A infecção por Sars-CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia atual, pode seguir por diversos caminhos. Tem gente que nem chega a desenvolver sintomas. Outros apresentam sinais leves, como febre, tosse e prostração, que se resolvem após alguns dias de repouso em casa. Um terceiro grupo, por sua vez, sofre com falta de ar e colapso no funcionamento dos pulmões, o que exige o uso de respiradores, remédios e até internação em UTI.
Após esse período crítico, muitos que se enquadram no grupo de maior gravidade e se recuperaram devem realizar um período de readaptação. “Falamos de indivíduos que ficaram entubados e sedados por longos períodos”, destaca a fisioterapeuta Renata Negri, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, que acaba de montar uma unidade só para atender esses casos. O tempo prolongado de inatividade deixa o corpo atrofiado: há uma perda considerável de massa muscular, que compromete a locomoção e a respiração.
É justamente aí que entra um batalhão de profissionais de saúde que vão ajudar a pessoa a restaurar seu antigo desempenho. Fisioterapeutas, fonoaudiólogos, professores de educação física, nutricionistas e terapeutas ocupacionais trabalham em equipe para devolver aos poucos os movimentos e as funções do corpo que garantem a sobrevivência.
Time em ação
Para ter ideia da importância desse período de recuperação pós-UTI, os pacientes frequentemente não conseguem mais respirar sozinhos ou tossir adequadamente. “Durante as sessões, ensinamos como restabelecer o fluxo de entrada e saída de ar e como expelir algo que está incomodando, caso do acúmulo de catarro”, diz Renata.
A deglutição de alimentos é outro ponto que merece atenção. Os fonoaudiólogos precisam garantir que o sujeito consegue mastigar e engolir alimentos sem aspirar parte da comida para os pulmões, o que traria repercussões sérias. Claro que o processo é paulatino: no início, a dieta se constitui de papas e sopas, ficando mais sólida de acordo com a melhora do quadro.
O sistema locomotor não fica de fora dessa operação resgate: as sessões de fisioterapia devolvem aos poucos a força, o equilíbrio e a firmeza para que o indivíduo consiga caminhar, erguer os braços e pegar objetos com as mãos. “O ideal é que esse fortalecimento se inicie quanto antes, de preferência na própria UTI, e continue mesmo após a alta”, aponta Renata.
É importante destacar que não há um tempo determinado para que a reabilitação seja finalizada. “Isso varia de acordo com o grau de debilidade. Nós planejamos tudo de maneira personalizada, segundo as necessidades de cada um”, conta Renata.
Quando a situação está estabilizada e já é possível ir para casa, muitos exercícios devem ser feitos no ambiente doméstico. “É importantíssimo manter a continuidade, se possível com o acompanhamento de um fisioterapeuta”, sugere Renata. Respeitar os limites e seguir as orientações do especialista dão mais certeza de uma vida saudável após o tormento da Covid-19.