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Transplante de pulmão e outros órgãos na pandemia: o que sabemos

Dá para tratar a Covid-19 ou minimizar suas complicações com transplantes? E a doação de órgãos de um paciente infectado, é possível? Tire suas dúvidas

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 20 abr 2021, 19h22 - Publicado em 20 abr 2021, 18h22
Desenho de pinça colocando pulmões em um corpo
Transplante de pulmões para pacientes recuperados da Covid-19 é apenas experimental. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
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No início de abril, médicos do Hospital Universitário de Quioto, no Japão, comunicaram que haviam realizado o primeiro transplante de tecido pulmonar de doadores vivos para uma pessoa previamente infectada pelo coronavírus. Ela havia se curado da Covid-19, mas estava com seus órgãos da respiração gravemente comprometidos. Diante do anúncio, surgiram dúvidas sobre a utilidade do transplante de pulmão em geral entre vítimas dessa infecção — e sobre a doação de órgãos na pandemia.

Do ponto de vista de tratamento, o médico farmacologista José Huygens Garcia, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), conta que ainda não há uma indicação formal para o transplante de pulmão entre indivíduos que passaram pela Covid-19, até porque estamos falando de uma enfermidade descoberta só no finalzinho de 2019.

“O procedimento é experimental por enquanto. Os resultados disponíveis por enquanto não nos permitem traçar recomendações oficiais”, revela Garcia.

Ele conta que, até o momento, foram feitos cerca de cinco transplantes de pulmão por doadores mortos para infectados pelo Sars-CoV-2 no mundo todo — nenhum no Brasil.

Mesmo em caráter experimental, não é fácil reunir as condições necessárias para se tornar um candidato a receber os pulmões de outra pessoa após sofrer com o coronavírus. Veja: uma operação tão complexa só deve ser realizada quando os órgãos da respiração realmente não tiverem chance de recuperação, o que denota um caso gravíssimo de Covid-19. Em contrapartida, o resto do organismo precisa estar em ótimas condições para aceitar o órgão.

“Mas quando os pulmões estão destruídos, normalmente outras partes do corpo também já foram afetadas”, analisa Garcia. Ou seja, a maioria das pessoas não teria condições de passar pelo tratamento.

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Além disso, o procedimento é complexo, o que exige acesso a centros de referência. E o paciente precisa entender que necessitará de medicamentos para o resto da vida, que visam evitar a rejeição do órgão. Poucas pessoas cumprem todos esses requisitos.

Quem teve coronavírus pode ter seus órgãos doados?

Sim. O presidente da ABTO explica que, atualmente, o protocolo leva em consideração o fato de que a transmissão respiratória do vírus cessa no 14º dia. “Alguém que desenvolveu a forma leve e se curou já consegue doar depois desse período com segurança”, orienta.

Quem se recuperou de casos mais graves poderia doar, desde que os órgãos estejam em boa condição.

Até a doação de órgãos de pessoas que morreram de Covid-19 pode acontecer, mas há critérios rigorosos. Isso só é possível 30 dias depois do início dos sintomas. Se a pessoas falecer antes, não dá para aproveitar seus órgãos.

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Além de tudo isso, os especialistas sempre realizam um exame de PCR para verificar a presença do coronavírus, tanto em doadores vivos quanto em mortos. Se ele der positivo, eles descartam o órgão.

O cenário dos transplantes durante a pandemia

De acordo com o relatório anual da ABTO, o número de doadores diminuiu de 2019 para 2020, mas em uma taxa menor que a esperada: foi de 18,1 por milhão de habitantes para 15,8, representando uma queda de 12,7%. Esse é o mesmo patamar obtido em julho de 2017.

A maior redução ocorreu na quantidade de transplantes de córnea (52,7%). Enquanto a fila de espera cresceu 38%, o número de doadores despencou 37%. São 33,9 doadores por milhão de brasileiros — a mesma taxa dos anos 1990.

A quantidade de transplantes de pulmão é a segundo que mais caiu (38,7%), seguida pela de rim (24,5%).

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“No início da pandemia, os transplantes renais foram suspensos temos como manter os pacientes vivos em hemodiálise”, explica Garcia. Essa medida serviria para garantir mais leitos e profissionais de saúde dedicados à Covid-19.

Mas Garcia conta que a taxa de sobrevida de indivíduos na hemodiálise é menor, em comparação com os que recebem os rins de terceiros. Isso sem contar que sair de casa para ir a uma clínica de hemodiálise pode aumentar o risco de infecção pelo Sars-CoV-2.

Isso se reflete nos números. A fila de espera para receber rins cresceu 6,2%, enquanto o ingresso na lista de doadores diminuiu 32%. A mortalidade na fila subiu 27%.

Garcia finaliza com um apelo para que quem for hospitalizado: não deixe de informar à família sobre o desejo de doar. “O Brasil tem um programa de transplante grande, transparente, justo e ético, além de financiado em maior parte pelo Sistema Único de Saúde. Isso é essencial para quem está esperando na fila”, conclui.

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