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Por que as vacinas contra o coronavírus têm efeitos colaterais diferentes

Cada imunizante provoca o sistema imunológico de um jeito. Mas todos são seguros e têm como objetivo proteger o organismo contra a Covid-19

Por Fabiana Schiavon
21 jun 2021, 17h46
três ampolas de vacinas
Tecnologia de fabricação ajuda a explicar por que as reações a cada vacina são diferentes. Em comum, há o fato de que todas são seguras. (Foto: Diana Polekhina/Unsplash/Divulgação)
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Lembra quando diziam que aquela febre depois de determinada vacina é sinal de que ela “pegou”? É sabido que alguns imunizantes provocam mais sintomas que outros, e a história não é diferente em relação aos que protegem contra o coronavírus. Por isso, não é preciso temer as reações causadas por uma vacina ou outra. Conversamos com especialistas para entender essas particularidades.

“O papel das vacinas é justamente provocar um processo inflamatório, fazendo com que o sistema imunológico responda a esse ataque. Esse acontecimento pode ser dolorido ou não, gerar sintomas ou não”, resume o biomédico Daniel Bargieri, professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

Cada pessoa reage de forma distinta às vacinas, e não é possível prever qual terá mais ou menos efeito. Mas há algumas probabilidades.

Uma vacina como a Covishield, da AstraZeneca, por exemplo, pode causar sintomas mais intensos porque foi produzida por meio de um adenovírus, causador de resfriados em humanos. Vale frisar que esse vírus, apesar de teoricamente estar “vivo”, é modificado para não conseguir se replicar. Ou seja, não existe a possibilidade de ele se reproduzir no organismo humano.

A vacina da AstraZeneca recorre a um tipo de adenovírus de chimpanzés – e isso não deve ser encarado como um problema. “Vírus de resfriado são comuns em humanos e chimpanzés. Esses que são utilizados não causam doença nas pessoas”, reforça o professor.

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A vacina da Janssen segue a mesma lógica. “Ela usa o adenovírus humano 26, também alterado para não se replicar”, ressalta Daniel. Trata-se do mesmo vetor utilizado na Sputnik Light e na primeira dose da Sputnik V, complementada na segunda dose com o adenovírus 5.

A CoronaVac, do Instituto Butantan, tende a provocar menos o organismo porque é produzida com o vírus morto. “Para que a inflamação ocorra, ele é combinado com um adjuvante, o hidróxido de alumínio. É essa substância que dá o alerta ao sistema imunológico”, ensina Daniel.

Já o imunizante do laboratório Pfizer é feito à base de RNA (ácido ribonucleico), e o nosso sistema imune foi treinado para encará-lo como sinal de perigo. “Nesse caso, a sirene que toca no organismo para informar que uma inflamação está ocorrendo é bem alta”, compara Daniel. Mas esse processo é controlado, isto é, o RNA é modificado para manter a resposta no nível desejado.

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A Covaxin, vacina indiana já comprada pelo Ministério da Saúde, promete menos reações, já que sua fórmula é bem semelhante à da CoronaVac.

A resposta inflamatória é parte da construção da imunidade e não é preocupante. “A gente começa a perceber esses sintomas em cerca de 24 horas, e eles podem durar até três dias. Depois, quem assume é a resposta adaptativa, que gera uma memória específica do vírus, consolidando-se em cerca de 14 dias”, afirma a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Vacinas devem provocar menos efeitos no futuro

Embora as vacinas tenham sido desenvolvidas em tempo recorde, é crucial lembrar que houve muita pesquisa antes de cada lançamento. “Nada é descartado. Se o participante do estudo espirrou ou teve uma unha encravada, tudo é investigado”, tranquiliza o pesquisador da USP.

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A partir de agora, as farmacêuticas devem focar na produção de vacinas com menos efeitos colaterais. “Nunca tivemos tantas opções para uma doença só. Então, daqui para frente os laboratórios vão se concentrar na redução das reações adversas”, diz Cristina.

A evolução dos imunizantes faz parte da rotina da ciência. “Antes, a tríplice bacteriana, que age contra coqueluche, difteria e tétano, deixava a perna dos bebês dolorida. O médico até pedia para manter a fralda mais solta”, lembra Cristina. Hoje, essa injeção já conseguiu ser modulada para causar menos sintomas na criançada.

“Ainda estamos aprendendo muito com as vacinas. Mas uma certeza nós temos: elas não fazem mal”, assinala a imunologista.

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