peso econômico sobre a assistência médica, tanto pública quanto privada.
+ Leia também: Parto prematuro eleva risco de nova prematuridade
“Estes incluem maior suscetibilidade a infecções graves precoces, por conta da imaturidade do sistema imunológico, comprometimentos neurológicos, ósseos, psiquiátricos e comportamentais, além de risco alto de doenças não transmissíveis na vida adulta”, diz Adson José Martins Vale, da Febrasgo.
Como os pulmões ainda estão em formação, é comum o surgimento de problemas respiratórios. Algumas crianças precisam de suporte ventilatório logo após o nascimento ou durante os primeiros dias de vida.
Alguns pequenos apresentam ainda dificuldade de ganho de peso e para se alimentar em comparação com os nascidos em período regular.
“A imaturidade do sistema digestivo pode causar dificuldades na aceitação do leite, ou o bebê prematuro pode não ter a capacidade para mamar no seio materno ou na mamadeira, necessitando de alimentação por sonda e, algumas vezes, de uma alimentação especial endovenosa”, explica Renata.
As complicações neurológicas merecem atenção, segundo a especialista. “Eles têm um maior risco de sequelas neurológicas por infecções ou hemorragias intraventriculares, o que pode afetar o desenvolvimento neuropsicomotor”.
São comuns ainda problemas de visão, como a retinopatia, uma complicação que pode levar à cegueira em casos extremos.
Assistência ao alcance de todos
Além das medidas médicas, há atitudes que podem ser tomada pela sociedade para apoiar os prematuros. A doação de leite é uma destas estratégias, que beneficia especialmente quem nasceu antes da hora.
O Brasil conta com uma rede de mais de 200 bancos de leite humano em todos os estados e no Distrito Federal. A lista dos postos de coleta pode ser consultada online aqui.
O leite doado é submetido a um rigoroso controle de qualidade, sendo que uma única doação pode alimentar até dez bebês. Veja como doar abaixo: