HPV: o vírus que pode levar a múltiplos tipos de câncer
Considerada comum, a infecção pode evoluir para diversos tipos de câncer em homens e mulheres. Vacinação é crucial para reduzir contaminação
A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é considerada comum na população brasileira, principalmente entre os jovens sexualmente ativos. Estima-se que ao menos oito em cada dez pessoas sexualmente ativas terão HPV ao longo da vida.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), para o ano de 2023 foram estimados 17 010 casos novos de câncer de colo de útero, considerado o terceiro tumor mais frequente na população feminina. A infecção por HPV também está relacionada a outros tipos de câncer, como de pênis, vulva, vagina, canal anal e orofaringe – este último com números que vêm crescendo exponencialmente, com prevalência cinco vezes maior no sexo masculino.
Alerta para riscos de câncer
Dados divulgados pelo Inca mostram que, anualmente, são registrados mais de 30 000 novos casos de tumores do sistema reprodutivo no país, atingindo homens e mulheres de diferentes idades. Grande parte deles está associada à infecção persistente pelo HPV – que apresenta mais de 200 subtipos, classificados entre baixo risco e alto risco para desenvolvimento de câncer.
Os tipos 16 e 18 são responsáveis pela maioria dos casos de câncer de colo de útero em todo o mundo, com cerca de 70% de incidência. O HPV também está associado a até 90% dos casos de câncer anal, 75% dos casos de câncer vaginal e até 70% dos casos de câncer vulvar.
Por outro lado, os tipos 6 e 11 do HPV, que são causadores da maioria das verrugas genitais e papilomas laríngeos, não oferecem alto risco de progressão para malignidade. Na maioria dos casos, o vírus não causa sintomas, além de ser eliminado pelo organismo espontaneamente.
“Estamos falando de um vírus que é ‘silencioso’, pois pode demorar anos para manifestar sintomas, assim como a infecção, que pode levar um longo tempo até ser detectada, devido à demora do aparecimento de possíveis sintomas”, comenta a dra. Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil.
Incidência por região
De acordo com o estudo epidemiológico POP-Brasil, produzido pelo Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o Ministério da Saúde, a prevalência de HPV geral foi de 53,6% (presença de pelo menos um dos tipos de HPV analisado). A pesquisa colheu 6 388 amostras válidas.
Os dados ainda mostram que a prevalência do HPV é maior na Região Nordeste, com 58,09%, e na Região Centro-Oeste, com 56,46%. Na Região Norte, o índice é de 53,54%; na Região Sudeste, 49,92%; e na Região Sul, 49,68%.
Prevenção é a chave para barrar contaminação
A imunização é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como elemento-chave da estratégia global para reduzir os casos de câncer de colo de útero associados ao HPV. No entanto, apesar de as vacinas quadrivalente e nonavalente estarem amplamente disponíveis em todo o país, na rede pública e privada respectivamente, a cobertura vacinal para o HPV no país está abaixo do necessário para reduzir de maneira eficaz o impacto dos cânceres de colo de útero, ânus, pênis, vulva, vagina e orofaringe, das verrugas genitais e de outras doenças associadas ao HPV.
A OMS recomenda abordagem multidisciplinar para a prevenção e controle desses tipos de câncer, que consiste em vacinação, educação sexual, detecção precoce e tratamento. Infelizmente, já no primeiro passo existem inúmeras barreiras para a conscientização, já que o HPV ainda é cercado de mitos e desinformação, especialmente no que diz respeito à imunização e à manifestação do vírus no público masculino – visto que, por muito tempo, o HPV foi considerado uma “doença feminina”, dada sua relação com o câncer de colo de útero.
É fundamental esclarecer que a infecção por HPV afeta homens e mulheres em proporção semelhante e se dá da mesma forma, que é o contato íntimo com um parceiro ou parceira infectado – e, como em muitos casos o HPV não apresenta sintomas, isso pode acontecer com qualquer pessoa. Vacinação e uso de preservativos são aliados importantes no combate à disseminação do vírus.
“A conscientização é o primeiro passo para mudanças efetivas. Temos que falar abertamente sobre o HPV, acabar com os tabus em torno do vírus. Assim, falar sobre prevenção será cada vez mais fácil – e, consequentemente, evitar que ele evolua para um câncer será cada vez mais raro”, completa a dra. Marcia Abadi.
Para saber mais sobre o tema, acesse: www.podeacontecer.com.br.
Referências
- Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Controle do Câncer do Colo de Útero – Incidência. Disponível em:
www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-e-numeros/incidencia. Acesso em: 15 jun 2023.
2. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Guia Prático sobre o HPV. Disponível em: www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/guia-pratico-hpv-2013.pdf. Acesso em: 15 jun 2023.
3. Instituto Nacional de Câncer (INCA). HPV. Disponível em: www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/hpv. Acesso em: 15 jun 2023.
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