Identificar o câncer de próstata, o segundo mais comum entre o público masculino (atrás apenas do de pele), é um desafio para os médicos. Isso porque os testes mais usados hoje – o de toque e a medição do PSA – apesar de apontarem para a possibilidade do tumor, não fecham o diagnóstico e ainda apresentam um número considerável de falsos-positivo, quando o exame acusa um problema que na verdade não existe.
Ou seja, para saber mesmo se tem um tumor maligno agressivo, o paciente com uma suspeita quase sempre se submete à biópsia, um método invasivo que colhe um pedacinho da glândula para analisá-la no microscópio. “Mesmo com a ajuda do ultrassom para guiá-la, ainda é preciso fazer de 14 a 16 furos na próstata para extrair fragmentos e, depois, examinar cada um”, aponta Leonardo Kayat Bittencourt, radiologista do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDPI), no Rio de Janeiro.
Conclusão: muitos homens passam por um procedimento que pode causar dores, infecção urinária e outros efeitos adversos mesmo sem terem um câncer. Mas, em breve, uma ressonância magnética específica para a próstata pode entrar na lista de exames que ajudam a visualizar esse tipo de tumor e, consequentemente, diminuir o número de biópsias desnecessárias. Foi o que mostrou um estudo publicado no New England Journal of Medicine, conduzido por instituições de diversos cantos do mundo.
O trabalho
Os cientistas reuniram 500 homens que haviam passado por exames de toque ou PSA e tinham suspeita de câncer de próstata. Aí, uma metade seguiu diretamente para a biópsia – o protocolo convencional hoje em dia –, enquanto a outra foi antes para a ressonância magnética.
Entre os marmanjos que recorreram à ressonância, 28% obtiveram resultados que não sugeriam câncer de próstata. Eles, portanto, escaparam de biópsias provavelmente desnecessárias.
E tem mais boas notícias. Quando o teste de imagem indicava algo mais grave, o indivíduo passava por uma biópsia guiada pela ressonância. Pois essa técnica identificou cânceres agressivos, que exigem tratamento, em 38% dos voluntários, enquanto que, no caso da biópsia tradicional (guiada por ultrassom), 26% foram encontrados. Dito de outra maneira, a ressonância culminou em mais precisão e menos diagnósticos de tumores insignificantes, que crescem muito devagar e não provocarão malefícios durante décadas.
Esses quadros brandos, cabe ressaltar, podem ser apenas acompanhados de perto pelo médico. Ou seja, eles não necessitariam de tratamentos pesados, como a radioterapia. Nesse cenário, esse tipo de intervenção pode causar mais malefícios do que benefícios.
“Em resumo, o método com a ressonância parece diferenciar melhor os cânceres agressivos. Isso porque, além de avaliar o tamanho e a localização do tumor, consegue determinar certas características biológicas dele”, opina Kayat.
A proposta dos pesquisadores é que o procedimento seja considerado como parte das etapas investigativas do câncer de próstata. Apesar de já empregada em alguns homens, hoje a ressonância magnética não integra hoje as diretrizes oficiais das sociedades médicas de urologia.
E há até uma razão financeira para isso: a ressonância é um procedimento consideravelmente mais caro e, vamos combinar, de difícil acesso para boa parte dos brasileiros que dependem da rede pública. “Mas o ponto é que, ao gastar mais no diagnóstico, dá para economizar muito lá na frente com tratamentos desnecessários e caros”, calcula Bittencourt.
Há ainda uma ressalva a ser feita aqui. “Tudo indica que o método pode ser útil contra o câncer, mas precisamos de mais estudos, com uma população maior, para avaliar sua eficácia real”, contrapõe Bittencourt. É esperar para ver.