Testes sorológicos ajudam a definir estratégias para controle da pandemia
Estudo publicado por especialistas defende a testagem como meio de fortalecer e determinar políticas públicas de vacinação contra a covid-19
Recentemente, a revista científica Viruses publicou um consenso sobre testes sorológicos feito por sete especialistas em saúde pública da América Latina — a região com maior taxa de mortalidade pelo novo coronavírus no mundo —, que atuam em áreas como microbiologia, epidemiologia, farmacologia e infectologia. Trata-se de uma chamada à ação, mostrando o papel da testagem para fortalecer iniciativas e políticas de vacinação contra a Covid-19.
Os testes sorológicos, como os oferecidos pela Abbott, identificam anticorpos no sangue, para detectar se o organismo desenvolveu resposta imunológica em função da exposição ao vírus. Para desenvolver o consenso, foi realizada uma revisão ampla de toda a literatura científica existente sobre o tema em cinco países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México). As informações coletadas e analisadas chegaram a um conjunto de recomendações para garantir a inclusão adequada e o uso de testagem sorológica para combater a pandemia.
De acordo com o Dr. Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, médico da Universidade Federal de São Paulo e do Hospital Israelita Albert Einstein, que participou do estudo, os testes ajudam a ter um entendimento epidemiológico da doença e contribui também para avaliar a eficácia das vacinas. “Com o teste, conseguimos identificar se a pessoa teve contato com o vírus inteiro ou se produziu anticorpos secundários, por meio da vacina,”, diz. Os anticorpos podem ser detectados a partir de uma a três semanas após a infecção e até pelo menos seis meses após a infecção.
Sorologia e o controle da pandemia
Os já conhecidos testes do cotonete, como o PCR ou antígeno, servem para identificar a presença do vírus em pacientes sintomáticos, com o objetivo de diagnosticar e evitar a disseminação. Já os testes sorológicos, como explica o especialista, proporcionam uma visão mais macro da situação pandêmica e se tornam uma importante ferramenta para identificar a resposta imune da população e sua duração, inclusive tendo importante papel para definir o planejamento, implementação e monitoramento dos planos de vacinação contra a Covid.
São os testes sorológicos que podem contribuir, por exemplo, o período de intervalo necessário entre as doses de vacina e até mesmo se será necessário disponibilizar mais doses ou não. “Tem gente que se vacina e produz muitos anticorpos, mas outros produzem poucos títulos de anticorpos e os perdem muito rapidamente. Essas pessoas poderiam, por exemplo, fazer o teste e, em tendo necessidade, tomar uma dose extra de vacina. Hoje, isso ainda não acontece. Mas, se, a longo prazo, tivermos a oportunidade de vincular o teste e a vacinação, seria uma boa indicação médica”, conta o especialista. “Isso tem acontecido com os imunossuprimidos, que tendem a não produzir uma quantidade adequada de anticorpos e por isso já estão na frente da fila para a quarta dose do imunizante, por exemplo”.
A testagem permite também identificar se a vacinação em curso protege contra as novas cepas do coronavírus. “Não sabemos ainda como será a dinâmica do vírus. Ele se transforma muito rápido e há um padrão de cerca de três meses para o aparecimento de uma nova variante. Temos que ficar atentos para ver se as vacinas são eficazes contra essas mutações e isso é feito com testes sorológicos”, informa.
Recentemente o mundo foi surpreendido com a nova cepa (Ômicron) que está atingindo grande parte da população mundial. Esta cepa sofreu grandes mutações na parte externa do vírus (proteína S). Esta parte é responsável pela entrada do vírus dentro do nosso organismo. Com esta nova apresentação do vírus as vacinas perderam eficácia para impedir infecções, mas continuaram sendo efetivas para redução da forma grave da Covid-19.
Com estas mutações frequentes do vírus, o avanço das pesquisas se faz necessário para que novas gerações de vacinas se tornem disponíveis e que os testes sorológicos possam continuar contribuindo para avaliação da resposta imune.
Por tanto, os dados sorológicos têm um papel importante na resposta contra a pandemia, particularmente nas atividades de monitoramento da infecção e pesquisa, permitindo estimar variáveis epidemiológicas e avaliar o impacto das intervenções de saúde pública em nível populacional.
Vale ressaltar que a vacinação não impede o contágio pela Covid-19. A imunização, porém, faz com que a doença se desenvolva de forma mais branda, oferecendo menores riscos à saúde dos pacientes.