Apesar de causar um misto de nojo e vontade de rir, o transplante fecal é assunto sério para a ciência. Se estudos anteriores já mostraram que a técnica é eficaz contra a infecção da bactéria Clostridium difficile, que ataca o intestino e causa diarreia, dores, sangramento e até morte, um novo trabalho da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, constatou que ela também reduz custos hospitalares quando comparada ao tratamento à base de antibióticos.
O transplante fecal consiste em retirar o cocô de um doador saudável e, após todo um trabalho no laboratório, reinserir parte desse material no intestino de um receptor. A ideia é repovoar o órgão com bactérias do bem, capazes de debelar micro-organismos nocivos.
A primeira opção de tratamento contra a tal Clostridium difficile são os antibióticos. Infelizmente, eles nem sempre solucionam o problema e, para piorar, devastam a microbiota natural do intestino. Isso favorece mais infecções oportunistas e um monte de sintomas desagradáveis.
Como opção, os médicos recorrem ao transplante de fezes justamente para que bactérias benéficas tomem conta da situação. Em outras palavras, o método entra em cena nos casos mais graves, em que a infecção intestinal é recorrente.
Ocorre que, até então, nenhuma pesquisa havia contabilizado seu custo-benefício. Por isso, os experts dinamarqueses analisaram os gastos do tratamento à base de antibióticos e os do transplante fecal em 50 pacientes de um hospital universitário público.
Entraram na conta a triagem dos “doadores de cocô” – só quem anda muito saudável está apto, assim por dizer –, o processamento laboratorial, a aplicação clínica da técnica, o tempo de internação… Todas as despesas foram checadas entre 2014 e 2015, sempre um ano antes e um depois do transplante.
Após a análise, os cientistas concluíram que o custo por paciente caiu de 63 300 dólares para 36 800, uma economia de 42%. No total, o hospital poupou 1,2 milhão de dólares.
“Nosso estudo indica que, em média, cada paciente evitou 17 dias no hospital no primeiro ano após o transplante. De 37 dias, passaram a ficar hospitalizados por apenas 20 dias ao ano”, complementa o gastroenterologista Christian Lodberg Hvas, professor da instituição e líder da pesquisa, em comunicado à imprensa.
De acordo com Hvas, a introdução de novos tratamentos geralmente aumenta os gastos, mas o transplante fecal é uma exceção. “Se pudermos estabelecer um sistema de proteção tanto para os pacientes quanto aos doadores, alcançaremos um grande benefício para todos. E estamos no caminho para fazer isso”, conclui.
No Brasil, a técnica é oferecida pelo Sistema Único de Saúde e na rede privada.