O diagnóstico de apneia do sono era apenas possível após um exame que dependia de o paciente dormir no hospital ou clínica para ter seu comportamento noturno monitorado. Uma nova tecnologia agora possibilita que essa análise seja feita em casa e pelo próprio paciente.
A apneia do sono é caracterizada por ruídos e interrupções na respiração que se repetem, no mínimo, cinco vezes num período de 60 minutos. Ela aumenta o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, a exemplo de arritmias, infarto e AVC.
A novidade pode tirar da escuridão um alto número de pessoas que sofrem do problema, já que uma porção de gente deixa de realizar o exame por sua complexidade. Com a pandemia, a necessidade de isolamento colocou mais um obstáculo para o diagnóstico.
No exame de polissonografia tradicional, o paciente passa a noite no local e tem todo o corpo conectado a diversos fios que fazem uma avaliação completa do sono – incluindo atividades respiratórias e neurológicas.
Na nova versão, validada pelo Laboratório do Sono do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor), é possível pegar um kit nessa instituição e levar para a casa. É utilizado apenas um oxímetro de alta resolução, que deve ser preso no dedo por um esparadrapo. Esse equipamento “conversa” com um aplicativo no celular, por meio de dados enviados via bluetooth. Toda a informação fica gravada na internet e disponível aos técnicos.
“O sistema mede a oxigenação, que é interrompida quando a respiração para, e também os batimentos cardíacos. O diagnóstico é feito na manhã seguinte pelo médico”, explica o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do InCor.
O Instituto do Sono, em São Paulo, já usava essa versão do procedimento em trabalhos de pesquisa, mas a demanda aumentou durante a pandemia. “Esse exame mais simplificado deve ser indicado pelo médico que vê suspeita de apneia, já que ele só monitora a parte respiratória”, informa o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono.
Há também a possibilidade de um técnico ir à casa do paciente para montar o exame de polissonografia mais completo. “Tem a vantagem de a pessoa dormir melhor em casa, mas há o risco de os fios caírem no meio da noite”, pondera Moreira.
As vantagens do novo método
Com a nova opção, é possível pulverizar o diagnóstico de apneia, sem depender dos institutos de sono, afirma o médico do InCor. “As pessoas deixam de fazer o exame por parecer uma via sacra ter que ir até um lugar para passar a noite. Hoje, existem cerca de 1 200 centros credenciados que realizam a análise”, completa.
Um levantamento feito pelo Instituto do Sono em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que 33% de 1 000 indivíduos que vivem em São Paulo sofriam de apneia e não sabiam. Estimou-se, ainda, que a possibilidade de ter apneia é de um para cada três adultos.
O problema é mais comum no sexo masculino, segundo Moreira. “Sabe-se que a apneia acomete 24% dos homens e 9% das mulheres no Brasil, números muito semelhantes ao do resto do mundo.”
Os sinais da apneia do sono
O principal sintoma da doença é o ronco. Mas nem sempre ele é sinal de apneia, que pode apresentar outros sintomas, como sono agitado, respiração ofegante, dificuldade de concentração e dor de cabeça.
Por isso, é tão difícil saber se o problema é exatamente a apneia. Só um exame detalhado pode dar essa certeza. “A parada na respiração, que é impressão digital da apneia, é revelada apenas nesse tipo de avaliação”, esclarece Lorenzi, do Incor.
O tratamento
Ele varia muito e é bastante personalizado. “Em crianças, há a possibilidade de tirar as amígdalas, mas, em adultos, o mais comum são tratamentos combinados”, afirma Moreira.
Controle de peso e mudanças de estilo de vida podem ser somados ao uso de aparelhos, como placas dentárias e o CPAP – sigla para pressão positiva contínua em vias aéreas. “A apneia acontece na garganta, e esse aparelho ajuda mantê-la desobstruída. Ele parece uma máscara de piloto de avião e joga pressão no nariz para repercutir na garganta. Pode soar como uma solução ruim, mas, para quem não consegue respirar, chega a ser um alívio.”
O Ministério da Saúde informa que todos os exames relacionados ao distúrbios do sono são realizados pelo SUS em ambulatórios específicos, mas não há, ainda, o oferecimento do atendimento domicilar. O paciente que necessita dos exames na rede SUS é encaminhado para os locais de referência, em todo o Brasil.