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O tratamento que reprograma suas próprias células contra o câncer

A técnica, considerada revolucionária, trouxe ótimos resultados contra leucemia — e já recebeu o aval de especialistas americanos

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 14 fev 2020, 18h26 - Publicado em 14 jul 2017, 17h14
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  • Não é um novo remédio contra o câncer. Também não é uma cirurgia, nem um aparelho de última geração. Na verdade, a terapia batizada de CAR-T Cells é um pouco de tudo isso — e promete chacoalhar a Oncologia.

    Esta semana, um comitê do Food and Drug Administration (FDA), o órgão que regula os remédios nos Estados Unidos, votou por unanimidade a favor da aprovação dessa técnica contra um tipo de leucemia — a aguda linfoblástica. “A recomendação nos deixa mais próximos de oferecer a primeira terapia à base de CAR-T Cells para os pacientes”, nota Bruno Strigini, CEO da Novartis Oncology, em um comunicado.

    Mas do que estamos falando no fim das contas? Em resumo, as CAR-T Cells são células de defesa extraídas do seu próprio corpo e moldadas em laboratório para se tornarem mais agressivas contra a enfermidade. Sim, o remédio sai de você mesmo!

    Veja: entre outras coisas, um câncer qualquer consegue se desenvolver porque nossas células imunológicas normais não o reconhecem como inimigo. Daí a sacada de cientistas da Universidade da Pensilvânia (EUA): que tal acrescentar um receptor específico para uma molécula presente no tumor nessas tropas de defesa? A partir dessa re-engenharia, os soldados do nosso exército passariam a se ligar ao oponente e o atacar.

    Após superar os desafios tecnológicos da proposta, começaram as pesquisas. Os especialistas tiravam linfócitos T (um tipo de célula de defesa) de voluntários com câncer, tratavam-nos em laboratório, reinfundiam-nos… e esperavam. A grata surpresa: esse tratamento altamente personalizado chegou a alcançar 90% de resposta entre os pacientes.

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    Atualmente, as CAR-T Cells foram mais estudadas contra leucemias, o que justifica aquela recomendação americana para aprová-las. Aliás, vale lembrar que a leucemia aguda linfoblástica representa 25% de todos os cânceres em crianças e jovens com menos de 15 anos — a nova terapia seria utilizada em um primeiro momento nos casos em que outras estratégias falharam. “Ao tratar crianças com esse tipo de leucemia refratária, sabemos que elas precisam urgentemente de abordagens diferentes. O painel da FDA deu um passo positivo nesse sentido”, contextualiza o médico Stephan Grupp, da Universidade da Pensilvânia, em comunicado.

    Potencial inexplorado

    As CAR-T Cells que devem ser aprovadas ainda este ano têm a patente da Novartis. Elas recebem um receptor específico, batizado de CTL019, bastante útil para marcar células de sangue acometidas pela leucemia.

    Mas… nada impede que outros receptores, voltados para outros tumores, sejam inseridos nas nossas unidades de defesa. Ou que se crie um banco de células modificadas em laboratório que dispense a necessidade de tirar as suas durante o tratamento. Na realidade, algumas farmacêuticas já estão correndo atrás disso — em breve, deveremos ter novidades.

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    Em tese, portanto, as CAR-T Cells podem marcar o início de uma nova era de tratamento personalizado contra diversos tumores. Mas os obstáculos para isso não são pequenos.

    Os desafios a seguir

    Antes de tudo, os profissionais terão de manejar melhor as reações adversas. Nos primeiros testes, eles foram consideráveis em determinadas situações. Isso já está melhorando, contudo é importante ressaltar que, se o tratamento não for tolerado, de pouco adianta ser efetivo.

    Acima disso, serão necessários muitos outros estudos para checar a viabilidade de inserir receptores diversos nas CAR-T Cells e a eficiência disso em cada tipo de câncer. Nesse sentido, reforçamos sempre que cada versão dessa doença possui particularidades que podem fazê-lo mais ou menos resistente a esse tratamento.

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    E tem mais: essa reprogramação celular vai exigir toda uma estrutura que ainda não existe. Ou seja, laboratórios para receberem essas células e torná-las, digamos, superpoderosas.

    Será que cada hospital terá um centro desses? Ou apenas unidades de referência? Ou, ainda, isso ficará nas mãos das farmacêuticas? Questões como essas terão de ser debatidas em conjunto por hospitais, governos, indústrias e profissionais de saúde. A Novartis, por exemplo, conta até o momento com um único centro desses nos Estados Unidos.

    A boa nova é que, segundo as pesquisas mais recentes, o processo de pegar a célula, colocá-la num veículo específico, levá-la a um centro e, depois, devolvê-la ao paciente não abalou sua efetividade. No entanto, o próprio custo da operação pode dificultar a viabilidade em grande escala. Teremos de aguardar os próximos capítulos para ver até onde esse tratamento a princípio revolucionário vai nos levar.

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