Desde o início da pandemia de coronavírus, pipocam pelo mundo relatos de lesões de pele associadas à Covid-19. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB), seis a cada 100 pessoas infectadas podem sofrer algum tipo de manifestação.
Agora, pesquisadoras da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, em São Paulo, se debruçaram sobre o tema para entender quais são os incômodos mais recorrentes. O trabalho foi publicado nos Anais Brasileiros da Dermatologia.
“De início, eram ocorrências muito isoladas, até que começaram a surgir séries de casos na Europa e nos Estados Unidos. Lemos inúmeros materiais e listamos cem pesquisas nesse trabalho”, conta Camila Seque, médica do departamento de dermatologia da Unifesp e uma das autoras do estudo.
“Percebemos que as lesões de pele não são tão frequentes nos infectados pela Covid e variam bastante entre si. Algumas delas, por se parecerem com manchas provocadas por outras doenças, como sarampo e dengue, podem confundir as pessoas, lembrando que sofremos surtos também dessas doenças”, avalia Camila.
O mais comum é que esses danos surjam junto a outros sintomas, como febre, tosse e falta de ar, e desapareçam conforme a doença vá melhorando. Mas há casos mais graves, que pedem a avaliação de um dermatologista.
As mais frequentes
Segundo a revisão publicada, as lesões mais comuns são os exantemas (ou rash cutâneo), caracterizados por manchas vermelhas, semelhantes às observadas no sarampo ou na rubéola. Elas podem coçar e descamar. A prevalência variou entre 9% a 47% dos casos nos estudos analisados, e são mais frequentes em adultos.
A urticária, caracterizada por lesões avermelhadas e elevadas, com vergões na pele, é a segunda mais frequente (9% a 30%) e a mais comum em adultos com quadros leves de Covid.
Também foi encontrado o chamado pseudo-eritema pérnio ou “dedos de covid”. Ele recebe esse apelido por deixar a ponta dos membros arroxeadas, como uma reação do corpo ao frio. Pode surgir nos pés, mãos, nariz ou orelha, e vir acompanhada de inchaço.
Esses relatos foram mais prevalentes em crianças e jovens com quadros leves, ou até assintomáticos da doença. Entre 18 e 75% do total de registros ocorreu nesse público, dependendo do estudo analisado.
A análise lembra que a queda de cabelo é outro problema dermatológico frequente nos pacientes de Covid e ainda aparece na lista da síndrome de pós-Covid. É que o dano capilar pode se manter por até três meses após a infecção e demandar um tratamento específico.
Por fim, as lesões que exigem mais cuidado mesmo são vasculares, relatadas em pessoas idosas, que foram internadas para tratar a infecção. “Esse é outro extremo de problemas, em que indivíduos chegam a perder a ponta dos dedos”, relata a dermatologista. Felizmente, o estudo apontou baixa prevalência baixa desses casos, variando de 4% a 9%.
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Por que a Covid pode causar lesões na pele?
Existem algumas explicações para a Covid afetar a pele. A primeira é que o tipo de molécula que serve de receptor para o Sars-Cov 2 está presente em diversos órgãos, inclusive na pele.
“Da corrente sanguínea, o vírus chega por esses receptores que existem na pele e também no pulmão, no rim e em outros órgãos-alvo“, esclarece Camila.
Há outro caminho também, quando a derme é atingida pelo próprio processo inflamatório que a Covid gera no organismo. Essa inflamação é o que deixa o organismo mais propenso à formação de trombos, que levam às lesões vasculares.
Como explicamos, é mais comum que essas queixas surjam com os sintomas mais clássicos da infecção. Mais raramente, contudo, uma lesão na pele pode também aparecer como primeiro sintoma da Covid-19 e também o único.
Nos estudos, as cientistas encontraram situações em que foi necessário fazer testes de PCR na pele, pois os exames com secreção nasal ou da orofaringe deram negativo para a doença.
O que fazer ao notar os sintomas
Para ajudar as pessoas a identificarem essas marcas, a SDB lançou um guia com mais detalhes sobre as mais comuns e recomenda que procurem auxílio médico ao se deparar com essas lesões.
Com a vacinação, os casos de Covid caíram e, com eles, os de lesões na pele. “Eles estão menos frequentes, mas ainda ocorrem”, pontua Camila. Portante, é importante permanecer atento a alterações naquele que é o maior órgão do corpo humano.