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Miocardite e vacinas da Pfizer e da Moderna: entenda a relação

Casos leves de inflamação cardíaca ocorreram em jovens e são considerados evento adverso “extremamente raro” dos imunizantes à base de RNA mensageiro

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 6 jul 2021, 14h48 - Publicado em 5 jul 2021, 12h39
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  • Miocardite e pericardite, duas inflamações cardíacas, podem ser eventos adversos “extremamente raros” das vacinas da Pfizer e da Moderna contra o coronavírus. Estudos recém-publicados avaliaram relatos e concluíram que a relação é provável, mas não há motivo para preocupação. 

    Juntos, os dois trabalhos divulgados no periódico JAMA Cardiology reúnem 30 casos. Os acometidos são, em sua maioria, homens e jovens. Eles apresentaram dores fortes no peito alguns dias depois da vacinação (geralmente na segunda dose). Todos já se recuperaram ou estão em vias de encerrar seus tratamentos. 

    Os achados foram comentados por cientistas do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos na mesma publicação. A conclusão foi que “as semelhanças na evolução da doença e a falta de outras justificativas para a miocardite aguda sugerem que ela pode ter relação com as vacinas de RNA mensageiro”

    A entidade segue recomendando fortemente esse tipo de vacina, assim como as demais autoridades médicas do país, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA). No entendimento de todos, o risco é ínfimo se comparado ao benefício das doses. 

    Fora os casos analisados nas pesquisas, até agora, 777 ocorrências foram confirmadas por Israel, Estados Unidos e União Europeia, num universo de 361 milhões de vacinados com estas doses. 

    Miocardite e pericardite: sintomas e tratamento 

    Elas são inflamações parecidas, que podem acontecer juntas ou separadas. “Uma acomete o músculo cardíaco, outra o pericárdio, membrana que reveste o órgão”, explica Jasvan Leite, cardiologista do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. 

    Geralmente, elas aparecem na esteira da resposta do sistema imunológico a um agente agressor, como uma infecção viral ou bacteriana, ou mesmo doenças autoimunes e tumores. Mas os quadros são tão brandos que costumam até passar despercebidos. 

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    “Até 95% dos casos são absolutamente leves e acabam se resolvendo de maneira espontânea, então nem chegam a ser diagnosticados”, comenta Alexandre Soeiro, cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

    Complicações raras das miocardites envolvem arritmias e insuficiências cardíacas, mas há tratamento para elas. Quando incomodam, os sinais são dor forte no peito, falta de ar ou alterações no ritmo cardíaco. Ao notá-los, é preciso procurar atendimento médico. 

    Por que a vacina de RNA causaria miocardite? 

    É isso que os cientistas estão investigando. “Uma das teorias é a de que ocorra uma reação ao RNA presente na vacina ou à membrana lipídica que o envolve”, explica o infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm)

    Explicamos. As vacinas de RNA mensageiro são feitas de cópias artificiais de um trecho do material genético do vírus. Como se trata de um material muito delicado, as moléculas são embaladas numa capinha de gordura, que consegue chegar intacta dentro das células humanas. 

    Esse é um processo desenvolvido há décadas, que foi testado em dezenas de milhares de voluntários antes de chegar aos braços da população em geral. Mas eventos adversos mais raros, como esse, só aparecem mesmo depois de milhões e milhões de indivíduos serem imunizados. É para isso que serve a vigilância pós-vacina

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    Ah, e vale dizer que não é a primeira vez que miocardites são notadas depois de vacinas. “Há casos descritos com as fórmulas contra a gripe e um tipo de meningite, mas não temos estudos que calculem esse risco e estudem relações de causa e efeito”, destaca Kfouri. 

    Reações inflamatórias podem ocorrer depois de tomar um imunizante, justamente por que seu objetivo é despertar as defesas do corpo. “É uma das causas da mialgia que podemos ter depois de receber qualquer vacina. Nada impede que a inflamação chegue ao coração ou outro órgão, mas é absolutamente raro e incomum que isso aconteça”, reforça Soeiro. 

    Por que jovens e adolescentes? 

    A maioria dos acometidos eram jovens do sexo masculino, com idades entre 16 e 30 anos, com quadros leves — alguns sequer exigiram tratamento médico, apenas acompanhamento. Em situações normais, esse é mais ou menos o público-alvo acometido pela miopericardite (nome do conjunto de doenças).

    “Vemos de forma um pouco mais prevalente no sexo masculino e em pacientes mais jovens, dos 20 aos 40 anos, acometidos por infecções virais ou bacterianas. Mas ainda não temos registros suficientes para dizer se esse é realmente o público mais suscetível nesta situação”, destaca Soeiro. 

    Entre as teorias para explicar a tendência, um sistema imune mais preservado no jovem, que responderia de maneira mais robusta ao estímulo dado pela vacina. “Outra possibilidade é a de que mulheres teriam um efeito hormonal protetor, daí a incidência maior em homens”, complementa Kfouri. 

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    Por fim, uma hipótese levantada pelos cientistas do CDC no artigo do JAMA é a de que contatos anteriores com o coronavírus poderiam elevar o risco, pelo próprio efeito da Covid-19 no coração.

    “Alguns dos eventos ocorreram em indivíduos que já haviam sido infectados, e sabemos que a doença pode comprometer o funcionamento cardíaco e deixar lesões no órgão semelhantes às da miocardite”, diz o texto. Mas é cedo para fazer qualquer afirmação nessa linha. 

    Miocardite em outros países 

    Nos Estados Unidos, 177 milhões de pessoas receberam uma das duas vacinas de RNA mensageiro, e 518 casos de miocardite foram confirmados entre elas. 

    Na Europa, foram 138 casos entre 179 milhões imunizados. Em Israel, mais 121 registros entre 5 milhões de vacinados, sugerindo uma incidência de 24 por milhão. Para ter ideia, a taxa normal de miocardite na Europa varia de 1 a 10 em cada 100 000 pessoas. 

    Moral da história 

    Em meio a tantos vacinados e tão poucos relatos de uma reação adversa rara (e que não parece ser perigosa), a recomendação é não deixar de tomar nenhum dos imunizantes aprovados. Mesmo com a pressa para a liberação, todos foram testados com rigor e estão sendo acompanhados de perto, para flagrar cedo os eventuais efeitos colaterais.

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    Autoridades médicas de diversas sociedades dos Estados Unidos se uniram ao CDC e ao governo do país para lançar um posicionamento onde reforçam a confiança nas doses da Pfizer e da Moderna. 

    Os autores reforçam ainda que a Covid-19 em si também é associada à miopericardite, com casos bem mais severos e ameaçadores do que os notados com as vacinas. 

    Em nota, a Pfizer afirma que está ciente dos relatos raros, predominantemente em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino. A fabricante reafirma que só um número muito pequeno de pessoas terá algo do tipo, e que geralmente elas melhoram rapidamente com o tratamento normal. 

    E vale um adendo: o mal súbito sofrido pelo jogador de futebol Christian Eriksen, da seleção da Dinamarca, não tem nada a ver com os imunizantes contra o coronavírus. Fake news circularam sobre o assunto, mas a direção do Inter de Milão, onde o meia atua, confirmou que ele não recebeu nenhuma vacina

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