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Profecia patogênica: bactérias e fungos resistentes exigem mobilização já

Na edição de março de VEJA SAÚDE, um alerta da ciência sobre um dos grandes desafios de saúde pública do século, a resistência antimicrobiana

Por Diogo Sponchiato
15 mar 2024, 14h31
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Bactérias multirresistentes: previsão da OMS é de que elas estejam por trás de 10 milhões de mortes por ano até 2050 (Ilustração: Thom Leach / Science Photo Library/Getty Images)
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Em outubro de 2012, o escritor especializado em ciência David Quammen publicou, nos EUA, Spillover: Animal Infections and the Next Human Pandemic. Em determinado momento da obra, concluída após tantas milhas de viagens pelo mundo e outras pilhas de pesquisas realizadas, o autor levanta a provável hipótese de que a próxima pandemia, resultado do “pulo” e da adaptação de um micróbio que antes vivia entre animais para o ser humano — algo tecnicamente chamado de spillover —, seria protagonizada, se não por um vírus mutante da gripe, por algum patógeno vindo de morcegos no sudeste da Ásia (possivelmente coronavírus, como os responsáveis pelo surto de Sars em 2002).

Não era uma profecia. Era uma previsão baseada em inúmeros estudos e entrevistas com cientistas. Uma nova peste global seria questão de “quando”, não de “se”, cravou o escritor do livro, que seria traduzido como Contágio (Companhia das Letras – clique para comprar) no Brasil em 2020.

Oito anos depois da publicação original, assistimos atônitos à eclosão da Covid-19 — um coronavírus de origem asiática que, em algum momento, “pulou” de um morcego e aprendeu a ser transmitido de humano para humano. O resto é história.

Vez ou outra, pesquisadores e autoridades sanitárias soam o aviso de que há perigo no horizonte — quando não na esquina. No último congresso brasileiro de infectologia, que cobri em Salvador em setembro de 2023, os médicos falavam que enfrentaríamos uma crise com a dengue. A realidade atual não desmente a predição.

+ LEIA TAMBÉM: Como as mudanças climáticas contribuem com as doenças transmitidas por mosquitos

Ocorre que, por falta de tempo, desinteresse ou ignorância, com frequência a sociedade e os setores público e privado negligenciam os alertas dos cientistas. O preço a ser pago pode ser alto demais — e com a moeda mais preciosa, vidas. Esse é o pano de fundo de uma discussão que, ano a ano, ganha escala temerosa, a da resistência antimicrobiana.

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A humanidade evolui; bactérias, fungos e companhia também. Desenvolvemos remédios potentes. Eles criam formas de escapar e continuar se multiplicando e aprontando. É dessa batalha, que pode se tornar tenebrosa se os planos elaborados pelos especialistas não se cumprirem, que tratamos na reportagem especial desta edição — a primeira capa a cargo de Lucas Rocha, jornalista mineiro que já viveu pelo Rio e hoje estacionou em São Paulo, com Fiocruz e CNN no currículo.

É um enredo que chega a ser apocalíptico, caso não consigamos contornar um fenômeno que já faz parte do presente e pode piorar no futuro. Uma bomba que tem de ser desarmada por todos nós. Os avisos foram dados. Que outra história trágica não se repita.

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