Um em cada quatro brasileiros sofrem com a pressão alta. Mas nem sempre ela é causada pela alimentação desequilibrada ou pela falta de atividade física. Às vezes, essa condição surge somente no consultório médico, no momento do exame. Nesses casos, estamos diante de um quadro conhecido como hipertensão do jaleco branco.
“Isso acontece porque o paciente fica submetido a um alto nível de estresse quando está em contato com o profissional de saúde, o que aumenta sua pressão arterial”, justifica a farmacêutica Jéssica Nunes Moreno, do Instituto Brandão de Reabilitação, em Vitória da Conquista (BA).
Estima-se que esse problema atinja até 20% da população em geral. Não temos dados específicos da prevalência no nosso país, mas um estudo conduzido pela farmacêutica na cidade baiana mostrou um número similar ao encontrado em outras nações. A pesquisa de Jéssica fez parte de sua dissertação de mestrado em Saúde Coletiva, realizado na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
De novembro de 2018 a fevereiro de 2019, 134 pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Vitória da Conquista tiveram suas pressões monitoradas fora do ambiente clínico por meio de equipamentos modernos, que não são os utilizados na rede pública.
Durante as triagens feitas nos postos de saúde, todos apresentavam alguma alteração nos números — o ideal é ficar sempre abaixo de 12 por 8 (ou 120 por 80 mmHg). Porém, após os quatro meses de investigação, a autora constatou que 19,4% dos participantes tinham a tal hipertensão do jaleco branco.
Dá pra diferenciar no momento do diagnóstico?
Mas como é que o médico vai saber quando é um caso ou outro? A suspeita de hipertensão do jaleco branco aparece quando não há histórico de pressão nas alturas em outros ambientes ou contextos — os números ficam dentro dos limites, por exemplo, se a medida é feita em casa, com o sujeito mais relaxado.
Para evitar qualquer confusão, o cardiologista lança mão da monitorização ambulatorial de pressão arterial, teste conhecido pela sigla Mapa. Esse exame é feito com um pequeno aparelho digital ligado a uma braçadeira. O paciente o leva para seu domicílio e deve deixá-lo preso ao braço por 24 horas seguidas, fazendo todas as suas atividades do dia normalmente — exceto tomar banho, já que o dispositivo não funciona debaixo d’água.
“A cada 20 minutos, o Mapa mede a pressão por conta própria. À noite, ele demora um pouco mais, vai de meia em meia hora”, explica Jéssica. Junto com a máquina, o indivíduo recebe uma ficha, na qual deve registrar os principais eventos que ocorrerem ao longo do dia. “Se ele sai para trabalhar às 8 horas da manhã e, no caminho, discute com alguém, ele precisa anotar todas essas informações junto com o horário em que aconteceram”, exemplifica a farmacêutica.
Ao fim das 24 horas, o paciente volta à unidade de saúde e devolve o aparelho com todas as anotações. O cardiologista então lerá o laudo para chegar a um resultado. Essa avaliação é muito importante para evitar diagnóstico incorreto de pressão alta. “Quando se detecta a hipertensão do jaleco branco, não há necessidade de tratamento medicamentoso”, aponta Jéssica.
Nesse caso, o paciente deve fazer um acompanhamento periódico, realizando medições dentro e fora do consultório médico. Se o estilo de vida dele não for equilibrado, também será necessário ajustar isso (melhorar a alimentação, se exercitar, abandonar o cigarro). Dessa maneira, é possível prevenir um quadro real de hipertensão.
Agora, imagina o que acontece quando a condição é confundida com uma doença de verdade: a situação vira uma verdadeira bola de neve. O paciente começa a tomar um remédio, mas a pressão segue alta apenas no consultório. O cardiologista pode acreditar que o medicamento não está funcionando e trocar por algum mais potente ou aumentar a dose. E assim vai…
Por isso, sempre relate ao profissional de saúde todas as informações sobre seu estilo de vida e histórico familiar. Assim, você contribui para que não ocorram confusões e sejam iniciados tratamentos desnecessários.