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A técnica que dá choques no câncer de pâncreas

Recentemente realizada no Brasil, a chamada eletroporação irreversível usa agulhas para atingir o tumor e pode aumentar o tempo e a qualidade de vida

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 8 mar 2021, 18h55 - Publicado em 8 mar 2021, 18h52
Desenho de pâncreas
O câncer de pâncreas é bastante agressivo, mas o tratamento tem evoluído. (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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No câncer de pâncreas, um dos mais agressivos, a cirurgia pode ser muito útil. Só que, por causa da localização profunda desse órgão, cercada de outros tecidos e vasos sanguíneos, a operação de retirar a doença comumente é arriscada ou mesmo inviável. A boa notícia: uma nova técnica feita pela primeira vez no Brasil no hospital Vila Nova Star, em São Paulo, promete ajudar nesses casos. É a chamada eletroporação irreversível, que se vale de um aparelho batizado de NanoKnife.

O radiologista Luiz Tenório Siqueira, que participou da intervenção, diz que esse é um tipo moderno de ablação. Explica-se: na ablação, os médicos inserem agulhas compridas no abdômen do paciente que, quando ligadas a um aparelho, emitem calor ou frio para destruir células cancerosas.

Esse procedimento é utilizado contra o câncer de pulmão, fígado e rins. Contudo, não dá para aplicá-lo no pâncreas, uma vez que a variação térmica expressiva pode lesionar órgãos e vasos sanguíneos da região.

“Já na eletroporação, usamos essas agulhas para dar uma espécie de choque elétrico com precisão no tumor”, diferencia Siqueira. Com isso, as células do câncer são incitadas a morrer, porém as estruturas próximas do pâncreas permanecem saudáveis.

As agulhas podem ser inseridas diretamente na pele, ou por meio de cirurgias — abertas ou minimamente invasivas. Com isso, ajudam a remover partes da doença que seriam inalcançáveis com uma operação tradicional.

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Para quem a eletroporação é recomendada

O cirurgião Antonio Luiz Macedo, que também participou do procedimento, conta que, mesmo com todos os cuidados, nem sempre dá para “driblar” vasos sanguíneos em uma cirurgia convencional de câncer de pâncreas. Aí, essas estruturas precisam ser trocadas por enxertos.

“Mas os enxertos não têm uma vida longa. Eles duram de dois a três anos e entopem frequentemente, causando graves problemas na evolução dos pacientes”, avisa Macedo. A eletroporação seria uma aliada nessas situações, por exemplo. Ela ajudaria a destruir partes do tumor sem lesionar as imediações.

Por outro lado, Macedo reforça que o método não descarta a cirurgia. “A única forma de realmente tratar esse câncer é com a operação. A eletroporação ajuda, não substitui”, aponta o especialista.

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Mais vantagens (e desvantagens)

Há evidências iniciais de que essa inovação gere resultados similares aos da quimioterapia. Um estudo da Universidade de Amsterdã, na Holanda, realizado com 50 portadores de tumor de pâncreas, sugere que a sobrevida ganha com esses medicamentos é a mesma de quando se faz eletroporação em certas situações.

“Há também a melhora da qualidade de vida. A pessoa sente menos dor e efeitos colaterais, em comparação com a químio”, acrescenta Siqueira. Porém, são necessárias novas pesquisas, com mais participantes, para determinar a taxa de sobrevida global da terapia e outros indicadores com exatidão.

O tempo gasto no procedimento se soma às vantagens. “A eletroporação é extremamente rápida, demora no máximo 15 minutos, com possibilidade de alta no mesmo dia”, revela o especialista.

A grande desvantagem é o acesso. Por enquanto, a técnica só está disponível no Vila Nova Star, um hospital da Rede D’Or. E o conhecimento sobre ela ainda precisa evoluir.

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