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Talco e câncer: “melhor evitar o uso”, diz especialista do Inca

Epidemiologista discorre sobre a classificação recente do produto como provavelmente cancerígeno e explica como interpretar esse tipo de achado

Por Chloé Pinheiro
17 jul 2024, 11h38
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  • Recentemente, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês) classificou o talco como provavelmente cancerígeno.

    A entidade, que pertence à Organização Mundial da Saúde (OMS), pesquisa a participação de centenas de substâncias no desenvolvimento de tumores. Ano passado, foi a vez do adoçante aspartame receber o rótulo de possivelmente cancerígeno, apontando um grau de certeza menor da relação entre a substância e a doença.

    Em relação ao talco, a história é outra. A avaliação da Iarc indica que há evidências científicas mais robustas sobre o risco em usar o produto. O que deve fazer o consumidor diante desse achado?

    Para responder a essa pergunta, VEJA SAÚDE conversou com Ubirani Otero, epidemiologista da área técnica de ambiente, trabalho e câncer, da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev), do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

    Confira!

    VEJA SAÚDE: Como interpretar a classificação da Iarc sobre o talco? 

    Ubirani Otero: A Iarc avalia os agentes de acordo com alguns critérios, baseados nas evidências encontradas em estudos epidemiológicos, in vivo [em animais ou humanos] ou in vitro [em células isoladas].

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    A classificação é feita em grupos. Os agentes do grupo 1A são os reconhecidamente cancerígenos. Ou seja, foram feitos vários estudos e a evidência aponta que a relação existe, é um consenso científico. Estão nessa lista o cigarro e o álcool, por exemplo.

    Abaixo do grupo 1, está o grupo 2A, onde o talco foi listado. Esses são os agentes provavelmente cancerígenos, que estão no segundo nível mais forte de evidência. Isso significa que existem evidências suficientes em animais, mas não totalmente consolidadas em seres humanos. 

    Em suma, são necessários mais estudos para que a substância seja reconhecida como cancerígena, mas já podemos dizer que há uma suspeita muito grande.

    + Leia também: Entenda a relação entre uso de aspartame e risco de câncer 

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    O que se sabe hoje sobre a relação entre talco e câncer?  

    O talco ocorre naturalmente na natureza, é um mineral. Todo o minério nunca está puro, costuma conter outros minerais e produtos químicos que estão próximos, na mesma rocha. Então é difícil extrair 100% de talco puro. 

    O problema é que o talco pode estar contaminado com fibras de amianto, que são encontradas nas mesmas formações rochosas. Isso já foi demonstrado em diversas análises prévias, e o amianto é reconhecidamente cancerígeno, está no grupo 1A da Iarc. Ele tem relação, inclusive, com o câncer de ovário, que é o que está sendo associado ao talco.

    Mas, além da questão do amianto, o talco por si só merece atenção. Ele é uma poeira, muito fina, que tem uma série de aplicações industriais e em cosméticos, maquiagens e produtos de higiene pessoal. As poeiras em geral têm maior risco de causar outros tipos de câncer, em especial o de pulmão, por serem partículas respiráveis, mas há o risco de outros tumores, como estudos em animais já demonstraram. 

    Quais mecanismos explicariam o surgimento dos tumores?  

    Essa é uma questão que ainda está sendo estudada, mas parece que o uso do talco na região perineal, perto da vagina, faria com que a substância migrasse para o útero e ovário. Lá, causariam um processo inflamatório que eleva o risco de câncer. A inflamação crônica é um  mecanismo cada vez mais compreendido de desenvolvimento de tumores. 

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    E não só pelo uso próprio da mulher, mas se o parceiro usa talco na região íntima, ou se aquele pozinho da camisinha contiver talco.

    O consumidor deve evitar o produto? 

    Uma coisa importante de dizer é que, de acordo com análises conduzidas, uma pequena proporção do talco encontrado no mercado está contaminada com amianto, menos de 1%. Mas não existe nível seguro de exposição a um agente cancerígeno.

    Então o que devemos fazer mesmo é evitar esse uso. Existem várias opções para substituí-lo. Se o objetivo é evitar o atrito entre as pernas, por exemplo, temos pomadas para esse fim. Ou maquiagens em creme, e por aí vai. 

    Não temos como saber se o talco foi previamente testado ou se contém alguma fibra de amianto, e, além disso, ele próprio agora está sendo associado à doença. Então, na dúvida, devemos usar o princípio da precaução. 

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    Isso vale para tudo que possa oferecer algum risco de tumores. A primeira recomendação é eliminar e substituir. A gente vai descobrindo… São tantos produtos que consumíamos sem conhecer os riscos, mas hoje é importante compreendê-los, já que o câncer é a segunda causa de morte por doenças no Brasil e tende a ser a primeira.

    Os casos vêm aumentando no Brasil e no mundo, então precisamos conhecer tudo o que pode causar câncer e evitar na medida do possível. 

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