Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super Black Friday: Assine a partir de 5,99

Fibrose cística: do passado de incertezas ao presente de avanços

No Dia Internacional da Fibrose Cística, entenda como novas tecnologias e abordagens estão mudando a história da doença

Por Paulo Victor Zattar Ribeiro, médico geneticista* e Muitos Somos Raros**
8 set 2025, 18h20
pulmao-fibrose-cistica
Pulmão é um dos órgãos mais afetados pela fibrose cística  (Freepik/Reprodução)
Continua após publicidade

A fibrose cística, também chamada de mucoviscidose ou doença do beijo salgado – em alusão ao gosto salgado percebido na pele de crianças afetadas –, já foi considerada uma sentença de vida curta.

Antes do advento de terapias específicas, a maioria dos pacientes não chegava à vida adulta. Hoje, a realidade é outra: a ciência e as políticas públicas vêm transformando a história da doença, garantindo mais sobrevida e qualidade de vida.

Quando a ficção ajuda a dar visibilidade

O tema ganhou projeção internacional em 2019 com o filme A Cinco Passos de Você (Five Feet Apart), que retrata a rotina de jovens com fibrose cística. A produção trouxe à tona o impacto físico e emocional da doença, além da importância de medidas de prevenção contra infecções entre pacientes.

Para além da ficção, ajudou a dar rosto e voz a milhares de pessoas que convivem diariamente com esse diagnóstico.

A história da ciência: do suor ao DNA

Até poucas décadas atrás, o diagnóstico era feito apenas pelos sinais clínicos, como infecções pulmonares de repetição e dificuldade para ganhar peso. Em 1959, o teste do suor consolidou-se como exame confirmatório. Nos anos 1980, a descoberta do gene CFTR e de seu envolvimento na doença abriu caminho para a chamada medicina de precisão, permitindo entender a base molecular da doença.

Outro marco foi a inclusão da fibrose cística no teste do pezinho. No Brasil, ela passou a integrar o Programa Nacional de Triagem Neonatal em 2014.

Continua após a publicidade

Isso possibilita o diagnóstico nos primeiros dias de vida, antes dos sintomas mais graves, o que impacta diretamente a sobrevida. No entanto, em algumas regiões do país, ainda há dificuldade em acessar tanto o teste do suor quanto os exames genéticos confirmatórios. Esse atraso pode comprometer o início precoce do tratamento específico.

Do tratamento sintomático às terapias de precisão

Durante décadas, o cuidado foi baseado em fisioterapia respiratória, antibióticos e reposição de enzimas pancreáticas. Esses recursos ainda são fundamentais, mas não alteram a causa genética da doença. A grande revolução veio com os moduladores de CFTR.

O ivacaftor (Kalydeco) foi o primeiro dessa classe. Desde 2022, está disponível no SUS para pacientes a partir de 6 anos de idade e com mais de 25 quilos, portadores de mutações do tipo gating – alterações genéticas que impedem a proteína CFTR, responsável pelo transporte de cloreto e água nas células, de abrir corretamente a sua comporta, resultando no desequilíbrio fisiológico, acumulando muco nos pulmões e outros órgãos.

Estudos mostram melhora significativa da função pulmonar, redução de hospitalizações e aumento da sobrevida.

Continua após a publicidade

Mais recentemente, a combinação tripla elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor (Trikafta) foi incorporada ao SUS em 2024. O tratamento é destinado a pacientes com pelo menos uma cópia da mutação F508del, a mais comum no Brasil e no mundo. Isso representa um divisor de águas, já que amplia o número de beneficiados e impacta diretamente a qualidade de vida.

+Leia também: Novo medicamento muda a vida de pessoas com fibrose cística; falta acesso

O papel do aconselhamento genético

Por ser uma doença autossômica recessiva, é necessário herdar duas cópias alteradas do gene CFTR para manifestar a fibrose cística. Quando ambos os pais são portadores da condição, o risco de recorrência em cada gestação é de 25%.

O aconselhamento genético é essencial para orientar famílias sobre esse risco, discutir opções de planejamento reprodutivo e reforçar a importância de testar irmãos e outros parentes em risco. Ainda assim, em muitas regiões do país, há dificuldade de acesso a esse serviço especializado, o que torna a conscientização social ainda mais urgente.

Um futuro promissor

Com as novas terapias, crianças que antes não tinham perspectiva de envelhecer podem agora planejar o futuro. A ciência também avança rumo à terapia gênica e à edição de DNA, que buscam corrigir definitivamente as variantes patogênicas do gene CFTR.

Continua após a publicidade

No Dia Internacional da Fibrose Cística, é preciso reforçar que:

  • O diagnóstico precoce via Teste do Pezinho salva vidas;
  • A ampliação do acesso a terapias de ponta no SUS representa um divisor de águas;
  • O aconselhamento genético é ferramenta essencial para o cuidado preventivo;
  • A conscientização social, apoiada por filmes, campanhas e mobilização de associações, é tão importante quanto os avanços da ciência.

Por Paulo Victor Zattar Ribeiro, médico geneticista, e Muitos Somos Raros

Esse conteúdo faz parte da parceria entre VEJA SAÚDE e Muitos Somos Raros

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

Sua saúde merece prioridade!
Com a Veja Saúde Digital , você tem acesso imediato a pesquisas, dicas práticas, prevenção e novidades da medicina — direto no celular, tablet ou computador.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.