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Sete enfermeiros com ideias e trabalhos que fazem a diferença pelo mundo

Eles foram reconhecidos no Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia. Saiba o que cada um concebeu para melhorar o suporte aos pacientes

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 21 set 2022, 13h20 - Publicado em 5 set 2022, 16h34
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  • O Palácio Real de Estocolmo, na Suécia, foi o palco da entrega da principal premiação internacional destinada a enfermeiros com ideias e trabalhos capazes de aprimorar a qualidade de vida de seus pacientes. A cerimônia do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia, que contou com a participação da Sua Majestade da nação escandinava, revelou profissionais que se dedicam a fazer a diferença na jornada de cuidados.

    A iniciativa reconheceu desde produtos e serviços inovadores para dar suporte a indivíduos idosos ou com demência até um programa de assistência remota durante o tratamento do câncer − caso do projeto vencedor no Brasil.

    A premiação foi desenhada pela Swedish Care International junto à Rainha Silvia da Suécia e hoje ocorre em sete países, de ambos os lados do Atlântico. A majestade se sensibilizou com a importância dos enfermeiros depois de acompanhar de perto o apoio desses profissionais à sua mãe, que sofreu de demência.

    A láurea está em sua décima edição na Suécia, onde começou, e acaba de inaugurar o segundo ano em terras brasileiras por meio da parceira oficial no país, a Vibe Saúde.

    A cerimônia do prêmio aconteceu na Biblioteca Bernadotte, sede de milhares de livros reunidos pela família real sueca, e foi oficialmente aberta pela própria Rainha Silvia. “Como filha, irmã e mãe, eu sou eternamente grata a vocês [os enfermeiros] e à sua profissão. Vocês são a infraestrutura do nosso sistema global de saúde e bem-estar. De São Paulo a Vilnius [capital da Lituânia], dos pronto-socorros às instituições de cuidados prolongados durante a pandemia de Covid-19, vocês continuam dando o melhor de si e de suas habilidades”, destacou em seu discurso. 

    foto da biblioteca real sueca
    Cerimônia de premiação ocorreu na Biblioteca Bernadotte, no Palácio Real de Estocolmo. (Foto: Yanan Li/Divulgação)

    Foram sete enfermeiros premiados pelo mundo, entre eles o brasileiro Jean Singh, de São Paulo. “O prêmio é de extrema relevância, ainda mais nesse momento de luta por reconhecimento pelo qual a nossa profissão passa no Brasil. E é o reconhecimento da enfermagem enquanto ciência, não como caridade. A enfermagem precisa sair dos bastidores e aparecer, empreender e liderar mais”, afirma.

    “O sentimento de ganhar esse prêmio não cabe no peito. Traz um misto de alegria com uma sensação de que, nos unindo a outras pessoas, podemos superar aquela impotência de quando se trabalha sozinho para mudar a realidade. E corrobora aquilo que para mim deve ser a principal competência do enfermeiro, a compaixão”, conta Jean.

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    foto de seis dos vencedores do prêmio
    Seis vencedores do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia (da esquerda para a direita: Jean, do Brasil; Silvija, da Lituânia; Julia, da Polônia; Caroline, da Suécia; Michael, dos EUA; e Stephan, da Alemanha). (Foto: Yanan Li/Divulgação)

    Além de receber o diploma oficial das mãos da Rainha e o cheque da premiação, os profissionais participaram de dois painéis de debate. O primeiro, moderado por Tatiana Sadak, professora de enfermagem da Universidade de Washington (EUA), sobre o papel da tecnologia na assistência aos idosos, e o segundo, conduzido por Ana Paula Mattar, diretora de marketing da Vibe Saúde, focado em como a inovação pode gerar impacto social para os pacientes e a comunidade.

    No discurso de encerramento do evento, Sophie Lu-Axelsson, CEO da Swedish Healthcare International, evocou achados antropológicos que sugerem que o cuidado com o outro é uma das características mais intrínsecas e antigas do ser humano − evidências de ossos com marcas de fratura datados de milhares de anos atrás indicam que esses ancestrais só teriam sobrevivido com o apoio de alguém. A compaixão, pontuou Sophie, pode ser a grande marca da nossa espécie.

    Então é hora de olhar para quem faz da compaixão e do cuidado com o outro seu trabalho. E conhecer melhor os sete vencedores da premiação de 2021, acompanhada in loco por VEJA SAÚDE.

    foto de premiados e parceiros do prêmio com a rainha
    Os premiados e embaixadores do prêmio em seis países na foto oficial do evento com a Rainha Silvia ao centro. (Foto: Yanan Li/Divulgação)
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    Suporte à distância durante o câncer

    O enfermeiro Jean Singh venceu o primeiro Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia no Brasil (e na América Latina) por estruturar e coordenar um programa de assistência digital a pacientes em tratamento contra o câncer em uma healthtech.

    Seu trabalho, já implementado e baseado em uma metodologia científica, demonstra que o apoio remoto, por meio de aplicativo, WhatsApp ou telefone, melhora a qualidade de vida e a adesão ao tratamento, assim como diminui a necessidade de visitas presenciais aos hospitais e os riscos de internações prolongadas.

    Mais de 10 mil atendimentos foram feitos dessa forma, e o projeto inclui, além do suporte central do enfermeiro, acompanhamento psicológico e nutricional. Tudo para que os pacientes não se sintam sozinhos e desamparados na jornada terapêutica e saibam o que fazer diante de sintomas ou efeitos colaterais do tratamento.

    O trabalho de Jean se destacou em meio a mais de 400 profissionais brasileiros inscritos na premiação, organizada no país pela Vibe Saúde. O enfermeiro paulista hoje atua no Inova HC, o Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e pretende empreender no ecossistema da saúde. 

    jean e luciana
    O enfermeiro paulista Jean Singh, vencedor do Brasil, recebe o cheque da premiação de Luciana Hataiama, coordenadora de enfermagem da Vibe Saúde. (Foto: Yanan Li/Divulgação)
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    Álbum interativo para reconectar pacientes a suas memórias

    Nona vencedora da premiação em sua terra natal, a Suécia, Caroline Bjarnevi concebeu uma espécie de álbum de fotos interativo para pacientes idosos e/ou com demência. O dispositivo traz imagens e retratos caros ao indivíduo junto a músicas e mensagens pré-gravadas dos amigos e familiares.

    O objetivo é resgatar lembranças e memórias afetivas, algo que traz conforto e impacto emocional sobretudo numa situação de hospitalização ou isolamento.

    A ideia veio à tona durante a pandemia, quando a enfermeira sueca começou a enfrentar restrições para visitar o sogro, que estava internado havia alguns anos e já apresentava sinais de demência. Caroline criou um protótipo do recurso, que seria customizado para cada paciente, e planeja desenvolvê-lo e aperfeiçoá-lo com o apoio de alguma empresa no futuro.

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    Gelatina especial contra a desnutrição

    Pessoas com demência estão mais suscetíveis a desfalques nutricionais, e um dos motivos é que, além das limitações cognitivas e motoras, podem se esquecer com frequência do momento das refeições. A invenção do enfermeiro alemão Stephan Wengel para contornar esse problema é uma receita altamente nutritiva em formato de gelatina que compensa eventuais almoços ou jantares perdidos.

    O vencedor do quinto prêmio na Alemanha desenvolveu um produto gelatinoso, com sabor adocicado de frutas, agregando nutrientes indispensáveis ao organismo no dia a dia. A aparência colorida, o formato e o apelo ao paladar encorajam os pacientes a consumi-lo, segundo o profissional.

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    Por vir pronta, a gelatina é uma alternativa aos suplementos alimentares que nem sempre são apreciados ou tolerados por idosos e indivíduos com demência. Uma forma mais prática e apetitosa de evitar a desnutrição, que abala o estado de saúde desses pacientes.

    Realidade virtual para reviver lembranças

    A estudante de enfermagem Julia Osiecka, vencedora da sexta edição da distinção na Polônia, vê na tecnologia uma das melhores aliadas no acolhimento e no cuidado a pessoas mais velhas com declínio cognitivo ou demência. Sua ideia, ainda em vias de implementação, é utilizar a realidade virtual para pacientes reviverem episódios marcantes de sua história.

    A realidade virtual permitiria que os indivíduos acessem, por meio de óculos especiais e fones conectados a um computador, momentos importantes ou emocionantes em sua trajetória, como se estivessem no ambiente original, agora reconstruído numa tela.

    Julia acredita que a experiência traria especialmente ganhos psicológicos e, em seu horizonte, quer entender como essa tecnologia poderia aprimorar a capacidade psicomotora e a qualidade de vida dos pacientes.

    “Ela nos convenceu que tecnologias futuras podem ajudar a retornarmos ao passado, a um tempo em que não tínhamos restrições e todos os sonhos poderiam ser alcançados”, comentou Marcin Radziwill, presidente do conselho da Medicover Foundation, parceira do prêmio na Polônia.

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    Uma plataforma para reunir e acessar as informações do paciente

    Como o sistema de saúde dos Estados Unidos é descentralizado e baseado na iniciativa privada, é comum que os prontuários e os dados de consultas e exames dos pacientes se encontrem dispersos e nem sempre facilmente acessíveis. A saída do enfermeiro Michael Drake para esse caos informativo é o QRx, uma plataforma para unificar e encontrar o histórico de saúde do paciente.

    Michael bolou um programa baseado em QR codes, aqueles símbolos que escaneamos com o celular, com a missão de integrar, disponibilizar e compartilhar os dados médicos dos americanos, o que é essencial para evitar, por exemplo, exames e procedimentos já realizados. Em vez de as informações ficarem confinadas ao banco de dados de empresas concorrentes, o paciente e os profissionais de saúde podem reuni-los e acessá-los, otimizando a jornada de cuidados.

    Com esse conceito, foi o vencedor da segunda edição do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia nos EUA. Além dos ganhos mais imediatos aos pacientes, cuidadores e familiares, sua plataforma tem o potencial de prevenir gastos desnecessários e melhorar a custo-efetividade da assistência à saúde.

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    Um Uber de serviços para os idosos

    Aplicativos de celular revolucionaram o jeito de atender a oferta e a demanda de serviços pelo mundo (e nos mais diversos setores). Precisa ir ao aeroporto? Chama um Uber. Quer pedir um lanche? Entra no iFood.

    De olho nesse modus operandis, a enfermeira lituana Silvija Sutkute elaborou o BusyOLDER, um aplicativo para conectar idosos e pessoas com algum tipo de deficiência a outros cidadãos que podem oferecer companhia e suporte em uma profusão de necessidades da rotina.

    O projeto, que busca virar realidade, prima por um leque variado de serviços ou atividades feitas em conjunto. De acordo com Silvija, o escopo engloba desde passeios e horários para conversa (pensando em pacientes que vivem sozinhos) até ajuda nos cuidados com a saúde e a casa. Os provedores poderiam cobrar ou não pelo que fazem.

    Na era da economia criativa, essa é uma fórmula para aproximar pessoas trazendo vantagens aos dois lados conectados.

    Portal para melhorar o ambiente de trabalho e cuidado

    Oitavo vencedor da láurea na Finlândia, o estudante de enfermagem e paramédico Markus Suominen idealizou um caminho para abraçar e combater frustrações e queixas de cuidadores e enfermeiros nas empresas onde trabalham − algo que não deve passar batido se levarmos em conta o número crescente de diagnósticos de burnout.

    O projeto do finlandês, que não pôde estar na cerimônia na Suécia em função de problemas de saúde, é estabelecer um portal onde os profissionais podem dividir, de forma anônima e diretamente voltada para as companhias, eventuais reclamações relacionadas ao emprego. O intuito é um só: tornar melhores as relações e o ambiente de trabalho, seja numa clínica, seja num hospital.

    Cuidar de quem cuida é um assunto que não pode ser escanteado no sistema de saúde, e soluções como essa auxiliariam empresas e gestores a diagnosticar e a remediar o que não anda funcionando bem. Em última instância, quem ganha é o paciente.

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