Número de mamografias realizadas pelo SUS é o menor dos últimos cinco anos
Segundo um estudo, só 24,1% das mulheres que deveriam realizar esse exame de fato se submeteram a ele. O que estaria acontecendo no Brasil?
O exame mais comum para detectar o câncer de mama está sendo pouco empregado no nosso país. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia revela que, entre as 11,5 milhões de mamografias que deveriam ser em 2017, apenas 2,7 milhões de fato foram realizadas (ou 24,1%).
Como os cientistas chegaram ao total de exames esperados em 2017? Eles primeiro somaram o número de mulheres entre 50 e 69 anos, faixa etária em que o Instituto Nacional de Câncer (Inca) preconiza a utilização da mamografia. Aí o dividiram por dois, uma vez que o rastreamento para essa população deve ser feito a cada dois anos de acordo com as diretrizes do nosso país. Os experts ainda incluíram na conta uma estimativa de brasileiras que deveriam repetir o teste por terem sido anteriormente diagnosticadas com alguma alteração.
Feito isso, bastou buscar a quantidade de mamografias realizadas pelo SUS para concluir que elas representaram apenas 24,1% do total esperado. Esse é o menor índice dos últimos cinco anos e está bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“A dificuldade para agendar e realizar a mamografia ainda é o principal motivo para o baixo número de exames”, afirma o mastologista Ruffo de Freitas Junior, coordenador do estudo, em comunicado à imprensa. “Isso, claro, além da triste realidade encontrada em hospitais com equipamentos quebrados e falta de técnicos qualificados para operá-los”, arremata.
Segundo o presidente da SBM, Antônio Frasson, houve um sucateamento do sistema público em relação ao diagnóstico precoce de câncer de mama. Veja: o mesmo estudo mostra que o governo federal investiu apenas 122,8 milhões de reais dos 510,7 milhões previstos para atender ao número adequado de mulheres.
Frasson explica que esse obstáculo do acesso não se restringe aos exames de rastreamento, mas também ao próprio tratamento, o que desmotiva as pessoas. “A dificuldade que as pacientes enfrentam para serem tratadas no sistema público é muito grande. E eu imagino que não seja algo específico do câncer de mama”, opina.
Segundo ele, é importante cobrar o governo por melhorias. “Não apenas a SBM, mas a sociedade no geral deve pressionar através de grupos de voluntariado e ONGs para que o acesso aos exames aconteça naturalmente, e não com tanta dificuldade”, alerta.
A pesquisa – e o câncer de mama no Brasil
Como os dados que sustentam esse trabalho foram extraídos do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) do DATASUS, os exames feitos pela rede privada ficaram de fora. É possível, portanto, que o cenário seja um pouco menos dramático do que o pintado por esse levantamento.
De qualquer jeito, a pesquisa em questão calculou inclusive as piores regiões do Brasil quando o assunto é realizar mamografias. São elas: Rondônia, Distrito Federal e Amapá.
Esperava-se que 76,9 mil mulheres em Rondônia se submetessem a esse exame. Entretanto, foram registradas somente 5,7 mil (7,4%) em 2017. No Distrito Federal, foram apenas 5 mil exames (3,1%), ante um potencial total de 158,7 mil. O Amapá, por sua vez, contabilizou 260 mamografias no SUS (1,1%) – o ideal seria ficar na casa dos 24 mil.
O câncer de mama é o segundo tipo de tumor maligno mais comum entre as mulheres no Brasil e no planeta, ficando só atrás do de pele. De acordo com o Inca, ele responde por cerca de 28% dos casos novos todo ano.
O presidente da SBM reforça que valorizar o diagnóstico precoce torna o tratamento mais eficaz e barato. “Existe uma relação direta entre chance de cura e tamanho de tumor”, afirma.
Mais: ele conta que o tamanho médio dos cânceres de mama rastreados pelos médicos na rede privada é menor que o encontrado na rede pública de saúde. “Isso indica que, quando as pessoas têm melhor acesso, os tumores são menores e a chance de cura é maior”.
A falta de informação
Além da dificuldade de acesso, o medo do tratamento e a dor causada pela compressão das mamas durante o exame são motivos que afastam as mulheres da mamografia. Para Frasson, esses problemas se resolvem com informação.
Até porque há boas notícias: hoje em dia o tratamento contra o câncer é altamente personalizado – e envolve menos reações adversas do que antes. Fora isso, a cirurgia de reconstrução dos seios já está disponível nos hospitais públicos.
Quanto aos incômodos do exame, não dá pra negar que eles existem. Acontece que a compressão garante muito mais nitidez ao resultado. É uma dor que passa e que pode evitar um problemão mais pra frente.