Pneumonia por Mycoplasma pneumoniae no Brasil: o que você deve saber
Após surto na China, casos apareceram por aqui e geraram medo. Veja o cenário, sintomas, o tratamento e como evitar a infecção por Mycoplasma pneumoniae
Recentemente, casos de pneumonia por Mycoplasma pneumoniae foram detectados em Santo André (SP). Como essa bactéria esteve ligada a um surto de doença respiratória na China – principalmente em crianças – e foi comparada à Covid-19 em algumas mídias, surgiu a preocupação de estarmos, de novo, diante de uma pandemia. Mas calma: vamos entender essa história, as diferenças entre essa bactéria e o coronavírus, e quais seus sintomas, tratamentos e métodos de prevenção.
Como o Mycoplasma pneumoniae chamou a atenção da China e da OMS
No dia 13 de novembro de 2023, autoridades chinesas da Comissão Nacional de Saúde (o Ministério da Saúde da China) relataram um aumento de casos de doenças respiratórias.
Os médicos chineses consideraram que outros agentes infecciosos, como influenza (gripe), vírus sincicial respiratório (que provoca a bronquiolite) e a tal bactéria Mycoplasma pneumoniae estariam circulando mais livremente com a retirada das restrições da Covid-19 – e que isso teria provocado esses quadros.
Em 22 de novembro de 2023, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um alerta para as pessoas localizadas no Norte e Nordeste da China, uma vez que houve nessa região um aumento do número de casos de pneumonia.
Desde então, tanto a OMS quanto outras agências de saúde estão alertas, avaliando um eventual surto (aumento abrupto do número de casos) de pneumonias causadas por Mycoplasma pneumoniae.
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Outros países também relataram casos de infecção por esse micro-organismo, como França, Estados Unidos e Dinamarca. E, mais recentemente, tivemos esses casos no interior de São Paulo. Importante notar que essa bactéria é comum no mundo todo, inclusive no Brasil – conhecemos o Mycoplasma pneumoniae faz tempo.
Ainda assim, os alertas da OMS e o aumento de casos foram o suficiente para gerar medo. Comparações com a pandemia de Covid-19 e lembranças das restrições a que fomos submetidos reforçaram esse cenário de temor.
Mas é importante esclarecer dois pontos:
- Um dos papéis desses alertas da OMS é aumentar a quantidade de dados disponíveis. Dessa forma, podemos buscar testes diagnósticos melhores e saber exatamente quantos casos de pneumonias por Mycoplasma pneumoniae estão sendo causados e o fardo disso no sistema de saúde. Nem todo alerta do tipo significa uma nova pandemia como a da Covid-19 – pelo contrário.
- É muito improvável termos uma pandemia das proporções da Covid-19 pelo Mycoplasma pneumoniae, por vários motivos. E uma razão importante é a de que estamos falando de uma bactéria, que age de forma diferente de um vírus, como é o caso do Sars-CoV-2 (causador da Covid-19).
Qual a diferença entre vírus (como coronavírus) e uma bactéria (como Mycoplasma pneumoniae)?
Os vírus, em geral, são mais simples na sua composição. Isso parece bom, mas, nesse sentido, não é. Por serem muito simples biologicamente falando, é difícil encontrar alvos em sua composição para neutralizá-los.
Logo, os tratamentos antivirais são, muitas vezes, menos eficientes e difíceis de serem desenvolvidos. Além disso, os vírus tendem a apresentar uma maior capacidade de disseminação.
Especificamente sobre a Covid-19, cabe ressaltar que o Sars-CoV-2 era um agente novo. Nós não o conhecíamos antes de 2020. Ou seja, não sabíamos como ele agia, tampouco as possibilidades de tratamento e prevenção.
Não é o caso da bactéria Mycoplasma pneumoniae.
O que é Mycoplasma pneumoniae e qual o tratamento?
Por ser uma bactéria, significa que há mais alvos para remédios. E já se sabe como tratar as pneumonias por Mycoplasma pneumoniae há anos. Basicamente, usa-se certos antibióticos, que são seguros, eficientes e baratos.
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Boa parte dos casos pode ser tratado em casa, com fármacos orais e acompanhamento de um médico. Remédios que aliviam os sintomas, como antitérmicos para a febre e corticoides para a tosse, podem ser prescritos dependendo da situação.
Ainda assim, procurar atendimento precocemente pode mudar a evolução da doença, até porque há risco de complicações. Em certas situações, hospitalização e administração de oxigênio são importantes.
Crianças até 12 anos são particularmente suscetíveis a pneumonias por Mycoplasma pneumoniae.
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Quais os sintomas da pneumonia por Mycoplasma pneumoniae?
Eles são bastante semelhantes aos de outras doenças respiratórias. Casos mais leves apresentam secreção nasal e tosse seca, enquanto os mais graves podem manifestar febre alta, falta de ar intensa e necessidade de internação hospitalar.
O Mycoplasma pneumoniae já circula entre nós há muito tempo, mas não há dados precisos sobre a quantidade de casos de doença ocasionados por ele.
O diagnóstico de pneumonia em si (infecção no pulmão) não é complicado: basta o quadro clínico compatível de tosse com ou sem catarro, febre, falta de ar e uma alteração em um exame bem simples, a radiografia de tórax.
No entanto, identificar o Mycoplasma pneumoniae como a causa da pneumonia é mais difícil, porque os testes disponíveis têm limitações, demoram e são caros. Para detectar a bactéria, é necessário fazer testes de sangue ou pesquisa do material genético diretamente na secreção respiratória.
Como evitar a pneumonia por Mycoplasma pneumoniae?
Antes de tudo, um adendo: o hemisfério norte do planeta está no inverno agora. Isso significa que, naturalmente, há maior aglomeração e menos circulação de ar (o frio faz com que as pessoas não abram as janelas), o que potencializa a infecção por via aérea de agentes que causam doenças respiratórias, como o Mycoplasma pneumoniae.
As autoridades sanitárias estão atentas para qualquer aumento abrupto no número de casos, porém essas infecções são menos comuns no verão, estação do ano em que nos encontramos agora, aqui no hemisfério sul.
De qualquer forma, é possível se prevenir contra essa infecção. Entre as medidas, destaca-se:
- Evitar contato com pessoas apresentando sintomas respiratórios
- Promover circulação de ar e evitar ambientes fechados
- Usar máscara se estiver com sintomas respiratórios para impedir a contaminação dos outros
Estar com a vacinação atualizada também pode ser útil. Não há vacinas para o Mycoplasma pneumoniae em humanos, mas esse agente muitas vezes se vale de outras infecções para causar a sua doença.
Ou seja, é uma coinfecção. Algum patógeno invade o corpo, o que o enfraquece. E aí o Mycoplasma pneumoniae tem mais facilidade para se instalar, invadir os pulmões e causar uma pneumonia.
Assim, atualizar a carteira de vacinação contra gripe, pneumonia pneumocócica, coqueluche (pertussis) e o vírus sincicial respiratório (VSR) reduz o risco dessa coinfecção.
O recado final: a comunidade médica aprendeu muito com a pandemia e o Mycoplasma pneumoniae é bem conhecido. Devemos, claro, manter a vigilância – mas sem desespero.
*Caio Júlio César dos Santos Fernandes é médico pneumologista do Núcleo de Doenças Pulmonares e Torácicas do Hospital Sírio-Libanês. Também é médico assistente do Grupo de Circulação Pulmonar da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto do Câncer (Icesp), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health.