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Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia anuncia vencedor brasileiro

Primeira edição nacional da premiação reconhece enfermeiro paulista que trabalha com suporte digital a pacientes com câncer

Por Diogo Sponchiato
Atualizado em 17 fev 2022, 10h38 - Publicado em 23 dez 2021, 10h02
foto de enfermeiro segurando estetoscópio
Premiação voltada a enfermeiros e estudantes de enfermagem recebeu mais de 400 inscrições. (Foto: Unsplash/Divulgação)
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O enfermeiro Jean Singh, de São Bernardo do Campo (SP), é o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia, láurea criada há nove anos e que, além da pátria da rainha, também tem edições na Finlândia, na Lituânia, na Polônia, na Alemanha e nos Estados Unidos.

Ele se sagrou vencedor após passar por um processo com 428 candidatos inscritos, envolvendo uma análise por um júri técnico e uma votação popular nas redes sociais. Seu trabalho pioneiro, pelo qual receberá um prêmio em dinheiro e a oportunidade de viajar e fazer um curso fora do país, é voltado à assistência remota a pacientes oncológicos.

“Essa premiação dá um novo brilho à enfermagem, uma profissão ainda desvalorizada no Brasil, e demonstra seu impacto na vida das pessoas. Como uma ciência do cuidado, ela vai muito além da consulta, do remédio ou do procedimento. Buscamos fazer a diferença desde a prevenção na atenção primária até em meio a tratamentos complexos, sempre tendo em vista a qualidade de vida do paciente”, diz o premiado a VEJA SAÚDE, parceira da iniciativa.

Jean Singh coordena a equipe assistencial da WeCancer, uma startup contratada por clínicas, hospitais ou programas de suporte ao paciente de laboratórios para prover gratuitamente atendimento a distância (por aplicativo, telefone ou WhatsApp) a pessoas que se tratam de um câncer. O objetivo, após uma avaliação do paciente, é muni-lo de ferramentas e acesso a enfermeiro, nutricionista e psicólogo para tirar dúvidas, reportar sintomas e receber orientações remotamente − um modelo que se provou essencial em tempos de pandemia.

O vencedor do prêmio foi atrás de estudos e evidências científicas para criar os fluxos e protocolos de assistência, adaptados a uma interface tecnológica intuitiva e propícia à personalização do cuidado. Até o momento, foram mais de 4 900 pessoas atendidas pelo Brasil, 70% delas dependentes do sistema público de saúde.

“Partimos do princípio de que o modelo hospitalocêntrico, em que o paciente deixa de ser acompanhado quando sai do hospital, não é o mais adequado. Pesquisas na área fora do país indicam que nosso tipo de abordagem ajuda a melhorar a sobrevida e a qualidade de vida do indivíduo com câncer”, explica Jean.

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Jean Singh, enfermeiro vencedor do prêmio.
Jean Singh, enfermeiro vencedor do prêmio. (Foto: Vibe Saúde/Divulgação)

“A ideia vencedora é uma importante contribuição não só para o suporte aos pacientes brasileiros mais velhos, faixa que encara as maiores taxas de câncer, mas também pode ser apropriada mundo afora. Pacientes com câncer tiveram seus tratamentos interrompidos pela pandemia em curso. Em períodos desafiadores como esse, em que os movimentos e o acesso físico são limitados, contar com a orientação e o suporte de soluções digitais como a de Jean é essencial, podendo prolongar e salvar vidas”, declara Sophie Lu-Axelsson, da Swedish Care International, entidade que capitaneia globalmente o prêmio

Para Luciana Hataiama, responsável pela área de enfermagem da Vibe Saúde, empresa que trouxe a distinção ao país, a primeira edição do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia é o começo de um trabalho de reconhecimento e valorização dos enfermeiros brasileiros. “Foi uma emoção sem igual avaliar os projetos inscritos e poder mergulhar em cada um deles para ver como a enfermagem no Brasil tem sido empática e gerado tanto impacto social”, diz a enfermeira e porta-voz do júri do prêmio. 

prêmio enfermagem

O projeto vencedor

O trabalho de Jean Singh pela WeCancer tem início com uma avaliação do perfil do paciente em tratamento oncológico. “Procuramos entender onde e como ele se trata, suas conexões com a família, necessidades físicas e sociais, e aplicamos escalas científicas para analisar o estado nutricional e o nível de sofrimento emocional”, detalha. O enfermeiro comanda a equipe multidisciplinar que dá assistência aos pacientes e cuidadores, é o responsável por embarcar o usuário e explicar o uso da tecnologia e também toca reuniões semanais com o grupo para discutir os novos casos.

Há duas linhas mestras de abordagem, que respeitam vontades e necessidades do paciente. A reativa é aquela que espera a demanda (uma dúvida ou uma queixa de algo que não está bem) e presta orientação na sequência − se o contato é por motivo de urgência, Jean conta que em menos de 5 minutos a equipe consegue retornar. A abordagem ativa é aquela que propõe um atendimento individualizado numa linha de cuidado específico (ajustes dietéticos ou assistência psicológica, por exemplo).

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Também há um protocolo para pacientes com um alto nível de demanda, em que a equipe toda faz uma teleconsulta para traçar o plano de ação. A despeito do caminho, a plataforma visa promover o autocuidado, evitando idas desnecessárias ao hospital, atuar numa vigilância para identificar quanto antes situações de risco (algumas delas potencialmente fatais) e servir de canal de informação, inclusive para desmistificar fake news.

No horizonte, Jean enxerga potencial de crescimento para o serviço de assistência oncológica remota. “Hoje os desafios envolvem conseguir chegar aos pacientes mais pobres, com pouco acesso à internet, e à população idosa, que pode ter mais dificuldade com a tecnologia”, avalia.

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Trajetória

Jean Singh é natural de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, sempre estudou em escola pública e, com o apoio do Prouni (Programa Universidade para Todos), graduou-se em enfermagem pela Faculdade de Medicina do ABC. “Acho que a principal inspiração para eu escolher a enfermagem é a minha mãe, que sempre foi a cuidadora, a enfermeira da casa e da família”, relata.

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O contato com pacientes com câncer na faculdade o estimulou a se especializar na área. “Lembro de uma paciente que chegou ao pronto-socorro do hospital com muitas dores de uma metástase. Fui tocado ao ver o sofrimento dela e como a equipe de enfermagem tentava ajudá-la”, recorda.

Jean fez residência multiprofissional em oncologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e, na extensão universitária, participou do projeto AcolheOnco, que presta assistência fora do ambiente hospitalar, por telefone, a pacientes com câncer do SUS. Essa experiência viria a moldar muito do seu trabalho posterior.

Convidado a ser o primeiro enfermeiro da WeCancer, Jean ajudou a estruturar o modelo de atendimento da plataforma e hoje coordena o time de saúde da startup.

+ LEIA TAMBÉM: Rainha da Suécia fala sobre a primeira edição do prêmio de enfermagem no Brasil

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Vitória e futuro

O anúncio da escolha do enfermeiro, coroando um trabalho que mescla levantamento científico, tecnologia e humanização, veio em um ano particularmente difícil para ele. “Perdi meu pai e minha avó para a Covid em um intervalo de 15 dias. Cheguei a me sentir apagado e deprimido, sem esperanças. Mas esse prêmio me mostrou ainda mais o valor da nossa profissão e é uma forma de homenagear a luta da minha família”, diz, emocionado.

Jean não só sente agora que esteve e está no caminho certo como enxerga na premiação uma oportunidade de conhecer pessoas e lugares, capacitar-se ainda mais e ajudar a expandir um modelo de assistência que “escapa das paredes do hospital”. Se tem uma palavra que o vencedor do 1º Prêmio de Enfermagem Rainha da Suécia no Brasil espelha, essa é vocação.

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