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O diabete vai quebrar o Brasil

Médico discute o impacto da doença e de suas complicações na sociedade e nas finanças do país. O cenário é preocupante

Por Dr. Carlos Eduardo Barra Couri*
Atualizado em 27 mar 2017, 19h10 - Publicado em 24 nov 2016, 16h26
 (Ilustração: Ana Matsusaki/)
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Por Dr. Carlos Eduardo Barra Couri*

Aviso aos tripulantes: o diabete vai afundar o Brasil se nada for feito! Falamos de uma doença silenciosa, mas silencioso também é o rombo que ele é capaz de provocar em nossa saúde financeira.

E como o diabete é um problema caro!

Está em questão a principal causa de cegueira, insuficiência renal e amputações de pernas no país. Além disso, estamos diante de um fator que contribui, direta e indiretamente, para a ocorrência de infarto, derrame cerebral, impotência sexual e diversos tipos de câncer. Em outras palavras, mesmo quando o problema não está no centro dos holofotes, permanece nas sombras predispondo a outras complicações. É por isso que, em muitas enquetes por aí, as pessoas em geral não enxergam o diabete como uma doença potencialmente letal. E talvez não deem a devida importância que merece — nessas pesquisas, males como câncer, aids, acidentes automobilísticos e violência urbana são sempre mais lembrados.

Esse cenário, no entanto, tem mudado nos últimos anos, quando o diabete passou a figurar também no terrível ranking das doenças com maior taxa de mortalidade no Brasil. Segundo o SUS (Sistema Único de Saúde), a mortalidade pela enfermidade aumentou mais de 80% de 1990 a 2004, ao passo que houve queda no número de mortes por problemas cardiovasculares no mesmo período.

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Em todo o planeta, em 2015, morreu uma pessoa por causa do diabete a cada 6 segundos. O número desses óbitos em 2015 foi mais de duas vezes maior que o número de mortes por aids e tuberculose em conjunto.

E você acha que as coisas tendem a melhorar? O Brasil atualmente é o quarto colocado mundial no ranking de casos de diabete, com 15% (14,3 milhões) da sua população adulta com a doença — estamos subindo de posição nas últimas décadas. Quando falamos de diabete tipo 1, que acomete mais crianças e jovens, somos o terceiro colocado mundial com 30 900 casos em 2015. A perspectiva da Federação Internacional de Diabete (IDF) é que tenhamos em 2040 cerca de 23,3 milhões de cidadãos diabéticos, a grande maioria com o tipo 2 do distúrbio.

Mas você deve estar se perguntando: por que, apesar dessa ameaça, o IBGE nos presenteia, ano após ano, com a notícia de que cresce a expectativa de vida da nossa população? O que muitas vezes não enfatizamos é que temos aumentado o número de anos vividos sim, mas à custa de anos vividos com doenças. Sim, vive-se mais, mas também vive-se mais doente. É aí que deparamos com o custo no tratamento do diabete e das doenças crônicas e complicações a ele associadas.

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Precisamos viver muito e, de preferência, melhor! Isso é positivo para nossa saúde física, mental e também para o nosso bolso e para os cofres do país. Até porque quando ficamos mais velhos nossos rendimentos tendem a cair substancialmente. Nos países mais pobres (como o nosso), os custos do tratamento do diabete e suas complicações são bancados na sua maior parte pelo próprio paciente. Na América Latina, cerca de 60% dos gastos com diabete são pagos pela família e o restante pelo Estado. E, infelizmente, a maior parte do gasto é destinada a remediar os reveses impostos pela doença (danos aos rins, aos olhos, ao coração…) e não com prevenção. O desembolso com sequelas é sempre mais caro. E é por isso que insistimos que os países devem ter uma política mais clara, objetiva e eficaz na prevenção e no controle do diabete. Do contrário, o diabete, e os males que andam de mãos dadas com ele, vai quebrar as nações.

Pasmem, mas o Brasil gastou em 2015 cerca de 72 bilhões de reais com o diabete. Isso representa 1,3% do PIB de 2015. Em 2040, estima-se que desembolsaremos cerca de 117 bilhões com a doença. Só para ter uma base de comparação, os Estados Unidos atualmente já gastam cerca de 1 trilhão de reais anuais com diabete.

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O desafio ganha contornos ainda maiores e dramáticos com algumas perspectivas futuras nada favoráveis:

• A epidemia de diabete vem em paralelo à epidemia de obesidade, que também só aumenta.

• O número de brasileiros com pré-diabete, situação que precede o descompasso propriamente dito, se encontra hoje em 11 milhões.

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• No Brasil, cerca de 50% das pessoas com diabete nem sabe ser portadora da doença que, ressalto, é silenciosa. Certamente nosso sistema de saúde não conseguiria absorver todos esses “novos” pacientes.

O aviso está dado. As ações dependem de todos nós: médicos, cidadãos, Estado, sociedade civil. O diabete vai quebrar o Brasil se nada mudar desde já.

*Dr. Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e autor do livro “O Futuro do Diabete”, (Editora Abril).

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