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Pandemia fez casos graves de câncer de mama subirem 26% no Brasil

Estudo revela como período do isolamento impactou no diagnóstico da doença, fazendo mais mulheres descobrirem o tumor quando há poucas chances de cura

Por Fabiana Schiavon
12 abr 2023, 18h20
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  • Já era esperado que a pandemia do coronavírus iria prejudicar a prevenção e o tratamento de outras doenças. Os médicos só não imaginavam que essa consequência chegaria tão rápido como aconteceu com o câncer de mama.

    Um estudo da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), publicado no International Journal Public Health (IJPH),  indica um aumento de aproximadamente 26% nos casos graves da doença no Brasil durante a crise da Covid-19.

    Para chegar a esse número, os pesquisadores compararam dados de dois períodos: entre 2013 a 2019 e 2020 a 2021, etapa mais dura do convívio com o coronavírus.

    + Leia também: Câncer de mama de volta ao alvo

    Esse aumento diz respeito a tumores nos estágios III e IV. São aqueles com mais de cinco centímetros ou que já estão em metástase (isto é, atingiram outros órgãos).

    “Nessas fases, a chance de cura é muito pequena”, lamenta o mastologista Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM e um dos autores do levantamento.

    O aumento nos casos era esperado para daqui a uns cinco anos, mas os pesquisadores foram surpreendidos por uma alta abrupta ainda em meio a pandemia.

    Uma das causas por trás dessa situação é a redução no número de mamografias. Para ter ideia, ao comparar 2019 a 2020, a queda foi de 40%. No ano seguinte, 2021, a situação até melhorou um pouco, mas não deu para comemorar. Em relação à 2019, a taxa de realização do exame ainda foi 18% menor.

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    As informações se referem a mulheres de 50 a 69 anos, a faixa etária de maior risco para esse tipo de câncer, que deveriam realizar esse exame periodicamente, a cada dois anos.

    O medo do diagnóstico já distanciava algumas mulheres do consultório médico, e o receio de contrair Covid-19 só piorou o cenário.

    “Isso ocorreu principalmente em 2020, quando ainda não havia vacina, e os postos e hospitais eram locais perigosos para se estar naquele momento”, lembra Freitas-Junior.

    Desigualdade e lentidão no SUS

    O estudo também destrinchou a situação de acordo com as regiões brasileiras, e demonstrou que o quadro piora em áreas em que a estrutura de atendimento na saúde é mais precária.

    A região Centro-Oeste é a que mais tem casos graves (21%), e a Norte vem em segundo lugar (17%). Já a regiões Sudeste e Sul têm menos ocorrências de tumores avançados, com 11% e 6%, respectivamente.

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    + Leia também: Novos tempos no tratamento do câncer de mama avançado

    Um outro estudo, publicado no início do ano, evidencia que as mulheres que têm acesso a convênio e clínicas particulares também foram afetadas por essa realidade, mas em um grau menor.

    De acordo com Cristiano Resende, oncologista do Grupo Oncoclínicas, e um dos autores dessa outra investigação, após a pandemia houve um aumento de 4,2% no diagnóstico do câncer metastático (estágio IV) entre tais pacientes. Já a descoberta da doença em fases inicias (estágios I e II) caiu 4,8%.

    “Passamos pela ‘síndrome do naufrágio do Titanic’, aquela em que a primeira classe tem mais possibilidade de se salvar”, avalia Freitas-Junior, citando o acidente do navio no qual foram resgatados antes os passageiros mais privilegiados.

    O que fazer para melhorar esse cenário?

    A prevenção e o diagnóstico precoce são os dois aspectos mais cruciais para proteger as mulheres contra o câncer de mama.

    Segundo Resende, não faltam máquinas para realizar a mamografia pelo Brasil. O desafio está naquilo que acontece antes e depois dela.

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    “De maneira geral, a mulher vai a um posto de saúde e, se houver a suspeita, pede-se o exame. Mesmo que essa etapa seja ágil, a paciente vai precisar de uma segunda visita apenas para agendar a mamografia”, relata o médico da SBM.

    Em média, se passam 36 dias do primeiro atendimento até o diagnóstico. Depois de constatado o tumor, ainda há a realização da biópsia e retornos ao médico até chegar o tratamento de fato.

    A espera entre a detecção do tumor e o início do tratamento é de aproximadamente 174 dias. Esses dados são do relatório Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no SUS, com dados de 2015 a 2020.

    + Leia também: Do sintoma ao exame: como diagnosticar mais rápido o câncer de mama

    “Imagine ainda que grande parte das mulheres consegue perceber o nódulo em casa. Até buscarem ajuda e darem início ao tratamento, o tumor já dobrou de tamanho”, ressalta Freitas-Junior.

    O médico conta que algumas iniciativas já estão em estudo para mudar essa história. “Agentes do SUS costumam medir a pressão e checar outros parâmetros de saúde durante as consultas. Há um projeto em Goiás que prevê o treinamento dos funcionários para incluírem a análise das mamas nessa rotina”, exemplifica o médico da SBM.

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    Com um sistema mais integrado, esses agentes podem inclusive gerar o pedido de mamografia, pulando algumas etapas do processo.

    Cabe ressaltar que a Lei dos 60 dias, publicada em 2012, prevê que é direito da pessoa com câncer iniciar os cuidados dentro desse prazo.

    Um problema no Brasil e no mundo

    O câncer de mama é o tipo mais incidente de tumor entre mulheres no Brasil (tirando o câncer de pele, mais comum). O Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê 73 610 novos casos da doença até o fim de 2023.

    O drama é o mesmo pelo mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o câncer de mama ultrapassou o de pulmão em 2021 e se tornou o tipo da doença mais frequente no planeta. De novo: os tumores de pele, que são mais frequentes e benignos, não entram nessa conta.

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    Em 2020, foram registrados mais de 2 milhões de casos, ou 11,7% do total. Um estudo mais recente prevê que, até 2040, a incidência anual de câncer de mama aumentará 40% (serão mais de 3 milhões de novos casos) e ocorrerão mais 50% de mortes (cerca de 1 milhão). O estudo foi publicado na revista The Breast.

    A prevenção

    Hábitos de vida saudáveis pautam a prevenção de muitas doenças, e não é diferente com o câncer de mama.

    “Cerca de 10% da população pode ter genes que aumentam o risco de desenvolver o tumor, mas o estilo de vida conta mais do que essa herança familiar”, afirma Freitas-Junior.

    Para ter ideia, manter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos ajudam a reduzir o risco em 25%, segundo o médico.

    Ainda é fundamental cuidar do peso corporal e evitar cigarro e bebidas alcoólicas.

    + Leia também: Candidíase: tratamento, sintomas e prevenção

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