O Brasil vive uma das maiores epidemias de dengue da sua história, com mais de 1,8 milhões de casos em pouco mais de dois meses.
Esse cenário ocorre principalmente por três fatores: a recirculação de subtipos da dengue menos prevalentes nos últimos anos, baixo combate ao mosquito vetor e mudanças climáticas que, junto ao fenômeno El Nino, estão provocando altas temperaturas e chuvas irregulares – o paraíso para o Aedes aegypti.
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Nessa luta, cada um precisa fazer sua parte. À população, cabe usar repelente (com icaridina ou deet, certifique no rótulo!) e combater focos locais do mosquitos – especialistas apontam que 80% dos focos de água parada, criadouros do vetor, estão nos quintais das casas.
Paralelo a isso, o uso de tecnologias pode dar uma forcinha – tanto na proteção individual quanto em políticas públicas. Listamos abaixo algumas opções que já estão sendo usadas ou, ao menos, testadas para o combate à dengue.
1) Drones contra os focos
Imagina usar drones para mapear possíveis focos de dengue e, depois, pulverizar áreas de risco? Pois isso já vem sendo feito em diversos estados do país, como Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
Aliás, Minas Gerais foi pioneira no uso dessa tecnologia, que começou a ser testada em 2017 e hoje já abarca mais de 57 municípios do estado.
“Belo Horizonte é uma cidade referência no quesito inovação para combate de arboviroses. Apenas em 2023, o Techdengue já atuou em 40% de todo o território municipal”, pontua Cláudio Ribeiro, CEO da empresa mineira Aero Tecnologia, responsável pelo projeto em todo o estado.
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A dinâmica do projeto é dividida em três partes: mapeamento e planejamento, análise de dados e tratamento dos focos identificados.
Na primeira, a empresa alinha com o gestor público as áreas críticas da cidade, levando em conta dados populacionais e históricos de casos. Depois, os drones vão a campo para mapear, fotografar e geolocalizar possíveis focos de mosquitos.
Na segunda etapa, os dados coletados pelos drones são processados para identificar os maiores pontos de oportunidade de reprodução do Aedes aegypti. “A gente pontua se é um reservatório, se é um local passível de acúmulo em períodos chuvosos como uma piscina ou caixa d’água, identificando todos os possíveis focos. A partir disso, geramos dados para o município, fornecendo os riscos e a localização de tudo”, explica Cláudio.
Finalmente, na terceira etapa, após a definição dos locais da ação, os drones são capazes de liberar larvicidas aprovados pelo Ministério da Saúde e a Anvisa para eliminar os focos de mosquitos.
De acordo com informações da empresa, já foram mapeados mais de 48 mil hectares e 42 mil focos de reprodução do mosquito Aedes aegypti em todos os anos do projeto TechDengue.
Com essa tecnologia, reduziu-se 54% dos casos na cidade de Brumadinho, 74% dos pontos de reprodução do mosquito em Contagem e 88% dos focos na capital Belo Horizonte, todas cidades de Minas Gerais.
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2) Mosquitos sem capacidade de transmissão
Há basicamente duas estratégias principais que focam em alterações nos mosquitos que passam a dengue.
A primeira, já utilizada em alguns locais, é o chamado método Wolbachia. Ele consiste em injetar uma bactéria com esse nome, geralmente retirada da mosca-da-fruta, no Aedes aegypti.
Ocorre que, uma vez dentro do mosquito, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, da zika e da chikungunya se desenvolvam. E, sem eles, a picada do inseto se torna apenas um incômodo, sem capacidade de transmitir essas infecções.
Depois que os mosquitos recebem a bactéria, eles são liberados para se reproduzirem e gerarem novas gerações que também carregam esse micro-organismo. Aos poucos, espera-se que eles substituam os insetos com capacidade de transmissão de doenças.
No Brasil, essa tecnologia é conduzida pela Fiocruz, que já fez experimentos em cinco cidades do país. O teste piloto foi em 2015, em Niterói, no Rio de Janeiro, e os casos caíram 70% por lá.
O Ministério da Saúde já anunciou a ampliação do projeto para seis novos municípios em 2024. Segundo a Fiocruz, cerca de 1,7 milhão de pessoas serão beneficiadas pela ação.
Outro ramo de pesquisa que também envolve modificações em mosquitos é a liberação de insetos alterados geneticamente.
Os chamados mosquitos transgênicos poderiam ser de duas formas: machos estéreis, prejudicando a linhagem Aedes aegypti; ou machos acrescidos de genes letais, até capazes de se reproduzir, mas que geram descendentes que não conseguem viver por muito tempo.
Empresas como a Oxitec aportaram no Brasil, fazendo contratos com companhias privadas e prefeitura.
Pesquisadores como Margareth Capurro, que liderava o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados na Universidade de São Paulo (USP), defendem essa solução. Mas, após sua aposentadoria, ela afirmou a VEJA SAÚDE que os estudos com mosquitos transgênicos no Brasil não existem mais, e as linhagens de pesquisa dela foram exportadas para os EUA.
Ainda sobre isso, há um temor teórico de que essas modificações genéticas provoquem outras alterações não controladas, e que poderiam interferir no ecossistema.
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Camiseta repelente
Claro que o importante mesmo é aplicar repelente em áreas descobertas do corpo. Mas, principalmente para quem vive ou trabalha em locais com alta infestação de Aedes aegypti, há até quem recomende passar o produto nas roupas.
Daí veio a ideia de usar um tecido que repele os mosquitos! A marca Speedo, por exemplo, conhecida por materiais esportivos, lançou uma camiseta com uma tecnologia de tecido que afasta esses insetos.
A linha Reepel , além de ser leve, manga longa e ter proteção UV50, recebe uma camada adicional de proteção com composto sintético permetrina, que manteriam os mosquitos pelo menos 20 centímetros longe do corpo. De acordo com a marca, ela suporta até 100 lavagens, não possui qualquer odor e não causa danos ao meio ambiente.
“Nosso time trabalhou bastante para trazer o produto com rapidez e eficácia, porque desde o ano passado essa situação da dengue já se desenhava, e agora piorou”, afirma Roberto Jalonetsky, CEO da Speedo Multisport.
“A demanda por algo que protege desse mosquito é tão grande que não deu nem tempo das camisetas chegarem nas nossas lojas físicas, esgotou tudo nos primeiros dias de venda no nosso site”, conta Jalonetsky. “Mas uma versão dois da camiseta, ainda melhor, chega em abril”, completa.
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Aparelho que mata e espanta
Ainda nessa linha de utensílios práticos, outra novidade é o Mosqitter, é um equipamento eletrônico que congrega vias de atração e eliminação das fêmeas, o que, consequentemente, pode acabar com os mosquitos.
Desenvolvida por uma startup ucraniana, a máquina é construída e comercializada no Brasil pela Indústria Elétrica Marangoni Maretti, no interior paulista, e foi avaliada e aprovada em uma pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
Ele pode ser instalado em diversas áreas como cozinhas, banheiros, áreas comuns, quartos, lojas, showrooms, prédios de escritórios, hospitais, restaurantes, resorts e outros locais de trabalho. Para mais informações, acesse o site neste link.