O Brasil é o país que mais busca temas relacionados ao uso de óculos desde o início da série histórica do Google, em 2004. Nos últimos cinco anos, ocupou o 3º lugar, atrás apenas de Taiwan e do Japão.
Entre as dúvidas mais comuns sobre saúde ocular, estão perguntas sobre quais doenças e condições levam ao uso do item, como ler a receita feita pelo médico oftalmologista, além de questões sobre cuidado e higienização das lentes.
Os dados são de um levantamento realizado pela plataforma de busca com dados do Google Trends, enviado com exclusividade à VEJA SAÚDE. Confira algumas respostas para os principais questionamentos.
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Por que algumas pessoas precisam usar óculos?
O olho humano é composto por uma série de estruturas. Entre as principais, estão a córnea, a íris, o cristalino e a retina. Todas estão envolvidas na geração de imagens.
A luminosidade é o ponto de partida para enxergar, seja ela natural, como a proveniente do sol, ou artificial, gerada por lâmpadas.
Funciona assim: quando estamos de olhos abertos, a entrada de feixes de luz no olho é regulada pela íris. Essa luz passa pela córnea e pela pupila, e o cristalino, uma espécie de lente do olho, forma a imagem e a projeta invertida na retina, no fundo dos olhos.
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O processo de formação da imagem por meio dos feixes de luz é chamado de refração.
Contudo, em algumas pessoas, os feixes acabam sendo desviados e não chegam até a retina da maneira correta. Isso pode acontecer por alterações no tamanho do olho, ou no formato da córnea e do cristalino, estruturas que fazem o foco.
Os erros de refração estão entre as principais condições que levam à necessidade do uso de óculos. Entre os mais comuns estão:
- miopia: dificuldade para enxergar objetos distantes
- hipermetropia: visão de perto desfocada
- astigmatismo: problema para focalizar, com imagens borradas ou duplicadas
- presbiopia ou “vista cansada”: em geral ocorre após os 40 anos e consiste na dificuldade para enxergar de perto e de longe
Miopia e astigmatismo são as condições oculares mais pesquisadas no mundo.
A miopia lidera as buscas no Brasil — compreensível, afinal, segundo a Organização Mundial da Saúde, 25% da população é míope.
No entanto, as consultas por astigmatismo subiram 60% no país na comparação dos últimos cinco anos com o período anterior, ante 30% do aumento do interesse pela miopia.
O diagnóstico de problemas associados aos erros de refração é feito com o exame oftalmológico. O tratamento inclui o uso de óculos corretivos ou de lentes de contato.
E existem ainda outros motivos para se usar óculos. “Por exemplo, pacientes que têm desvio ocular, o famoso estrabismo, ou visão dupla, condição que faz com as imagens sejam vistas duplicadas”, explica o médico Ricardo Paletta Guedes, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).
Como saber se preciso usar óculos?
Assim como o restante do corpo, os olhos também podem apresentar sinais de que algo não está bem. Ter atenção aos sintomas e buscar atendimento médico pode levar ao diagnóstico precoce de doenças.
Se a sua visão está embaçada sem causa aparente ou se você se depara inclinando a cabeça e observando objetos com os olhos semicerrados com frequência, pode ser o caso de marcar uma consulta para ver se precisa usar óculos ou atualizar os que já tem.
A necessidade também pode aparecer de formas mais sutis, mas não menos incômodas, como sensibilidade excessiva à luz, dores de cabeça e dificuldade para concentração.
Problemas visuais podem se manifestar ainda na forma de lacrimejamento, olhos vermelhos e liberação de secreção.
“Para saber se o uso é necessário, o oftalmologista realiza uma série de testes, como o de refração e a retinoscopia, que identifica a existência ou não de grau a ser corrigido”, afirma a oftalmologista Ione Alexim, da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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Lembrando que o cuidado deve ir além de verificar se é necessário usar o acessório.
“A saúde visual não é só a troca de óculos”, afirma o oftalmologista Claudio Lottenberg, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ela depende de uma série de avaliações: da pressão intraocular e do nervo ótico, por exemplo”.
Esse cuidado é importante para detectar cedo doenças que podem levar à perda de visão, como o glaucoma.
Lottenberg afirma ainda que a visita periódica ao médico especialista pode ajudar a revelar doenças sistêmicas. O diabetes, por exemplo, pode provocar alterações de fundo de olho. A hipertensão e doenças reumáticas também têm impactos oftalmológicos.
Como escolher óculos de grau?
O médico oftalmologista é o profissional habilitado para avaliar a saúde ocular como um todo e para a prescrição de lentes corretivas.
A médica da BP destaca que a armação deverá ser compatível com o rosto de cada pessoa e ter uma boa cobertura da região ocular.
A estética não deve ser menosprezada, afinal a pessoa precisará usar o item por muito tempo, mas o mais importante é priorizar a melhora da visão e o conforto.
Depois de comprar, é preciso paciência na adaptação. De acordo com os especialistas, o tempo que uma pessoa leva para se acostumar com novos óculos varia. Para alguns, a adequação é imediata, para outros, acontece em alguns dias.
Como parar de usar óculos?
Os erros de refração podem exigir o uso de óculos por toda a vida. Mas existem cirurgias que corrigem problemas, novos tratamentos para a presbiopia e, em alguns casos, reversão natural de problemas como a miopia.
O ideal, contudo, é nunca deixar o acessório de lado por conta própria. “Apenas um oftalmologista, após avaliação minuciosa, poderá fazer essa orientação e suspender o uso das lentes”, aponta Ione.
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Como ler receita de óculos?
Essa é uma das dúvidas mais procuradas pelos internautas. Na prescrição, é comum encontrar sinais e abreviações, sendo as mais comuns:
- OD: olho direito
- OE: olho esquerdo
- CIL: grau cilíndrico
- ESF: grau esférico
- DP: distância pupilar
- DNP: distância naso pupilar
Ricardo Paletta Guedes explica que o grau esférico da lente indica quantos graus de miopia ou hipermetropia uma pessoa tem. O sinal presente na receita aponta qual das condições está presente, sendo negativo para miopia e positivo para hipermetropia.
O grau cilíndrico, por sua vez, indica o astigmatismo, com as informações referentes à correção do grau.
“Ele é sempre negativo e indica o astigmatismo, que é associado a um eixo que vem em graus, então pode ser a 5, a 10 ou a 15 graus que é onde vai ser corrigido o problema na montagem dos óculos”, diz Guedes.
Já a menção à adição diz que, além dessas condições, o indivíduo vai precisar de graus a mais para conseguir enxergar de perto com nitidez. Trata-se da correção da vista cansada, ou presbiopia.
A médica da BP afirma que a receita deve ser interpretada cuidadosamente. Isso porque, além do grau de longe e de perto, o documento traz recomendações sobre o tipo de lente e especificações de tratamentos.
“A orientação é que essa receita seja lida diretamente por um profissional qualificado da ótica, para assim evitar erros na interpretação e consequentemente na confecção dos óculos”, diz Ione.
Como limpar o óculos?
Essa é a pergunta mais buscada nos últimos 12 meses no país, seguida por “como tirar arranhões de óculos?“.
A recomendação para a limpeza das lentes de óculos é utilizar sempre sabão líquido neutro e deixar secar ao ar livre ou até mesmo utilizar lenço com tecido apropriado.
“Seguir essas orientações ajuda tanto na higienização quanto na conservação das lentes, minimizando ou mesmo evitando danos por arranhões”, afirma Ione.
O ideal é prevenir, porque os arranhões não são corrigíveis: é preciso fazer uma nova lente.
Além da higienização diária, o cuidado inclui não esfregar a lente com a camiseta, guardá-los no estojo quando não estiver utilizando e nunca apoiá-los sob superfícies com as lentes viradas para baixo.
“Para desentortar óculos, busque apoio do local onde fez a compra, para que a correção seja feita por um funcionário qualificado, evitando danos maiores às lentes e armação”, diz Ione.
O que mais as pessoas querem saber
As buscas ao Google também incluem perguntas como: “Qual óculos combina com o rosto?”, “Quanto custa um óculos de grau?” e “O que é óculos polarizado?”.
Os valores variam de acordo com o modelo das lentes, que podem custar de R$ 120 a R$ 3.000, e da armação escolhida, na faixa de R$ 180 a R$ 1.000.
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Já o termo polarizado diz respeito à tecnologia. “Lentes com polarização fazem o bloqueio da intensidade de luz, reduzindo os reflexos e oferecendo maior proteção solar e conforto para os pacientes”, diz Ione.